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Eu estava sentado em uma cadeira azul frente à frente com o médico geral do caso de Camila. Devia fazer uma hora. Ele me explicou que haviam mais cortes do que imaginavam durante o acidente e que a cirurgia não havia sido feita apenas na região que me havia sido mencionada antes, mas também na cabeça. Seu lóbulo pré-frontal e também uma parte de seu hipocampo, que eram onde estavam as memórias de curto e longo prazo haviam sido atingidos durante o acidente, o que fez com que Cabello perdesse toda sua memória. Ela não sabia quem eu era, o motivo pelo qual estava ali, onde era ali e nem mesmo sabia quem ela era. A porra era simplesmente muito mais fodida do que eu havia pensado.
O homem careca e gordo disse que as chances de que ela recuperasse suas memórias eram quase nulas, mas que isso não a impedia de criar novas memórias, o que não era muito reconfortante. Puta merda, Camia era um caderno quase na metade com as primeiras folhas arrancas e o resto em branco.

-Você a conhecia mais que ninguém, senhor Mendes. - ele suspirou - Agora a conhece até mais que ela mesma.

-Não tem nada que possamos fazer?

Ele negou.
-As memórias já eram, de verdade. Tudo que resta para ela é reaprender sobre sua vida e começar a fazer memórias novas. - ele se levantou - A paciente vai precisar de alguém que a diga quem é ela, de onde veio, onde vive, alguém que responda todas as suas perguntas. - ele tocou meu ombro - E ninguém é melhor que o senhor para esse cargo, não acha?

Eu o encarei.
-Ela me atacou.

-Ela não te conhece. Não sabe quem é você. - aquelas palavras doeram - Mas vai ter que confiar em você por ser a única pessoa que sabe dizer quem ela é e isso é tudo o que ela quer saber agora.

Eu encarei a foto de Camila na sua ficha de paciente. Ela não sabia quem eu era, não sabia quem ela era e claro que era mais do que minha obrigação ajudá-la. Eu era de fato o único que a conhecia a ponto de ajudá-la a se conhecer e a retomar sua história, mas teria de fazer isso estando ao lado dela sem que ela ao menos soubesse quem era eu. Eu amava uma mulher que não me conhecia.
Depois de mais um tempo conversando com o doutor, lendo sobre o caso dela, casos parecidos e entendendo melhor como eu poderia cuidar dela, o homem me levou novamente ao quarto de Camila, onde a porta agora estava aberta e minha esposa conversava com Justine. Eu sorri ao ver que a garota morena estava com as flores que eu havia trago no colo e que Justine bebericava seu café, alimentando uma conversa bastante animada com amais nova à sua frente. Minha garota parecia confusa e ao mesmo tempo animada, Justine muito provavelmente estava falando sobre mim, pois assim que me viram parado na porta, a enfermeira se levantou e pude ouví-la mumurrar um "é ele". Enfiei as mãos nos bolsos do moletom escuro que eu usava e caminhei quarto a dentro, meus olhos simplesmente grudados à mulher sentada na cama. Ela continuava sendo a mulher mais linda que eu já havia visto na vida e meu coração ainda acelerava ao vê-la. Enquanto eu me aproximava tentando aparentar estar o mais calmo possível, minha cabeça gritava coisas que nem eu conseguia entender, mas eu sabia que soavam como "eu senti sua falta", "você não sabe como foi difícil ficar sem você", "eu te amo". Me sentei à ponta da cama e olhei para Justine, que sorriu antes de sair do quarto, fechando a porta para nos deixar ali.

-Hm, oi. - eu mordi o lábio, procurando as palavras certas - Eu sou Shawn.

-Meu marido? - eu concordei com a cabeça - Por deus, isso é tão estranho.

Eu ri baixo e mordi o lábio novamente, levando uma das mãos para os meus cabelos.

-O que a Justine te falou?

-Que meu nome é Camila Cabello, eu sou casada com você, moro com você e sofri um acidente no dia da festa na igreja. - ela me olhou pela primeira vez - Ela disse que eu vou ter que ir com você.

WAITING • shawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora