Quando chego no colégio no dia seguinte, minhas amigas percebem que não estou no meu melhor dia.
— Você não está bem. – É a primeira frase que deixa os lábios escuros e bonitos de Bonnie.
— Vamos para o banheiro. Agora. – Melissa me puxa, como se eu fosse uma morta-viva.
Quando chegamos ao banheiro e ela me obriga a olhar meu reflexo, percebo que estou mesmo parecendo com uma. Isto me deixa triste, fazendo-me fechar os olhos e chorar, mas sem escândalos, desta vez. Choro em silêncio, apenas para sentir muito por mim mesma.
— Estou preocupada, Hope. – Bonnie acaricia meu ombro.
— Não fique – digo. — Não fique. Só comecei o dia com o pé esquerdo.
Ela e Melissa se encaram, mas ficam em silêncio. As duas eram as melhores amigas que alguém podia ter, porque se preocupavam, mas acima de tudo, respeitam meu espaço quando eu peço.
— Não vou deixar que você fique com esta cara de zumbi! – Melissa O'brien, sempre preparada.
Sorrio quando vejo-a tirando uma necessaire da mochila, enxugando meu rosto.
— Vamos cobrir essas olheiras medonhas, você não vai andar comigo com o rosto assim.
Acabamos entre gargalhadas, e aos poucos, me esqueci dos pais que tinha.
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— Não aguento mais correr! – Ofego, sentindo meu coração disparado.
Melissa passa por mim, correndo de costas, mas volta para frente, se aproximando de mim para me dar apoio.
— Amiga, você está muito sedentária para uma garota tão nova.
Reviro os olhos, vendo ela se alongar tranquilamente, enquanto estou quase desmaiando no chão.
— Você é fã número um de exercícios físicos, eu odeio! – Bufo, como se fosse uma menininha incompreendida.
— Tudo bem, vamos beber um pouco de água, a aula já está no fim. – Me puxa para dentro, onde ficam os vestiários.
Sento-me no banco, sentindo-me muito cansada. Eu não pratico exercícios físicos com frequência, o que causa minha quase morte quando faço.
Melissa joga uma toalha para mim, e partimos para o banho. Uma parede separa uma da outra, mas tenho certeza que ela está dançando enquanto canta, horrivelmente, uma música de Rihanna.
Melissa O'brien, definitivamente, não nasceu para cantar.
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Meus pulmões parecem sair de um lugar sufocante quando adentro a sala de música, vendo-a vazia.
Aproximo-me do violino, a fim de tocar um instrumento menor. Não preciso pensar muito, apenas me posiciono e dou início à Same Mistake, de James Blunt. Ela diz muito sobre mim.Fecho os olhos, voltando a imaginar a multidão em minha frente, me assistindo, me ouvindo, me admirando. É maravilhoso poder imaginar, já que só sinto-me tão viva quando estou de olhos fechados, com as mãos em sintonia, imaginando-me em um lugar onde ninguém se importa com a minha aparência.
¹Saw the world turning in my sheets
And once again I cannot sleep
Walk out the door and up the street
Look at the stars
Look at the stars fall down
And wonder where
Did I go wrongPenso nas últimas palavras e nas últimas notas, sentindo o som acabar-se aos poucos, suavemente. Eu não ouço música, eu apenas sinto. E é maravilhoso.
Abro os olhos rapidamente quando ouço palmas, assustada e com o coração disparado, mas triplica quando eu vejo quem é.
Tristan Cobain.
Meu Deus.
Fico sem ação e sem palavras, apenas sentada olhando para ele, que se aproxima devagar.
— Nunca vi alguém tocar com tanta emoção.
A voz dele é perfeita. Ele é perfeito.
Engulo em seco, coloco o violino no seu suporte e me levanto, alisando a saia azul-marinho do uniforme. Respiro fundo antes de olhar para o cara que me faz suspirar pelos cantos novamente.
— O que você entende sobre música? – Pergunto, curiosa.
— Minha mãe é maestrina. – Coloca as mãos nos bolsos.
— Sério? – Ergo as sobrancelhas, surpresa.
— Não. – Sorri. — Eu não sei nada de música, mas sei que você é ótima.
Relaxo um pouco, respirando fundo e retribuindo o sorriso, mas não com tanta confiança quanto ele.
— Obrigada, eu acho.
Ele acena com a cabeça, e depois disso ficamos em silêncio. Eu não faço ideia do que fazer, penso em dizer que estou de saída, mas ele é mais rápido em estender a mão para mim.
— Pode me chamar de Tristan. – Me olha, como se pudesse ver além de mim.
— Hope – respondo.
— Hope – parece testar o nome em sua voz, — é um prazer conhecer você.
Não digo nada, pareço estar hipnotizada pela maneira que ele me olha. Na verdade, devo estar parecendo uma idiota, mas ele é tão bonito.
Um pouco da minha ternura é por eu ser incondicionalmente apaixonada. Eu me apaixonei por ele no ano passado, quando comecei a observá-lo pelo colégio. E, meu Deus, ele é mesmo quente.
O pensamento me faz queimar pela vergonha, e torço para não ter ficado vermelha como uma idiota, mas pelo sorriso que ele dá, duvido muito que minha cor esteja normal.
— Vou indo, Hope. Espero te ver tocando mais vezes. – Sorri ainda mais, e achei uma grande merda o sorriso ser terrivelmente sacana.
Se minha mãe imaginar que pensei em "merda", literalmente, sou uma adolescente morta.
Mas, nada está fazendo muito sentido na minha cabeça mesmo, porque Tristan Cobain está parado em minha frente, falando comigo.
Jesus.
— Você é muito boa – continua.
— A-ah, obrigada! – Gaguejo, extremamente nervosa.
Ele dá um último maldito sorriso de canto e me dá as costas, deixando a sala de música e uma garota babando para trás.
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Tradução do trecho da música:
¹Vi o mundo girando em meus lençóis
E mais uma vez não consigo dormir
Saio pela porta e subo a rua
Olho para as estrelas
Olho para as estrelas caindo
E me pergunto onde
Foi que eu errei.
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IMPERFEITA - VOL I
RomanceUma garota imperfeita desejando ser perfeita. Um cara perfeito feliz com sua imperfeição.