— Parece que um caminhão passou em cima de você.
— Obrigada, Bonnie, você é sempre tão gentil. – Forço um sorriso.
Bato a porta do meu armário, fazendo minha amiga levantar as sobrancelhas e estreitar os olhos logo em seguida.
— Eu cometi um erro, não deveria ter ingerido álcool – choramingo, colocando uma mão na testa, onde a dor insiste em ficar.
— E por que fez isso? – É cautelosa ao perguntar. — Você nunca bebe.
— Digamos que eu tenha visto algo muito desagradável.
Ela franze o cenho, me encarando, mas logo sua expressão muda para surpresa.
— Não me diga que... – sugere exatamente o que houve.
— É isso. – Solto um riso.
Bonnie diria algo, mas fomos interrompidas por uma O'brien mal humorada, porém, impecável.
— Eu nunca mais levo você para festa nenhuma, Hope Downey!
— O que eu fiz? – Franzo o cenho, curiosa.
— Você não se lembra?
— Eu deveria me lembrar de alguma coisa? – Fico preocupada, trocando meu peso de um pé para o outro.
Nervosa, vejo quando ela pega seu celular, mexendo em algo antes de estendê-lo para Bonnie e eu.
Meus olhos se arregalam tanto que doem, fico com dor na barriga e calor, sentindo meu coração acelerar.
Sou eu. Sou eu seminua, em cima da mesa da cozinha, na festa de ontem, na casa de quem quer que tenha sido. Simplesmente arranquei a camiseta do time do meu corpo e joguei no chão, cantando alguma música e usando uma garrafa de uísque como microfone.
Olho ao redor, percebendo muitos olhares e risadas direcionadas à mim, e é nesse momento que o ar começa faltar em meus pulmões. Minhas amigas me abanam, apavoradas.
— Como deixou isso acontecer, Melissa? – Pergunto, encolhida contra meu armário.
— Não fique tão nervosa, pelo menos você estava usando uma lingerie bonita – responde, ela.
— Melissa! – Bonnie a repreende.
Respiro fundo algumas vezes, fechando os olhos por algum tempo antes de ter coragem para encarar todo mundo.
— Que vergonha... – resmungo.
— O colégio todo já te viu de biquíni, Hope, não é para tanto. – Melissa tenta ajudar, mas nunca escolhe as palavras certas.
— O problema maior nem é esse – digo, mordendo meu lábio. — Estou bêbada, em cima de uma mesa, na frente de quase todo o colégio e do time. Sem contar que estava cantando em uma garrafa.
Então, as duas começam rir, e eu não consigo controlar minha própria gargalhada. Ficamos ali rindo, assistindo o vídeo mais três vezes, dando pausas em detalhes engraçados.
— Eu sempre quis fazer como a Elle, sabe... Barraca do Beijo. – Enxugo os cantos dos olhos, onde acumolou lágrimas de riso.
— Sejamos sinceras, o vídeo ficou ótimo. – Bonnie diz, entre risos e suspiros. — Mas nunca vou deixar você sozinha com Melissa.
— Ei! – A loira grita, ofendida. — Foi rápido, James tirou ela de lá e a levou para casa.
— Preciso agradecê-lo, então – digo.
— Ele ficou bravo. – Faz careta.
Ouvimos o sinal, já estava na hora de cada uma seguir para sua respectiva aula.
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Atenta à minha lição de física, não dou atenção para o que está acontecendo ao redor. Estou sentada à sombra de uma árvore, aproveitando o tempo para finalizar minhas equações.
Ouço passos amassando a grama aparada, então olho na direção do som e vejo meu ex namorado vindo até mim. Ele se senta ao meu lado, olhando para frente de cenho franzido por conta do sol.
— Oi – digo.
— O que está fazendo aqui fora?
— Lição de física. E você, o que está fazendo aqui? – Volto a dar atenção para meu exercício.
Ele não responde de imediato, conheço sua mania de pensar em várias coisas antes de falar, de fato.
— Estava conversando com o treinador e te vi aqui.
— Com o treinador? Por quê? – Franzo o cenho.
— Estou suspenso dos dois próximos jogos. – Suspira.
Olho para ele, surpresa.
— O quê? O que aconteceu? O time é uma das coisas mais importantes para você.
Ele me olha, ainda com o cenho franzido, mas muito calmo.
— Quebrei o nariz do cara que gravou aquele vídeo seu. Ele é do time, então...
— James! – Abro a boca, chocada.
— O quê? – Dá de ombros.
— Não acredito que fez isso por um vídeo idiota!
— Também fiz ele excluir de onde quer que tenha postado, já dei meu jeito, daqui algumas horas ninguém mais terá aquela merda.
Fico olhando para ele, e por mais que esteja brava por ele ter agido de forma violenta com alguém, lhe dou um abraço.
— Obrigada por ainda cuidar de mim, mas não use violência para resolver as coisas, combinado? – Me afasto, sorrindo.
Ele sorri de volta, apenas acenando com a cabeça. Eu sei que ele é impulsivo e teimoso, por isso não acredito no seu gesto.
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IMPERFEITA - VOL I
RomanceUma garota imperfeita desejando ser perfeita. Um cara perfeito feliz com sua imperfeição.