A Minha Metade

Folhas Ao Chão

E ali estava eu mais uma vez, sentada no canto da sala com os pensamentos em alta, e a professora de história contando fatos da Revolução Russa, sinceramente acho que entendo por que muitos não gostam de história, ela pode se torna bastante chata se o ensinador também for, por isso foco meu olhar lá fora, pela janela, do outro lado da calçada,  ali está ela linda como sempre, uma árvore, pode se parecer bobo, mas gosto especialmente da quela árvore, eu e o Issac desde o fundamental lanchavamos ali ou então parávamos para bater um bapo, e não, não somos namorados, até por que o Issac é gay, e mesmo se eu fosse um menino, ele nunca se interessaria por mim, sou muito sem sal pra um menino tão cheio de vida.

- bom, isso é tudo por hoje, podem se retirar - diz a professora

Ótimo, já não estava suportando mais, pego minhas coisas e já vou saindo o mais rápido depressa, desço as escadas em direção a saída quando sou surpreendida com duas mãos tapando a minha visão.

- Iai Issac, como foi a aula?

- Droga Laiza, como sempre sabe que sou eu?

- por favor Issac, você é a única pessoa com quem eu falo nessa escola, e também o único que fede a peixe.

- eu trabalho em uma peixaria, você queria o que? Que eu cheirasse a perfume francês?

- olha, eu não reclamaria.

- pronta pra se forma?

- não vejo a hora.

Eu e o Issac estávamos no terceiro ano, faltavam 3 meses para nos formamos e 4 meses para eu fazer 18 anos, Argh que frustração!

- ei, que carinha é essa?

- você sabe, daqui a 4 meses é o meu aniversário.

- olha Laiza, não se preocupe com isso, já disse que lá em casa você é bem vinda

O lá em casa dele significava a casa da avó dele, o Issac foi expulso de casa assim que se assumiu, o pai dele não o aceitou, então ele só teve duas opções, ou negaria a sua sexualidade ou sairia de casa, e bom, ele fez a sua escolha, e sinceramente não quero ser mais um incomodo pra a avó dele.

- Tá tudo bem, eu me viro, até por que eu trabalho e já tenho juntado dinheiro a um bom tempo

- hum.. Sei, Lai saiba que eu sempre serei a família que você não teve, pode sempre conta comigo, eu jamais irei abandona- la.

- Eu sei, meu irmãozinho - em seguida dou um abraço nele

- Vem, faço questão de te levar até o orfanato.

- hum tá bom.

E assim vamos abraçados, quando passamos pela nossa árvore logo percebo algo de errado, há muitas folhas secas no chão.

- Por que tem tanta folha no chão assim?

- Ah Laiza ela deve tá renovando, sei lá, coisas de árvores

- Não Issac, folhas caiem no Outono, não no verão

- Ah é né, então sei lá, ah Laiza por que se preocupar com isso? É só uma árvore vamos

Não é só uma árvore, não para mim.
Continuamos a andar, e como disse o Issac me levou até a entrada do orfanato.

- Pronto, Em casa mocinha

- Muito obrigada senhor- finjo fazer uma reverência totalmente ridícula e ele dar risada

- Bem preciso ir, hoje tem balada e sabe como é né?

- Ainda acho que você vai pegar todos os garotos de São Paulo.

- Não duvide minha cara.

Não podia nem falar nada, por que o Issac é bastante bonito, é pardo, alto, cabelos loiros e usa óculos.

- Pelo menos deixa alguns pra mim oh.

- Vou pensar no seu caso jujubinha. Até mais

- Até.

Ainda bem que tenho o Issac na minha vida, sem ele acho que ela seria totalmente em preto e branco.