Capítulo 44: assuntos difíceis de serem tocados

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Meu pai está sentado em seu sofá, com as duas mãos unidas apoiando o queixo. Acabei de contar a ele sobre Felicia, e não obtive nenhuma resposta até então.

— Uma hora ou outra ela teria que pagar por tudo que fez.

Fico desconfortável com a frieza que vem dele, mas não me surpreendo.

— Não consigo me sentir melhor, independente de qualquer coisa – digo, com as mãos nos bolsos do meu casaco.

— Eu entendo, é a sua mãe, você não pode deixá-la de lado agora. Felicia era uma boa moça, mas o tempo e a ganância a transformaram completamente.

— Meredith também tem uma parcela de culpa, aquela mulher é horrível – falo ao me lembrar do que presenciei.

Meu pai acena, concordando em silêncio.

— Só estou te contando, porque eram marido e mulher até semanas atrás, e Felicia nunca contaria por conta própria. Vá visitá-la, se não for pedir muito, ela está muito triste desde que deixou nossa casa – peço.

— Eu vou, mas porque você está me pedindo.

Sorrio e me aproximo dele, deixando um beijo em sua cabeça.

— Tenho que ir agora, é bom ver que está bem. – Mordo o lábio, dando passos para trás. — Até logo.

Ele me acompanha até a porta, e então faço meu caminho até a casa dos Cobain.

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Apenas de camiseta e uma calcinha confortável, olho para a tela da televisão enquanto Tristan faz um carinho delicioso em minha nuca. Estamos assistindo Toy Story 3, ou pelo menos, deixando rolar na tevê, já que passamos a maior parte do tempo nos beijando.

Donna e Christopher estão no hotel, em um jantar importante, então temos a casa para nós por algumas horas.

— No que está pensando? – Pergunta, fazendo-me olhá-lo.

— Na minha mãe. – Dou de ombros. — Aconteceu uma coisa.

— O quê?

— Ela descobriu um câncer. É terminal, não existe algo que possamos fazer para ajudá-la, ela vai apenas... morrer aos poucos. – Suspiro.

De início, ele não diz nada, mas volta a afagar meus cabelos com cuidado.

— As pessoas pagam por tudo o que fazem, Hope. Não acho justo que ela tenha uma doença terminal, imagino o quão terrível seja, mas é assim que as coisas funcionam.

— Você tem razão. Ela fez coisas que você nem consegue imaginar. – Penso em minha irmã, que abortou por ela. — De qualquer forma, eu sinto muito.

— Eu sei que sim, ela é sua mãe. – Sorri, compreensivo.

Levanto minha cabeça de seu colo, tirando a almofada dali e substituindo por meu próprio corpo. Cobain suspira, pousando as mãos em minhas coxas.

— Você ainda sente raiva dela?

— Não como antes, mas me pego pensando que aquele acidente poderia ter sido evitado se Felicia não tivesse jogado a merda no ventilador daquela forma. – Suspira. — Minha mãe e seu pai não deviam ter mentido, acho que todos eles fizeram aquele acidente acontecer.

IMPERFEITA - VOL IOnde histórias criam vida. Descubra agora