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Por Shawn
°•°Ignorar sua família quando ela mora no mesmo prédio em que você não é uma tarefa tão fácil. Meu celular tocava sem parar, chamadas de Aaliyah, Jennie e até mesmo Becca, todas pareciam desesperadas. Eu não queria ouvir ninguém. Não queria ouvir as desculpas, as demais mentiras, as explicações para todo o teatro que haviam feito com a minha vida. Eu estava sendo controlado, toda a minha vida estava sendo manipulada para que todas essas mentiras fizessem sentido, tudo para o que eles acharam que seria o certo continuasse vigorando. Eu tinha raiva. Tinha mais do que raiva, tinha vontade de ir embora, fugir para algum lugar onde ninguém me encontraria, fazer algo pela primeira vez onde eu não estaria sendo controlado. E mais uma vez eu estava suando.
-Merda.
Mumurrei em um tom alto ao ver as horas no celular e o joguei para o lado, me levantando do sofá pela primeira vez em horas. Tinha de tomar aquela merda de remédio. Enquanto caminhava até a cozinha, pude ouvir mais uma vez as batidas na porta do apartamento, a voz de Aaliyah me chamando pela milésima vez. Eu poderia responder, mandá-la embora, conversar com ela, mas chegava a ser prazeroso vê-la falando sozinha. E essa sensação me fazia lembrar do que Jennie havia dito em nossa última consulta.
"O ser humano é rancoroso,
Mendes. Somos uma espécie que
guarda mágoas, muitas vezes nos tornamos vingativos por isso."Não podia negar, eu com certeza tinha muita mágoa para guardar agora.
Quase que com raiva, desci o comprimido a seco pela garganta, apoiando as duas mãos no balcão enquanto engolia. Era ardente. Sentindo as fortes pontadas no estômago mais uma vez, abri a geladeira, tirando de lá a garrafa mais gelada de água que eu tinha. Me servi um copo e de uma vez bebi metade, sentindo que, no momento, aquilo havia sido suficiente para relaxar minha ânsia de vômito. Encarei mais uma vez a caixa de remédio. Era ecstasy, uma droga. Um comprimido tecnicamente não estava fazendo efeito, talvez eu precisasse de mais. Poderia falar com Jennie sobre aumentar a dosagem... Ou podia simplesmente tomar aquela decisão sozinho. Não que eu tivesse qualquer tipo de consciência para me automedicar. Mas, porra, só tinha eu ali. Só tinha eu ali.
Depois de tomar meu segundo comprimido, virei o resto do copo d'água e segui novamente para o sofá, me jogando no mesmo como se fosse um saco de legumes. Deitei a cabeça para trás, encarando o teto por um tempo, sentindo meu corpo ficar mais pesado a cada minuto. Em um momento, eu ri. Gargalhei do silêncio daquele apartamento tão pesado quanto eu. E eu estava pesado, pesado, pesado...Acordei. Alguém estava em casa. O som vinha do andar de cima, parecia que algo estava sendo arrastado. Me levantei, sentindo meu corpo o mais leve possível. Eu parecia flutuar enquanto seguia até as escadas. Peter passou por mim, tão pequeno que nem parecia ele, carregava seu brinquedo favorito na boca. E ao parar na porta do quarto, Camila estava arrastando a madeira clara da cama. Usava uma camisola branca e casaco de mesma cor, os cabelos castanhos presos em um coque alto. Ela pegou um martelo e bateu em um certo lugar, finalmente me encarando na porta enquanto ria.
-Bom dia, amor. - ela sorriu enquanto largava aquele martelo no lugar - Você dormiu direto ontem.
-O que você está fazendo?
Ela olhou a cama sem colchão.
-Consertando o que a gente quebrou. - ela riu mais uma vez, dessa vez escapando da armação da cama para me alcançar - Não podemos dormir no sofá para sempre. Não agora que nossa menina se acostumou com o quarto dela, hm?
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WAITING • shawmila
FanfictionAquele era para ser o dia perfeito. A igreja lotada, minha família inteira ao meu lado, meu coração acelerado como nunca antes e o céu perfeitamente azul. Mas em apenas um toque do celular, todo aquele cenário perfeito pelo qual eu havia esperado po...