Capítulo 45: felicidade e tristeza andam de mãos dadas

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Sempre considerei o Natal uma comemoração importante, mas nunca havia passado tal data tão bem, ao lado de pessoas que amo.
Estou na casa de Tristan, mas logo estarei indo para a minha cuidar de mamãe. Tem uma enfermeira com ela, a mesma pediu para que eu saísse um pouco e desse espaço para Felicia.

— Como está sua mãe, querida? – Indaga, Donna, mastigando seu pedaço de galinha assada.

— Ela mudou muito desde que sabemos. Perdeu peso, a cor da pele e dos cabelos... – sorrio, tentando parecer conformada.

— Eu lamento que seja assim.

No fundo, eu sabia que todos pensavam a mesma coisa: Felicia estava apenas acertando suas contas com o universo, depois de todas as maldades que fez.

— Você já quer ir, amor? – Cobain pergunta, me olhando atentamente.

— Quero. – Engulo seco.

Ele se levanta, então faço o mesmo e dou beijos em Donna e Christopher.

— Eu amei tudo, a comida estava uma delícia, Donna. – Sorrio.

— Obrigada, foi feita com muito carinho.

Me despeço deles e sigo com Tristan para fora, entrando no carro para irmos até minha casa.
Já acomodados, iniciamos o caminho que não é tão longo, na realidade.

— É o primeiro natal que passo sem comparecer a nenhuma festa – digo.

— E como foi?

— Perfeito. – Sorrio.

Ele me olha, então se estica para abrir o porta-luvas e pegar algo dentro. É uma sacola pequena e enfeitada, então pego a mesma e meu sorriso se abre ainda mais.

— Eu não comprei nada!

— Não importa. – Sorri. — Abra.

Faço o que ele pediu, espiando dentro da sacola para ver uma caixinha preta, aveludada. Meu coração acelera de imediato, mas pego o objeto para olhar antes de criar qualquer expectativa. Mordo o lábio, deixo a sacola de lado e me preparo para abrir, arregalando os olhos ao fazê-lo.

— Oh, meu Deus! – Sussurro. — Tristan...

São dois anéis, na verdade. Uma aliança fina e um solitário todo cravejado, com um brilhante maior no centro. Ambos são tão delicados, que temo tocá-los e estragar tudo.

— Gostou?

Olho para ele, um pouco emocionada. Estou fragilizada ultimamente, não me surpreenderia se começasse um choro, mas sei que Cobain ficaria apavorado, então tento evitar.

— São lindos! – Sorrio. — Eu amei, mas não sei o que isso significa.

Cobain para o carro, se virando em minha direção. O brilho em seus olhos me deixa ainda mais apaixonada, sou uma boba.

— Isto – aponta para aliança, — é apenas algo simbólico. Mas isto – pega o solitário, — é uma promessa. Quando olhar para ele, quero que lembre-se do que eu disse a você na noite de natal deste ano. Eu estou aqui, na sua frente, prometendo que daqui a nove anos, quando a faculdade acabar, serei completamente seu pelo tempo que você desejar. Muito tempo vai se passar, mas nunca vou deixar de ser completamente apaixonado por você, e é por isso, que escolhi este conjunto para te dar. – Segura os anéis, colocando-os em meu dedo. — Quando eu voltar, quero me casar com você.

Suas palavras me pegaram totalmente de surpresa, e como eu disse antes, estava fragilizada por tudo que estava acontecendo, por este motivo acabo derrubando algumas lágrimas.

— Por tanto tempo ouvi que sempre seria incapaz de ter alguém que gostasse de mim, e me enfiei em um caminho que não era meu, tentando ser perfeita, tentando ser aprovada. – Dou de ombros. —  É estranho te ouvir dizer algo assim.

Ele se aproxima, segurando meu rosto entre suas mãos firmes.

— Quanto mais você tenta ser perfeito, mais se torna imperfeito. Ninguém alcança a perfeição, Hope, e por mais que você seja perfeita aos meus olhos, nunca vai conseguir agradar a todos.

— Obrigada. – Sorrio.

— Está me agradecendo pelo quê, exatamente? – Estreita os olhos.

— Por você sempre ter aceitado os meus erros sem tentar me mudar.

— Eu nunca mudaria alguém como você, você é tudo que eu mais quero, do jeito que eu sempre precisei. – Beija minha boca, mas se afasta.

Sorrio, prestes a soltar fogos de alegria.

— Você assinou sua sentença, Tristan Cobain. Quando voltar, vai se deparar com uma mulher de véu e grinalda esperando você no aeroporto.

Ele joga a cabeça para trás, gargalhando. É uma delícia vê-lo rir assim, mas a felicidade já estava com os segundos contados, e eu já sabia que algo estava errado quando meu celular tocou.

— Hailey? – Atendo, já nervosa.

Hope, venha para o hospital agora, acho que a mamãe não vai aguentar mais.

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Ao chegar no hospital, consigo entrar no quarto onde Felicia está recebendo todos os cuidados necessários.
Minha irmã está ao seu lado, chorando, e posso ouvir sussurros.

— Vou consertar o meu erro, minha filha, eu juro.

— Não há nada a fazer mais, mãe. – Soluça.

— Eu já fiz, já fiz! Logo você saberá, eu prometo, prometo que tudo vai se resolver.

Com um pigarro, chamo a atenção das duas, que me olham ao mesmo tempo.
Felicia parece ainda mais pequena naquela cama, toda pálida e sem vida.

Me aproximo das duas, e ficamos ali, apenas trocando olhares até tarde.

Em algum momento da madrugada, enquanto Hailey dormia na poltrona e eu permanecia segurando a mão de Felicia, pude senti-la me apertando forte, então olhei para ela, e encontrei seus olhos mórbidos já parados sobre mim. Eu pude notar, dolorosamente, que a vida estava abandonando seu corpo.

— Eu perdôo você, mãe.

Lágrimas escorrem de seus olhos quando digo, e quando o aperto em minha mão já não é mais um aperto, lágrimas escorrem dos meus olhos.

IMPERFEITA - VOL IOnde histórias criam vida. Descubra agora