Epílogo

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SEIS ANOS DEPOIS





Cansada, encerro mais um dia cheio na clínica. Trabalho o dia inteiro, e agradeço todos os dias por ter tantos pacientes obtendo sucesso em seus tratamentos.
Acabei me tornando fisioterapeuta, e trabalho em uma clínica particular ao lado de uma garota muito gentil, a quem deram o cargo de secretária. Formamos uma bela dupla.

— Maisie, você já pode ir. – Sorrio para ela, que retribui de imediato.

— Claro, já estou indo.

Vejo-a arrumar suas coisas e sair apressada depois de se despedir.

Respiro fundo, com uma ótima sensação de dever cumprido.
Entro em meu consultório e organizo minhas coisas vagarosamente, cuidando em deixar tudo no lugar para amanhã.

Retiro meu jaleco antes de pegar minha bolsa, caminhando para fora do consultório enquanto apago as luzes.
Ao sair, fecho as portas, tomando cuidado ao trancar direito e não ter nenhum prejuízo na manhã seguinte.

Ao me virar para pegar um táxi, interrompo meus passos abruptamente, vendo Cobain do outro lado da rua, encostado em seu carro novo. Não corro para pular em seus braços, apenas fico parada, olhando de volta para ele.

Estou magoada depois de tudo o que aconteceu desde que ele foi embora.
No começo foi fácil, nos falávamos por chamada de vídeo todas as noites, mesmo que ele estivesse cansado da faculdade. Quando ele veio para Los Angeles no primeiro ano, matamos nossa saudade e ficamos grudados um no outro até ele voltar para sua rotina. E então, comecei na faculdade também. Nada mudou, mas nossas noites em chamada de vídeo acabaram se reduzindo para três vezes na semana, em vez de todos os dias. Eu entendia, não era fácil mesmo, principalmente para ele.

No segundo ano ele também veio, e novamente ficamos grudados até ele voltar, e foi aí que as coisas começaram a sair do controle.
Passamos a nos falar apenas uma vez por semana, até eu começar a ligar e ele não me atender mais. Em uma noite, fui atendida, mas o barulho de uma festa não me deixou ouvir nada, então desliguei e chorei de raiva e ciúmes por um bom tempo. No dia seguinte, ele se desculpou, mas nada mudaria o que eu estava sentindo em relação a tudo.

Estou surpresa agora, porque é a primeira vez que ele aparece em quatro anos. Não estou blefando.
No terceiro ano, ele não pôde vir, mas aceitei e fui compreensiva, acabei viajando para lá e passamos duas semanas juntos.
No quarto ano, recebi uma ligação com um breve lamento e uma despedida seca, a qual tentei justificar à mim mesma como cansaço.
No quinto ano, nada dele aparecer, nem mesmo para minha formatura, e então eu explodi. Eu podia voar até Boston, mas não estava tendo tempo para nada desde que passei a ajudar meu pai na empresa. Cobain estava cheio o ano todo, sim, mas duvido muito que fazia algo em suas férias que o ocupasse tanto que não o deixava viajar para ver a família.

Acabamos terminando. Passamos o último ano separados, sem fazer contato nenhum em exatos dez meses. O último mês que passamos juntos foi recheado de brigas, eu não suportava mais ligar e não ser atendida, ou ser e ouvi-lo em alguma festa acompanhado de amigos.

Respiro fundo, pensando no quanto gostaria de ouvir uma explicação depois de tanto tempo, então inicio meu caminho até ele, que permanece inexpressivo.

— O que está fazendo aqui?

— Precisamos conversar – diz.

IMPERFEITA - VOL IOnde histórias criam vida. Descubra agora