Por Camila
°•°A chuva naquela região de Nova York parecia ser mais intensa do que em qualquer outro lugar pelo qual eu já havia passado. Mas ao contrário dos outros bairros, naquele não havia enchentes ou pessoas deitadas nas ruas molhadas, tudo ali indicava o bairro nobre como só aquele era, tanto que as pessoas olhavam assustadas para a garota de mochila andando na chuva. Sim, achavam muito estranho, mas nenhuma delas se colocava disponível para ajudar. Mas que se foda. Eu não precisava. Depois de passar anos em um orfanatos, assistindo todas as crianças ao seu redor serem adotadas enquanto você mofa em uma cama no canto, não há muita coisa que te possa te atingir e te deixar com mais raiva da sociedade. Pessoas são ruins. Bondade é seletiva. Se for for negro, gordo, latino ou tiver mais de doze anos, você não serve para ingressar em uma família. Tragam os bebês! Que se fodam os mais velhos.
Me sentindo tremer por frio mais uma vez, agarrei meu próprio corpo com um pouco mais de força, parando pela terceira vez para olhar ao redor. Restaurantes costumavam ser bem pouco gentis com pessoas como eu, em lojas eu era tratada como uma rata e ninguém mais dava abrigo para desconhecidos. Minha única opção era uma biblioteca ao fim da rua. Com meus pés completamente encharcado, segurei as alças da minha mochila mais uma vez e corri na direção do prédio com várias luzes, empurrando com cuidado a porta que fazia barulho.
Para a minha sorte, só haviam duas pessoas sentadas naquelas mesas gigantes, o que ainda era surpresa para uma noite chuvosa como aquela. Passei por entre as mesas, ignorando completamente o rastro de água que eu estava deixando para trás e as pessoas que ms encaravam, seguindo meu caminho até um dos corredores dos cantos, ajeitando minha mochila ao pé de uma das prateleiras. Me livrei do all star encharcado e me sentei no chão, correndo com os dedos por entre meus cabelos molhados. Eu estava molhada por inteiro. Não tinha outra roupa para vestir, tudo o que estava na mochila não estava muito diferente do que estava em meu corpo. O lugar era quente, mas eu não passaria uma noite confortável em roupas tão cheias d'água. O pensamento me fez suspirar.-Não acho que você vá ter uma boa noite deitada aí.
Um tanto assustada, ergui minha cabeça na direção da voz desconhecia que falava comigo, encontrando uma silhueta ofuscada pelas sombras no que parecia ser a alguns passos de mim mim. Era alguém alto, muito provavelmente um rapaz, talvez tivesse a minha idade pelo tom da sua voz. Dando de ombros sem ao menos me importar se ele conseguiria ver, eu me remexi no chão, virando as costas para aquilo que até o momento era apenas uma sombra. Ao contrário do que eu imaginava, ele se aproximou ainda mais, parando perto o suficiente para que eu conseguisse ver seu rosto. Bonito, jovem, alto. Olhos castanho esverdeados e cabelos castanhos. Bochechas rosadas. Por que eu estava reparando?
-Eu não quero ser chato, mas realmente preciso pegar o livro que está bem do seu lado. Capa vermelha.
Com as sobrancelhas arqueadas, me sentei e olhei para onde ele havia indicado, puxando o único livro vermelho que o mesmo havia dito, hesitando um pouco em entregar à ele. Quando as pontas de seus dedos tocaram os meus na cena mais clichê do mundo, estremeci, o que fez com que eu largasse o tal livro na hora. Ele percebeu e talvez até tenha gostado, já que se sentiu em total liberdade para se abaixar e sentar ao meu lado, não parecendo se incomodar muito com o chão molhado.
-Obrigado. - ele mumurrou em um sorriso. Sua voz era bonita - Você sabe que livro é esse? - ainda mantendo minha distância, neguei - Bom, com certeza já ouviu falar ou viu algum filme. Existem milhares. Romeu e Julieta.
Balancei a cabeça.
-Não gosto dessa história.-E por que não?
O encarei mais uma vez, encontrando seus olhos cravados em mim. Eram quase que como duas interrogações, eram os olhos mais expressivos que eu já havia visto em toda a minha vida. Dando de ombros rapidamente, eu desviei o olhar.
-Eles foram burros. Se ele tivesse checado direito, teria visto que ela estava viva.
O rapaz fechou o livro de forma dramática.
- Eles não foram burros. Ele estava tão perdidamente apaixonado pela Julieta que a simples ideia de perdê-la foi o suficiente para que ele notasse que não podia viver sem ela. Ele preferia a morte à ter que viver sem sua amada.-É brega.
-Não é. - ele respondeu em meio a uma risada antes de apoiar o livro do colo - O amor é uma coisa estranha, mas muito forte. É a maior glória e o maior pecado do ser humano.
-Quantos anos você tem?
Mais uma vez ele riu.
-Dezesseis. Faço dezessete em agosto. - com uma piscadela, o rapaz me estendeu a mão - Shawn Mendes.Após pensar um pouco, mordi meu lábio levemente e apertei a mão do rapaz, deitando minha cabeça minimamente para o lado apenas para encarar melhor seu rosto.
-Camila Cabello.
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WAITING • shawmila
FanfictionAquele era para ser o dia perfeito. A igreja lotada, minha família inteira ao meu lado, meu coração acelerado como nunca antes e o céu perfeitamente azul. Mas em apenas um toque do celular, todo aquele cenário perfeito pelo qual eu havia esperado po...