É horrível ter três pessoas em uma mesa, e apenas o som estridente dos talheres contra os pratos ser ouvido.
Encaro minha comida, pensando no quanto seria divertido ter pais como os de Bonnie Watson. Eles eram tão diferentes dos meus, que não sei se me sinto culpada por desejar ter nascido em outra família.
— Como foram as aulas hoje? – É meu pai quem inicia o assunto.
Olho para ele, vendo seus olhos castanhos como os meus focados em Hailey. É sempre ela.
— Foram ótimas. Teremos baile em breve, quero o melhor vestido – diz, sem pudor algum.
Oh, mas ela não precisava pisar em ovos como eu, ela era a favorita.
Hailey Downey pede. Hailey Downey tem.
— Amanhã mesmo pedirei para o nosso estilista preparar algo deslumbrante para você, querida. – Minha mãe sorri, parecendo feliz com a ambição da filha.
Mastigo devagar, sendo completamente excluída da conversa, como se eu não passasse de um inseto insuportável.
Baixo o olhar para a minha comida novamente, sem apetite algum. Passo o talher sobre alguns grãos com gosto horrível, apenas remexendo neles.
— Hope! – É meu pai. — Não brinque com a comida. Coma.
— Estou sem fome – murmuro. — Vou para o meu quarto, com licença.
Me levanto, saindo dali como se fugisse de atiradores. Entro no único lugar onde tenho paz nesta casa, deitando-me sobre a cama arrumada.
Meus olhos e garganta ardem, mas não me limito a isto, engolindo em seco.Controlo a vontade de ligar para uma de minhas amigas, mas não quero incomodá-las com os meus problemas. Penso também em James, mas ele não pode se importar menos comigo.
Afundo a cabeça no travesseiro, mas sou obrigada a me levantar quando ouço a porta do meu quarto bater.
É a minha mãe.
— Se lembra do que eu disse de manhã?
Balanço a cabeça devagar, receosa do motivo que a trouxe até aqui. Ela nunca se importa o suficiente para visitar meu quarto.
— Você não está como deveria, Hope. – Se aproxima, segurando meu rosto. — Operar seu nariz não foi o suficiente.
Sinto meus olhos ficarem molhados, mas não movo um dedo.
— Acho que não podemos fazer nada com o seu rosto. – Estala a língua, levando as mãos até os meus seios. — Porém, podemos aumentar os seus seios, eles não são tão grandes.
Gostaria de abrir a boca e dizer que tenho apenas dezessete anos, o tamanho dos meus seios está perfeito, mas não consigo.
— Marquei uma cirurgia para você no próximo mês, meu cirurgião faz um ótimo trabalho. – Sorri, mas não chega aos olhos. É um sorriso frio, sem vida.
Então, sem dizer mais nada, ela deixa meu quarto. Fungo, não aguentando mais segurar o choro que estava preso há muito tempo.
Entro no banheiro e tranco a porta, tirando minhas roupas na frente do espelho.— Não entendo – sussurro.
Analiso tudo. Meus cabelos, meu rosto, meus seios, minha barriga, minhas pernas e meus pés. Soluço, sentindo uma dor horrível em meu peito. Vejo quando minha mão direita sobe até minha nuca, mas não pareço ter força ou vontade de parar quando meus dedos se enroscam em tantos fios de cabelo que sou incapaz de contar, os puxando de uma vez. A dor física parece ser um calmante, e quando me enxergo de verdade naquele espelho, sinto raiva, puxando cada vez mais fios, violentamente, até gritar, sem me importar com quem poderia ouvir.
No momento de ira, pego um vaso de vidro que enfeitava a pia do meu banheiro e jogo no chão, vendo os cacos irem para todos os lados.
— O que tem de errado comigo?! – Pergunto ao meu reflexo choroso e feio. — O que tem de errado comigo? – Repito, baixinho.
Mordo o lábio e olho para o chão, pensando que teria que juntar aqueles cacos logo, assim como faria comigo.
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IMPERFEITA - VOL I
RomanceUma garota imperfeita desejando ser perfeita. Um cara perfeito feliz com sua imperfeição.