🐺27🐺

526 74 5
                                    

Fico algum tempo chorando e me sinto horrível. Eu sou um monstro e nem mesmo sei disso.

Levanto e caminho para fora do hospital psiquiátrico. Hora de escavar o passado.

Saio e caminho para casa. Vejo Brenner a distância e sinto uma sensação estranha. Ele está no mesmo lugar. Alcanço meu celular no bolso e disco o número de Amélie. No terceiro toque, ela atende. Permaneço parada encarando Brenner. Ele me olha de longe do mesmo jeito.

- Oi Ayla...

- Pode vir me buscar? Preciso ir para casa limpar minha mente, não poderei ir visitar os pais de Tony... - me sinto culpada e não conseguiria ir ver eles, sabendo que sou a culpada por quase matar o filho deles e gostar de fazer isso. Não era eu, definitivamente. - Preciso de descanso essa semana, achei que era o suficiente, mas fiquei sabendo de outras coisas e preciso estar preparada para quando eu precisar encarar meus fantasmas. - digo.

- O que sua mãe disse? Ayla... Não era você... - ela para de falar.

- Vou te buscar. - a voz de Tony surge.

- Não! - digo e meus olhos marejam. - Mande Amélie... Decida se vai para a casa de campo ou ficará ai... Prefiro não te ver agora e por favor... Me compreenda. Eu... - sinto meu coração pequeno. - Eu sou a culpada por quase te matar. Por pura diversão. - evito soluçar.

- Me espere no hospital.

- Não Tony... - ele desliga. Olho para Brenner e abaixo a mão. Ele tira o capuz e me encara de longe. Encaro ele e me pergunto se é ele mesmo que anda matando pessoas aqui em Vermillion. Sinto raiva e aperto o celular. Ele começa a caminhar em minha direção e faço o mesmo, indo em direção a ele. Meu coração acelera. Me aproximo dele e assim que estamos frente a frente, ele sorri.

- Oi... - coloco o celular na mochila e encaro ele.

- Oi... Brenner... - digo com desdém. Seu sorriso morre e ele arquea uma sobrancelha.

- O que houve? - encaro ele e toco a cicatriz, ele fecha os olhos e faço o percurso dela, parando a mão na sua bochecha, ele abre os olhos e sorri de forma perversa. - É a primeira vez que me toca depois de anos... - cerro os dentes.

- Quem lhe deu essa cicatriz? - ele franze o cenho.

- Meu pai... - ele diz e pisco confusa.

- Seu pai? - ele assente e segura minha mão. - Você matou os pais de Tony? - pergunto, duas perguntas diferentes, mas espero ser respondida.

- Meu pai matou... E ele está por aí... Matando novamente, meu cheiro é parecido ao dele e sei que Anthony me odeia por causa disso... - meu coração aperta.

- Existem outros de vocês? - ele assente.

- O doutor rapta humanos e nos injeta o DNA de híbridos. - olho para ele perplexa.

- Você não é a fera que tentou me matar e tentou matar Tony? - ele sorri.

- Não é bem assim chapéuzinho... - ele diz e engulo seco.

- Por quê? Por que eu? - meus olhos marejam.

- Porque o doutor tentou te transformar, mas você resistiu, por causa dele. - ele diz com desprezo.

- Então eu atraio os lobos porque...

- Sim. Você tem uma parcela deles com você, a mecha branca tem esse significado, mas você é imune as drogas. Então não foi transformada. - ele ri. - Parece uma bagunça, descobrir tudo assim, certo? - assinto.

- Você estava lá quando eu fui levada? - ele assente.

- Eu sempre estou. - ele diz com frieza. - Sou praticamente a sombra que anda atrás de você, quando o sol reflete, e demorei te achar... - ele sussurra. - Era divertido e acho que ainda é, já que você fugiu dele aquele dia... - ele sorri. - Sabe o que eu mais gostava na época? Você alertava os caçadores na floresta, mesmo que ele tentasse salvar a sua vida, você corria para a morte sempre e colocava ele em risco. - ele gargalha. - Achei que não se lembra-se de nada, mas acho que ainda é a minha chapéuzinho. - meu corpo estremece, mas tento esconder o fato de estar aterrorizada, ele acha que eu ainda sou aquela garota que machucou o Tony. Forço um sorriso.

- É... - digo arrastado e tento manter a estabilidade na voz. - Ele está vindo me buscar... Então acho melhor você ir. - digo e ele fica sério.

- Sabe que virei atrás de você, não é? Sabe que ele não vai mais de proteger... Quando a hora chegar, eu vou ter sua vida nas minhas mãos e aí a brincadeira acaba... - ele sorri com psicopatia. -... deve estar ansiosa para saber como acaba ou... Como eu mato você. - tento manter minha respiração controlada.

- É... - ele puxa o capuz e se afasta. Assim que ele some, ofego e levo a mão ao peito. Estremeço. Eu coloquei minha vida em risco quando criança somente para ver Tony me salvando? Era divertido? Céus... Isso é perturbador... Fico parada absorvendo as informações e me sentindo gelada.

Quero apenas me esconder, não quero ser caçada, mas acho que estou sendo caçada por mais de um... Por Brenner, seu pai, o doutor... E os caçadores... Sou a isca perfeita para atrair todos para um lugar só e imagino que serei o banquete deles, já que na cabeça de todos, minha vida vale muito e deve ser divertido me matar. Fecho os olhos e arfo. Céus...

Estou com uma corda em meu pescoço e nunca notei. Se as meninas de nove anos atrás que morreram se pareciam comigo, era porque era Brenner que estava caçando, dessa vez ele me achou e está me cercando porque espera que eu por livre e espontânea vontade aceite morrer...

Meu Deus...

Isso é um pesadelo sem fim.

Olho para trás, assim que escuto uma camioneta, Tony estaciona do meu lado.

- Era para ter esperado no hospital. - olho para ele e meu coração aperta.

- Desculpe... - ele abre a porta do carro e desce.

- Esqueça isso... Você nem pode se lembrar, eu te perdoei, não pude jamais te odiar. - ele sorri. - Mesmo que fosse divertido para você colocar minha cabeça a prêmio... - ele fica sério. - Foi por causa do maldito doutor, aquele que quero pegar... Se tem alguém que eu farei questão de matar, é ele. - ele diz.

Abraço ele.

- Me perdoe... Por tudo.

O conto do Lobo MauOnde histórias criam vida. Descubra agora