In Your Eyes

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Ludmilla Pov

Assim que acordei olhei pra fora, Miami estava calma, muito calma, parecia abandonada. Não havia fumaça, nem tantos carros, parecia tudo largado para trás. Sai da cama, uma ducha era o que eu precisava agora.
O jato de água quente caia em minhas costas, me fazendo relaxar. Quando voltei ao quarto, o céu tinha escurecido alguns tons, pra mim não fazia tanta diferença, afinal, eu preferia assim.
Fui a pé para o escritório, que ficava alguns metro do hotel, senti um vento gelado que fez com que meu cabelo balançasse.
- Bom dia, Patrícia! - Eu disse passando pela sua mesa. Patricia era minha secretária á 2 anos, era eficiente e confiável, algo muito raro de encontrar hoje em dia.
- Bom dia, dona Ludmilla! - Respondeu abrindo um sorriso mostrando os dentes, como de costume.
Hoje seria cansativo, estava cheia de papéis para reler e analisar, ocupando minha manhã toda. Minha temporada em Miami seria extensa dessa vez, eu estava prestes a comprar um terreno para construir uma filial aqui. Quando passei por Patrícia na volta de meu almoço, peguei-a explicando a alguém sobre a vinda da filial e pelo entusiasmo em sua voz eu já poderia imaginar quem era no telefone, eu revirei os olhos e fui para minha sala.
O dia estava voando, era bom assim, eu queria resolver tudo o mais breve possível e comprar o terreno para as obras finalmente começarem.
A chuva vinha quase todos os dias, mas hoje o dia estava diferente, o céu parecia ter sido pintado de cinza, as nuvens estavam em um tom mais claro e todas carregadas, as árvores estavam se mexendo sem parar e até o rio Miami estava inquieto. As pessoas andavam pela rua olhando para o céu em um tom preocupado, a maioria delas andava as pressas, talvez não querendo estar ali para presenciar a tempestade que cairia depois.
Meu telefone tocou me tirando de tais pensamentos , era Luis, secretário do departamento de arquitetura de Miami, já havia dito que ele deveria tratar com o meu assessor e advogado inúmeras vezes, mas mesmo estando acostumada com o meio dos negócios e diversidade das pessoas, eu tinha que lidar, mas não suportava as bajulações dele, revirando os olhos apertei o botão verde iniciando a chamada.
- Olá.. Sim, Luís, o número do Renato é este que eu passei a você - Olhei no relógio - Há exatamente cinco minutos atrás. - Eu disse revirando os olhos, Luis começou com suas bajulações novamente na esperança que eu finalmente cedesse sair com ele, olhei para fora e as primeiras gotas começaram a cair. Tentei me concentrar na conversa entendiante ao telefone. Comecei a bater com o lápis na mesa e olhei para fora novamente, o céu parecia estar mais escuro ainda, a rua estava ainda mais deserta, observei que algumas pessoas corriam com seus guardas chuvas e outras se enrolavam em seus casacos, lá fora o mundo desabava enquanto Luis continuava a sua bajulação.
Foi quando eu vi uma garota andando na rua, sem guarda-chuva ou capa, ela levantou o rosto em direção ao céu, ela parecia estar... Apreciando a chuva? Eu me aproximei um pouco mais da janela e reparei que ela estava sorrindo pro céu, eu senti um frio na barriga e a essa altura eu nem prestava mais atenção ao que Luis falava, a garota começou a andar em direção ao rio, sentou-se e cruzou as pernas. A chuva estava mais forte agora. Me remexi na cadeira sem entender exatamente o que estava acontecendo, era como se eu não conseguisse evitar olha-lá.
Comecei a me perguntar o que uma garota fazia ali no meio de um temporal, e pelo que eu conseguia ver, ela estava absolutamente feliz. Uma inquietação começou a crescer dentro de mim, sem entender o porquê virei-me para a mesa novamente, e tentei me concentrar na conversa, mas não pude resistir, por algum motivo estúpido e desconhecido eu tinha que olhar para a garota, a rua já estava vazia, a quantidade de água caindo era impiedosa.
Voltei a minha atenção para o telefone e em menos de dois segundos disse para Luis ligar para Renato e desliguei. Peguei meu celular, coloquei-o no bolso e sai do escritório.
Patrícia me seguiu com o olhar, fez menção de perguntar algo, mas as portas do elevador se fecharam.
Quando cheguei ao térreo, algumas pessoas estavam colocando seus guardas-chuva em sacos plásticos, fui em direção a porta de vidro e o porteiro abriu um guarda-chuva para me acompanhar.
- Não é necessário. - Disse a ele.
Passei pela porta e em questão de minutos fui encharcada, parei em frente ao sinal para pedestres que estava vermelho, vi que ela não estava mais sentada no mesmo lugar, senti um nó no meu estomago, eu estava odiando sentir isso. Não havia uma explicação realmente boa para que eu estivesse aqui toda molhada para ver uma garota desconhecida.
Mas sem que eu conseguisse me segurar ou entender o que me atraia naquela moça, atravessei o sinal com uma certa rapidez e para meu alívio a vi novamente.
Ela estava com uma calça branca totalmente colada devido a chuva, uma blusa de lã por cima de uma regata branca que eu pude ver pela alça, e um coturno surrado. Ela estava sentada na mureta do rio, e aqui estava eu, olhando pra ela, tão perto que a sensação tinha se intensificado. Eu dei um passo e ela se virou sorrindo pra mim, parei e não senti mais o vento ou as gotas de chuva sobre mim, vi apenas olhos castanhos, me observando, um pequeno nariz, seus dentes bonitos em fileira se mostrando pra mim, pensei comigo, que garota bonita. Ela continuou me olhando então me dei por mim, e resolvi falar.
-Moça, você está bem?
-Eu não poderia estar melhor. - Disse ainda sorrindo.
-Mas nessa chuva?! Você deve estar com muito frio! - Eu disse dando um passo a frente.
-Eu preciso sentir essa chuva, esse frio, isso faz com que eu me sinta viva. - Ela ainda sorria enquanto se levantava, então ela deu um passo a frente ficando muito próxima a mim, ela não era baixa como a maioria das garotas, não me senti tão alta, ela estava a alguns centímetros abaixo, e sem que eu esperasse ela me abraçou, e eu continuei imóvel, senti o calor do corpo dela, e quando fui retribuir o abraço ela soltou, saindo em direção a escadaria. Eu me virei para acompanhar seus passos, ela estava no alto da escada, corri e a chamei.
-Moça! Moça! -Ela se virou e ainda sorria, seus lábios estavam roxos e ela estava tremendo, comecei a raciocinar e aos poucos voltei a ser eu mesma, tomando controle da situação.
-Não é necessário, eu já estava indo embora.-  Ela disse "embora"? Senti o nó no meu estomago novamente, eu não podia deixar que ela fosse embora, eu não fazia ideia do porquê. Apesar de ser incrivelmente bonita, até demais, uma beleza que poucas pessoas tinham. Mas eu já havia conhecido inúmeras mulheres bonitas e havia deixado todas irem embora, pra onde quer que elas estivessem indo. Mas, ela eu não podia.
-De forma alguma! Venha. -Peguei sua mão e senti um choque percorrendo o meu corpo, o que estava acontecendo pelo amor de Deus? Pensei comigo mesma.
Ela olhou incrédula para nossas mãos juntas e sorriu enquanto eu a puxava para o outro lado da rua. O hotel em que eu estava hospedada ficava a dois quarteirões, não era cinco estrelas como geralmente Patricia costuma reservar, mas desta vez, porque eu havia pedido, eu gostava da vista que tinha e eu também podia caminhar até o escritório.
-Hey! - Voltei dos meus pensamentos, para o chamado dela. -Eu não conheço você. - Ela tentou puxar sua mão e logo me apressei em dizer,
-Sou Ludmilla, Ludmilla Oliveira, empresária, e trabalho naquele prédio ali! - Apontei para o prédio mostrando a ela, e usei o frio como desculpa e continuei puxando-a. Já estávamos na metade do quarteirão, próximos a esquina, quando ela parou e isso me fez parar também, tive medo que ela quisesse ir embora, afinal de contas eu era uma estranha, mas continuei segurando sua mão, que estava congelando.
Então ela sorriu, e sem soltar minha mão, me dirigiu sua outra mão para cumprimenta-á.
-Olá Oliveira! Eu me chamo Brunna, Brunna Gonçalves. - Falou sorrindo, e naquele momento o frio na minha barriga voltou.

In Your Eyes - Brumilla Onde histórias criam vida. Descubra agora