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Por Shawn
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A mulher loira sentada à minha frente mordeu a tampa da caneta mais uma vez. Eu encarava o nada, esperando que ela se pronunciasse com o diagnóstico, este que parecia não sair nunca. Pelo canto dos olhos eu a vi se mexer para anotar mais algumas coisas em seu caderno, suspirando de uma forma meio assustadora.
O episódio com Jennie no lavabo do apartamento de mamãe havia acontecido à cinco dias e nós não tínhamos nos falado desde então. Ela parecia ter ficado um tanto frustrada pelo fato de eu não ter gozado naquele dia, ela parecia bem sem graça quando saiu do banheiro e me deixou ali sozinho. E eu? Eu queria me jogar da sacada com a minha falta de vigor.

-Então, senhor Mendes. - a doutora finalmente começou a falar - Essa questão é muito comum até. Não é "falta de vigor".

Sim, depois de cinco dias do ocorrido e sem resposta alguma de Jennie, eu havia recorrido a ajuda médica.

-Qual o problema então?

Ela mordeu o lábio.
-É normal que alguns homens tenham certa dificuldade em chegar ao orgasmo algumas vezes, principalmente depois de tanto tempo sem transar, como no seu caso. - ela me deu um sorriso gentil até - E isso também pode envolver os remédios que você toma. Você disse que tem uma medicação muito rígida, certo? Isso também pode influenciar no seu caso.

-Então estou normal.

-Você é normal.

Eu ri.
-Estou normal mas esses remédios me impedem de gozar?

A mulher se remexeu na cadeira e mordeu o lábio, seu olhar me encarando de cima a baixo. Arqueei a sobrancelha. Passei rapidamente a repetir minha frase várias vezes em minha cabeça. Não havia nada errado.

-Eles não impedem de gozar, senhor Mendes. - ela sorriu após praticamente cantar meu nome - Apenas retardam o processo quando ingeridos em alta quantidade, como a maconha.

-Hm.

Foi tudo o que eu disse antes de me levantar e me despedir, praticamente correndo para fora do escritório e para longe dos olhares famintos da doutora. Não podia perder tempo ali, tinha um vôo para Londres em minutos e Becca já me enviava mensagens furiosas. Vesti minha jaqueta ainda no elevador da clínica e corri para o táxi que me esperava ali, pagando que fosse o mais rápido possível para o aeroporto, o que ele perigosamente fez. Enquanto corria a procura de Becca, eu pensava se estava pronto para perder minha vida enquanto aquele homem dirigia como um piloto de fuga, me deixando aliviado ao botar os pés para fora. A garota ruiva praticamente me arrastou para dentro do avião em meio a gritos e reclamações, dizendo que não estava nem aí para minha falta de vigor. Eu expliquei a ela que aquilo não era falta alguma de vigor e sim culpa das drogas que eu tomava, o que atraiu o olhar espantando de um casal de idosos que estava sentado ao nosso lado. Nos acomodamos em nossos lugares e eu tomei meu remédio, que estava quase uma hora atrasado. Jennie me mataria, mas ao menos eu estava tomando. Como já era costume, depois de tomar o remédio, adormeci como uma pedra.

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Voltar a Londres era quase aliviante. Eu não precisava estar ali com Becca, nem precisava ficar, mas havia prometido a Amélia que levaria a ela um livro da minha editora. E, bom, eu não sou uma pessoa que quebra promessas feitas à crianças.

WAITING • shawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora