🐺38🐺

506 74 7
                                    

Ele está normal, mas não vem em minha direção. Abaixo os braços e choro. Dor me corta. Olho para ele e ele parece de mãos atadas.

- Se eu me aproximar mais, vou acabar sem controle novamente... - olho para ele e me sinto um lixo.

- Eu vi... Eu vi... Você estava acorrentado. - digo e ele me olha com pesar.

- Não pense nisso agora... Está tudo bem. - ele diz e olha para minha cama. - Sabe o porquê voltei ao normal certo? - às vezes me esqueço que ele não é humano e sim um híbrido. Me encolho no chão e me sinto pior. Choro baixinho imaginando como sou perversa. Não se deve brincar com os sentimentos de alguém, não é divertido. Como eu pude usar o fato que de pessoas me amavam e me aproveitar disso? Como foram os dois meses depois que saímos da floresta? Deve ter bons motivos para eu ouvir aquelas palavras pesadas de mamãe. Não é nada legal arrumar um jeito para fazer quem ama sofrer só porque lhe agrada.

Não é!

Fico durante um tempo assim e perco a noção do tempo. Quando volto a olhar para frente, o quarto está vazio e as cortinas da janela balançam. Fungo. Levanto e caminho para o banheiro. Tomo um banho e confiro o relógio. 20:57. Saio do quarto e desço as escadas. Papai está preparando o jantar e Tony está sentado na cozinha. Paro a uma distância segura e olho para os dois.

- Quantos que vão ser mortos hoje? - papai pergunta e meu coração aperta.

- Sei lá... Só sei que estou exausto, não aguento mais escrever relatório, fazer pedido de material e análise de DNA. É um saco! - ele resmunga e papai ri.

- Pelo menos pegamos dois dos caras naquele dia, menos dois para sair matando. - ele diz e suspiro.

- Falando nisso, eles falaram alguma coisa sobre híbridos? - Papai tampa uma panela e confere algo no forno, o cheiro faz minha barriga roncar.

- Não Anthony... Graças aos céus. - ele diz e dá de ombros. - Ninguém acreditaria também, não existem provas. E quando você pegar esse doutor e as feras, vamos enterrar a história de híbridos e culpar ele. - papai diz.

- Espero... Queria que isso acabasse com a temporada de caça também.

- É complicado filho...

- Eu sei...

- Não se preocupe, sabe que você está protegido, ninguém sabe quem eram seus pais, tratei de esconder esse fato para os caçadores não focarem em você. - Tony fecha o notebook e coloca os cotovelos sobre a mesa.

- Ayla está reagindo a minha presença e estou tendo dificuldade para controlar meus instintos. - levo a mão na boca evitando falar para ele calar a boca. Meu rosto está em chamas.

- Isso é um bom sinal. Deveriam se entender, sabe que aprovo isso tudo não é? - me sinto super envergonhada com o rumo que a conversa tomou de repente.

- Ela veio até meu quarto para conversar hoje... - ouço papai tossir.

- Hoje?! Mas... Vocês não... Ou... - me abaixo no chão e cubro o rosto. Quero morrer.

- Não. Ela se lembrou de algo e o medo dela me fez pular a janela, fiquei preocupado e quando entrei ela estava abaixada e... Odeio isso tudo sabe. - papai suspira.

- Ela nunca se perdoará, mas acho que o fato de que perdoamos ela, fará ela se sentir melhor. - lembro das palavras de mamãe e meu coração aperta.

- É... Espero. Aliás, ela... - a voz de Tony vacila. - Já que toquei no assunto, será que é muito arriscado dormir perto dela hoje? - o silêncio seguinte é quase esmagador e finalmente papai quebra o silêncio.

- Ela é de maior, só que se ela pedir que saia do quarto, não entre em modo de caça, odiaria ter que usar aqueles dardos em você novamente. - "Dardos?!"

- OK. - franzo o cenho. "Dardos?!" Por que usavam dardos? Eu realmente fui caçada? Pelo Tony?!

Me levanto do chão e cruzo os braços, fecho os olhos e tento forçar minha mente a lembrar de algo, mas não consigo. Isso me deixa frustrada.

- Droga. - sussurro. Me arrependo de sequer sussurrar. Ouço um rosnando baixo e olho para a cozinha, papai está de braços cruzados e parado a uma distância segura, Tony está sentado ainda, mas o olhar ameaçador voltou.

- Desde quando está aí? - papai pergunta e dou uma risada sem graça.

- Acabei de chegar. - minto. Ele arqueia uma sobrancelha.

- Por que será que não acredito?! - talvez porque eu seja uma péssima mentirosa.

Olho para Tony e decido mudar de assunto, aponto a cozinha.

- Posso ir aí? - pergunto e Tony nega. Ele volta a abrir o notebook.

- Fique onde está. Não pego seu cheiro daqui e isso me deixa tranquilo. - olho para papai e ele dá de ombros. Decido sentar no sofá, ligo a TV e é o que faço, me jogo no sofá e começo a trocar de canais.

Encontro uma reprise da série "Teen Wolf" e começo a assistir. Ouço outro rosnando e esse é estrondoso, acabo me arrepiando e olho para a cozinha.

- Oushe! Que bicho te mordeu?! - pergunto indignada. - Vai dizer que não gosta da série? Tem lobos nela sabia? - não são exatamente como Tony, mas se parecem bastante.

- Escolhe outra coisa, é ofensivo que assista a série e compare a mim. - dou de ombros.

- Vou assistir, eu gosto. Os atores são lindos. - digo e ouço um rosnando mais alto.

- Tony. - Papai repreende e olho em direção a ele. Dou um sorrisinho vitorioso e ele aperta as pálpebras e me oferece um olhar de "Vai ter volta".

Assisto a alguns episódios, papai acaba trazendo um prato de comida para mim e como no sofá, até que é divertido, fazia tempo que não fazia algo parecido. Papai acaba subindo e fico na sala assistindo a série. Tony não se move e creio que, em partes, é para evitar ter que passar pela sala e se aproximar. Não estou nem aí.

Se ele quiser passar, terá que passar comigo aqui, sentada.

As horas seguem e acabo bocejando. Olho para a cozinha e noto que ele está concentrado em algo no notebook.

- Não vai dormir? - pergunto. Ele me olha com uma carranca.

- Você sabe porque ainda não subi. - ele afirma e sinto vontade rir. Gosto de provocar o Tony. Ele é realmente fofo.

- É por minha causa? Quer que eu saia da sala? - ele assente. Sorrio e decido tornar a minha promessa em verdade, realmente quero estar perto dele. - Vou subir e escovar os dentes. Não demore ok? - ele arquea uma sobrancelha.

- Não sei se vou ir, estou a uma distância segura para raciocinar com a cabeça de cima. - ele ri. "Idiota."

- Boa noite Tony. - digo com uma carranca e ele acena.

- Boa noite Ayla.

🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤🖤
Aí, não aguentei esperar até domingo, me julguem kskskskksksks
Está entregue híbridos !

O conto do Lobo MauOnde histórias criam vida. Descubra agora