Capítulo 39: traumas

49 5 0
                                    

Hey!!
Me perdoem pela demora, eu estou finalmente trabalhando e meu tempo está um pouco corrido por aqui. O temido Covid-19 está dificultando um pouco as coisas, mas prometo que deixarei capítulos prontos para não falhar nas postagens.
Espero que tenham uma ótima leitura! :D
________________________________________








No dia seguinte, estávamos tomando nosso café da manhã quando Meredith Clark decidiu aparecer depois de meses sem nos visitar.
A mulher de cabelos brancos e olhos azuis era minha avó, que cruzou os braços a ver Felicia.

— Decepcionante. – Inclina a cabeça, olhando-a com superioridade.

Eu conheço este olhar. É o mesmo com que mamãe me olha.

— Bom dia, meninas. – Olha para minha irmã e eu, mas não se demora.

— Bom dia, Meredith – respondemos em uníssono.

Ela nunca gostou de ser chamada de vovó, ou qualquer coisa que a remeta a uma idosa cheia de netos.
Tenho sete tios, o que soma oito filhos se incluir Felicia. Todos muito distantes.

— Está parecendo um cadáver, Felicia. Você se divorciou, não morreu – diz, dura.

Olho para minha mãe, que está com o olhar vidrado em seu prato de porcelana. Ela parece paralisada desde que Meredith chegou, como se esta casa fosse dela.

— Vá se arrumar, temos que sair. – Alisa uma mecha que cai pelo rosto. — Vá, Felicia!

Mamãe se levanta, saindo da sala de jantar rapidamente, parecendo irritada.

— Hum, eu já sabia que aquela imprestável não seguraria Andrew por muito mais tempo. Ela é tão estúpida. – Suspira, forçando um sorriso para nós antes de sumir pela sala de estar.

Imprestável.

Esta palavra significa tanto, é horrível ter que ouvi-la. Felicia já usou tantas vezes para se referir a mim, mas não me sinto melhor agora que a vítima é ela.
O comportamento de Meredith diz muito sobre minha mãe.

Talvez Felicia só seja uma criança traumatizada.

|||

Ao anoitecer, a única coisa que eu podia fazer era ficar trancada no meu quarto. Fiz algumas lições do colégio, mas acabei rápido. Não gosto de ficar com a mente desocupada, penso em coisas ruins, e agora estou pensando em Tristan Cobain.

Ele não me procurou hoje, ou deu algum indício de que iria fazê-lo, como em outros dias que passaram. Espero que tenha se cansado, assim não tenho que evitá-lo e me magoar ainda mais. Dói saber que ele só brincou comigo, e no momento não consigo ouvir suas explicações, tenho medo delas.

Viro a cabeça em direção à porta, ouvindo vozes alteradas. Levanto-me da cama rapidamente, deixando meu quarto para trás cada vez que me aproximava da escada.

— Não sei como posso ter perdido meu tempo com você, Felicia, francamente! – Meredith está apontando o dedo para mamãe, que permanece como um touro bravo, bufando e chorando. — Mulherzinha burra, nem abrindo as pernas conseguiu segurar um homem rico que te amava. E agora, como você vai se manter?

— Você não tem mais o direito de se meter na minha vida, mãe – rebate.

— É claro que tenho, e vou. Dei duro para fazer Andrew se interessar por você, sua estúpida.

Estreito os olhos, descendo os degraus devagar, sem chamar a atenção das duas.

— Nosso casamento não deu certo, acabou! Ele me traiu tantas vezes que nem posso contar nos dedos, suportei até onde pude. Também não estou feliz que ele tenha ido embora, mas não vou obrigá-lo! – Grita, explodindo.

Então, vejo-a cambalear até cair sobre os próprios joelhos, ofegante e fraca. Corro até ela, olhando para Meredith com impaciência.

— Vá embora, Meredith, olha como deixou minha mãe – cuspo, irritada.

— Felicia nunca aguentou ouvir a verdade.

— Saia, agora. Você não é bem-vinda aqui já tem muito tempo.

Ela passa uma das mãos com unhas pintadas de vermelho sobre a franja penteada e completamente branca, nos dando as costas após inclinar a cabeça e olhar para Felicia com desprezo.

Não espero a porta bater para me abaixar e ajudar a mulher nervosa no chão. Ela se agarra à mim e encara a porta, tremendo.

— Acho melhor se sentar. – Ajudo-a até o sofá. — Fique aqui.

Caminho até a cozinha, pego um copo e encho com água e um pouco de açúcar, a fim de acalmar um pouco todo o estresse que aquela mulher causou.

— Obrigada. – Agradece, pela primeira vez, pegando o copo rapidamente.

— Aquela mulher é horrível como mãe – comento, lembrando-me das palavras dela.

— Parece que temos algo em comum, então. – Me olha, insinuando coisas que eu jamais imaginaria vindo dela.

Fico em silêncio, consentindo em minha cabeça.

— Por que me ajudou? – Questiona, franzindo o cenho.

Respiro fundo, analisando-a por inteiro, notando sua melhora.

— Está melhor?

— Estou. – Acena.

Viro-me, a fim de ir para meu quarto e me trancar novamente, mas não antes de responder sua pergunta:

— Te ajudei porque uma mãe não pode ser tão cruel com seu próprio filho.

E assim, deixei-a ali, refletindo sobre minhas palavras e suas próprias atitudes.

IMPERFEITA - VOL IOnde histórias criam vida. Descubra agora