Prólogo

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O sol aguado, que anunciava o final do inverno de Terrasen, decorava o castelo de Orynth com alegria naquela manhã. A rainha Aelin observava, divertida, Marzena correr pela grama, fugindo do primo, Kayden, que havia desistido do treino exaustivo imposto pelo pai e ocupara seu tempo desviando a princesa de suas próprias tarefas.

Marzena (ou Mare, como ela preferia) era a primogênita de Aelin e Rowan, e a linhagem Ashryver não se deixou negar nos cabelos dourados e nos olhos azul turquesa que a garota herdou, assim como o aro flamejante ao redor da pupila. Ela, agora, tinha quinze anos, e nascera cinco anos depois do final da guerra, completando a alegria do povo de Terrasen, que festejou, por uma semana inteira, a vinda da herdeira.

Kayden, assim como o pai fora de Aelin, era o outro lado da moeda de Mare, sendo apenas um ano mais velho que a prima. Os mesmos cabelos e olhos, embora tivesse alguns traços que a família imaginava terem sido herdados de Lysandra — sem certeza, já que a metamorfa não lembrava a aparência original. Descobrira bem cedo sua habilidade de metamorfose ao se transformar em um rato para assustar a irmã. As características feéricas herdadas do pai se mostraram em uma idade tão tenra, que mal sabia como era viver sem elas.

A diversão matinal de Lysandra e Aelin, quando não tinham trabalho a fazer, era observar a bagunça que os filhos faziam no castelo enquanto tomavam chá e comiam bolo, uma tradição que seguiam rigorosamente há treze anos. A rainha, com seu sangue imortal, permanecia da mesma forma que era há dezesseis anos, quando estabilizou. Lysandra, apesar de ser humana, fora abençoada com um envelhecimento gracioso, e aparentava vários anos a menos do que tinha, conservando a beleza invejável.

Entre as duas se encontrava um emburrado visitante, que odiava tanto bolo com chá quanto a algazarra que a irmã mais velha fazia, rindo enquanto fitas de fogo espiralavam. Sam se achava velho demais para brincadeiras, apesar dos seus recém feitos doze anos. O garoto — uma versão mais jovem do pai, à excessão dos olhos Ashryver — às vezes era tão sério que a própria Aelin se perguntava como poderia ser seu filho. A única excessão àquele comportamento precocemente adulto era destinada à prima dois anos mais nova, Asena, que parecia ser a única criança no mundo de quem ele gostava.

Planando, Rowan se aproximou, em forma de gavião, e se transformou com um clarão antes de pousar. As mulheres nem se alarmaram, estavam mais do que acostumadas a ele. Com um sorriso preguiçoso, a rainha deixou que ele ocupasse a cadeira dela, enquanto se aconchegava em seu colo.

O rei cumprimentou os outros dois, recebendo apenas a resposta alegre da metamorfa. Então olhou para a esposa, erguendo uma sobrancelha. O que houve com Sam? Aelin apenas revirou os olhos. Asena está estudando, e Fenrys saiu, não vai poder treiná-lo. Está emburrado. Puxou isso de você. Uma risada bufada foi sua única resposta antes de virar para o garoto.

Sam tinha uma tendência maior a livros e armas do que a brincadeiras, e Rowan culpava a si mesmo e a Aelin por isso. Os poderes dos dois, misturados ao temperamento irritadiço do garoto, moldaram um gênio forte e de poucos afetos — embora fosse carinhoso com a mãe e a prima.

— Por que não passa um tempo com Mare e Cam? Devia aproveitar enquanto não chove, não vai durar muito — para o crédito do mais novo, ele olhou para a dupla, como se realmente cogitasse, mas.. franziu o cenho, como se não quisesse se intrometer entre a harmoniosa relação dos dois, então balançou a cabeça, focando os olhos em um bolo de chocolate. Outra coisa que havia herdado dele: o parco gosto por coisas muito doces.

— Não, não quero — Aelin encarou o marido, e ele não precisou ler as palavras para entender o que aquele olhar significava.

Deixou-a escorregar de suas pernas para a cadeira enquanto se levantava, oferecendo uma mão ao filho.

A Court of Night and FireOnde histórias criam vida. Descubra agora