IMPERFEITA - VOL I

Capítulo 8: fim do namoro de fachada, ou não

Castanho-claros.

A única coisa que consigo pensar enquanto coloco minhas coisas no armário do colégio, é que os olhos de Tristan Cobain são castanho-claros.

Toco meus lábios, lembrando da maneira em que fui beijada, mas sou interrompida quando ouço a voz de Melissa:

— Garota, pode contar o que foi aquilo na praia imediatamente!

Sorrio, mordo o lábio inferior e fecho meu armário, olhando para as duas garotas de olhos esbugalhados e curiosos me encarando.

— Aquilo foi um beijo – digo, como se não fosse nada de mais.

— Eu sei – ela responde, piscando devagar. — Quero detalhes.

— Oh, ok... – Franzo o cenho. — Ele colocou a língua na...

— Não! – Bonnie quase grita, fazendo-me rir. — Não esses detalhes. O que vocês conversaram?

Suspiro, sentindo meu coração acelerar somente com a simples lembrança.

— Ele é muito gentil, e super educado. Fala sobre coisas boas, não é arrogante e nem esnobe. – Sorrio. — É perfeito.

— Perfeito. – Bonnie repete, acenando com a cabeça. — Tá bom, perfeito. E... vocês foram para onde depois da praia?

— Nós não transamos, se é o que está pensando. – Franzo a testa.

— Não pensei nisso. – Faz careta.

Estreito os olhos, desconfiada, mas relevo a curiosidade das duas.

— Fomos para lados diferentes. Não nos conhecemos de verdade, vamos deixar as perguntas para o próximo encontro. – Limpo a garganta.

Sorrio quando elas arregalam os olhos.

— Vocês vão sair?! – Melissa é incapaz de se controlar, deixando alguns alunos de cara feia por seu escândalo.

— Sim, ele me convidou para comer alguma coisa. Sexta à noite.

Ficamos ali conversando sobre ontem até o sinal para a primeira aula chamar nossa atenção. Cada uma de nós seguimos para aulas diferentes, só dividiremos a sala de aula em quatro horários hoje.

Não consegui focar em muitas coisas, completamente perdida em pensamentos apaixonados.

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Quando somos liberados para o primeiro intervalo, caminho na direção do refeitório, a fim de me encontrar com as meninas.
Passo pelas portas e já olho para todos os lados, procurando por elas no meio de todos aqueles alunos. Meus olhos acabam parando em alguém em especial, e fico surpresa por ele já estar me olhando quando o vejo.

Sinto meu rosto esquentar quando Cobain faz um movimento comprometedor, indicando a porta pela qual acabei de passar. Balanço minha cabeça em negativa disfarçadamente, pois não posso deixar que ninguém saiba sobre nós ainda.

De repente, sou pega de surpresa quando sou abraçada por trás. Assustada, vejo meu namorado parar em minha frente, rindo de algo, mas não consigo saber o que é, pois estou muito focada em olhar para onde Cobain está sentado. Noto quando sua expressão enrijece e seu olhar desvia para outro lugar. Engulo em seco, com medo de perder qualquer possível chance de ficar com ele.

— ... então não consegui pensar em nada bom o bastante para minha última festa neste inferno. E você?

Pisco várias vezes, imaginando que ele esteja falando do baile de formatura de sua turma.

— Não tive muito tempo para pensar nisso, James. Nós podemos conversar? – Sorrio forçado, tentando parecer casual.

Ele franze o cenho, mas concorda, então o puxo para fora dali. Nós dois seguimos para o andar de cima, onde fica a biblioteca, pois é melhor para conversar.

Quando paramos na última fileira, ele me abraça e tenta me beijar, mas viro o rosto e o empurro com cuidado para trás.

— Eu quero mesmo conversar – digo.

Então ele umedece os lábios, cruzando os braços. Encaro seu rosto por segundos intermináveis antes de ter coragem. Acho que é a primeira vez que vou contra a vontade dos meus pais.

— Não sei como dizer. – Suspiro. — Estive pensando na gente, e acho que é melhor terminarmos nosso namoro.

— O quê? – Dá um passo em minha direção, sussurrando. — Por quê?

— Nós dois nem gostamos um do outro. Digo, nos amamos como amigos, acabamos criando um laço bonito de amizade por conta dos nossos pais. Sei que os seus também são tóxicos, caso contrário não aceitariam um namoro voltado apenas ao negócio deles. – Suspiro. — Não preciso mentir para você, James. Sou apaixonada por outra pessoa já faz um tempo, e você também prefere outras garotas.

Ele engole em seco, dá mais um passo em minha direção e segura meus pulsos com cuidado, olhando fixamente em meus olhos.

— Por favor, não faça isso com a gente. Também não preciso mentir, admito que sou egoísta. Se você acabar com o nosso namoro, vou perder muitas coisas naquela porra de família. – Implora.

— Sei disso, James, não se preocupe. Só não quero ficar com a consciência pesada de que estou traindo você, mesmo você fazendo exatamente isso comigo. Para todos, ainda somos namorados. Meus pais não podem imaginar que não estamos mais juntos, então não conte para ninguém.

Ele acena com a cabeça e me abraça, beijando o topo da minha cabeça.

— Me perdoe pelo que faço, é uma maneira infantil e babaca de repor toda a admiração que não tenho dos meus pais. Mas você tem razão, somos melhores como amigos. Amo você, Hope.

Sorrio, o apertando em meus braços.

— Te amo. Mas preciso ir agora. – Afasto-me dele. — Não vem?

— Daqui a pouco, pode ir.

Aceno com a cabeça e me viro, mas antes de dar o primeiro passo, ele me segura pelo braço.

— Nós ainda vamos transar? Porque, porra, você é mesmo boa, Downey.

Olho para ele, embasbacada. Dou um tapa em seu braço, rindo quando ele sorri.

— Não seja babaca, James Blackwell. Não vamos mais transar. – Reviro os olhos.

— Tudo bem, vai embora logo. – Me empurra, brincando.

Sorrio para ele, deixando a biblioteca logo em seguida.

Respiro fundo, aliviada por ter dado tudo certo com James. Preciso contar para minhas amigas, sei que posso confiar nelas. Cobain também precisa saber, não quero que ele pense que sou uma vadia. Porém, quando o procuro para dizer que não tenho mais namorado, não o encontro em lugar nenhum.