Capítulo 43: doença maldita

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Ao abrir os olhos, não consigo evitar um sorriso de contentamento. Espreguiço-me ainda na cama macia, sentindo o sono se esvair aos poucos.

No banheiro, uso um enxaguante bucal, lavo meu rosto e penteio meus cabelos, me sentindo um pouco mais disposta para começar o dia.

Em passos calmos, volto para o quarto e alcanço uma camisa no chão, abotoando-a por completo antes de vestir minha calcinha preta.
Ao abrir a porta, sinto um cheiro delicioso de algo assado, então sigo pelo corredor e desço pela escada, direcionando-me até a cozinha.

— Que cheiro bom – digo.

Cobain me olha, abrindo um largo sorriso ao me ver com sua blusa. Aproximo-me dele, abraçando seu colo nu por trás, acariciando seu peito.

— Bom dia.

— Bom dia. – Beijo suas costas. — O que está fazendo aí?

— Minha mãe fez um bolo para tomarmos café, estou cortando pra gente.

Afasto-me um pouco, apenas para me sentar em uma das cadeiras. De repente, um garoto com cabelos arrepiados surge do nada, arregalando os olhos e penteando os fios rebeldes com os dedos assim que me vê. Sorrio com o seu desespero.

— Não sabia que tinha uma garota aqui – diz.

— Você deve ser o Christopher, irmão mais novo.

— Sou. – Se aproxima, ficando na cadeira ao meu lado.

— Sou a Hope.

— A garota do Tristan? – Franze o cenho. — Você que foi a responsável pelo mau humor dele, então.

— Mau humor? – Ergo uma sobrancelha, surpresa.

O assunto se junta a nós, colocando um prato com vários pedaços de um bolo que parece delicioso. O cheiro, ao menos, está ótimo.
A mesa já está com uma jarra de leite e outra de suco, queijo, pães e biscoitos, além de um prato pequeno com alguns morangos.

— Onde está Donna? – Indago.

— Saiu para ir no mercado. – Cobain responde de boca cheia.

Pego um pedaço do bolo, fechando os olhos ao sentir a textura e o sabor adocicado. Tem gosto de leite condensado, e é como se eu estivesse mastigando uma nuvem. Em um copo, coloco leite puro e frio para acompanhar.

— Vocês estão namorando?

A pergunta do pequeno Christopher me deixa sem jeito, então olho para seu irmão, buscando por ajuda.

— Ainda não – responde.

É uma resposta tão sugestiva, que acabo engasgando com um pouco do leite que desce pelo lugar errado. É vergonhoso, eu sei.

— Tudo bem? – Cobain me observa, parecendo procurar por algum erro depois de me ajudar com mais leite.

— Tudo, só... engoli errado.

O sorriso malicioso que cresce em seus lábios me deixa vermelha, porque sei exatamente no que ele está pensando.

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Depois de receber uma mensagem da minha irmã, tive que voltar para casa, porém, não imaginei que um clima de enterro estaria instalado por todo canto.

— O que houve? – Pergunto, franzindo o cenho ao ver minha mãe no sofá, de cabeça baixa.

— Conte para ela, mãe. – Hailey incentiva, parecendo irritada.

Fico esperando por algo, mas o silêncio predomina por um tempo, antes de minha irmã explodir.

— A mamãe está com câncer, Hope!

Tudo bem que em todos os anos da minha vida, a única coisa que Felicia fez por mim foi me odiar. Ela não foi uma boa mãe para mim, nunca me deu amor ou qualquer demonstração de afeto, mas ela é o mais próximo que eu tenho de algo materno.

— O quê? – Pergunto, em choque.

— Câncer! Você sabia disso? – Ri com ironia.

— Claro que não!

— Pois é, nem eu. – Cruza os braços. — Parece que nossa querida mãe estava escondendo uma doença da gente!

Procuro um lugar para me sentar, sentindo algo estranho se formar em meu peito. É amargo e confuso.

— Felicia, por que não nos contou? – Olho para ela, que ainda está de cabeça baixa.

— Não queria que tivessem pena de mim, seu pai acharia que estou inventando tudo por conta do divórcio ou... eu não sei, talvez só não queira acreditar que seja verdade.

Apóio a cabeça nas mãos, duvidando que tudo isso esteja acontecendo tão rápido, tão de repente.

— Desde quando? – Continuo.

— Descobri há um mês.

— Um mês? – Franzo o cenho. — E não iniciou nenhum tratamento? Onde está o tumor?

Ela leva o indicador direito até a cabeça, apontando para a mesma.
Olho para Hailey, que está com os olhos inundados e a mão tapando a boca.

— É grave? – Engulo seco, com medo da resposta. — Não ouse mentir, merecemos saber a verdade.

Um silêncio cheio de expectativas toma conta da sala, meu coração está acelerado e me sinto ansiosa. É terrível pensar que uma doença como esta não nos prepara antes, ela só vem, derrubando tudo que encontra pela frente.

— É terminal. – Desaba, chorando compulsivamente, fazendo seus ombros tremerem. — Eu estou morrendo, não tenho nenhuma chance de sobreviver. Estou morrendo!

IMPERFEITA - VOL IOnde histórias criam vida. Descubra agora