Desabafo

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Depois de almoçar fiquei no quarto ouvindo música. Aos sábados eu nunca tinha muito o que fazer, as vezes saia com o Issac, mas ele hoje terá que sair pra resolver uns problemas pessoais, fiquei pensando que eu podia ir ver o Kian, acho que a nossa relação até melhoro depois da quele dia, então não custa tentar, saio do meu quarto e vou até o dele, claro que a porta estava destrancada, mas decidir bater desta vez, e ele logo abriu.

- Você? - diz ele levantando uma sobrancelha - batendo na porta?

- Unn é pse - digo olhando pro lado - posso entrar?

Ele ficou me olhando por cerca de 1 minuto, mas logo disse...

- hum ok, entra aí - diz ele me dando passagem.

Quando entro no quarto, estava como sempre esteve, bem arrumado e organizado, é difícil achar meninos assim tenho que admitir.

- Bom, o que foi? - pergunta ele.

- O que foi o quê?

- Bom, por que veio no meu quarto?

- Anw sei lá, eu queria ver você - falo um pouco desanimada.

Ele pareceu ficar surpreso com o que falei, mas eu só falei a verdade.

- Entendi - diz ele olhando pro chão.

Em seguida eu sento no chão encostada na parede, e ele senta na cama.

- Vem cá, é verdade que você já foi transferido várias vezes de Orfanatos?  - tive que perguntar.

- Sim - diz ele.

- Por quê? - pergunto.

- Eu fugia, na verdade tentava fugir, mas não tinha muito sucesso.

- É, isso eu já percebi - digo rindo.

- Você até que poderia esquecer disso - diz ele sério.

- Do balanço na janela? Nunca - digo ainda rindo - você é péssimo mentindo.

- Aquilo foi mais pra curti com a sua cara - fala ele.

- Ah - digo revirando os olhos.

Passa um tempo em que fica um grande silêncio, mas logo eu quebro ele

- Me conta sobre você - falo entusiasmada.

Ele me olha levantando uma sobrancelha.

- O que você quer saber de mim?

- Humm, poderia começando me falando sobre essa cicatriz no pescoço, foi tentando fugir? - pergunto.

Por um momento ele ficou imóvel como se estivesse viajando em sua mente.

- Creio que isso não seja da sua conta - diz ele olhando para mim.

Ai

- Tudo bem - suspiro - vou falar de mim então, por mais que você não queira saber.

- Eu tô a 12 anos nesse orfanato, entrei aqui com cinco, não tenho muitas memórias da infância, mas me lembro que eu morava com a minha avó, pelo visto fui criada por ela desde bebê, não me lembro o nome dela, e nunca me falaram também, então ela faleceu, e me trouxeram pra cá, é tudo o que sei, não sei aonde estão meus pais, não tenho nenhuma informação sobre eles. já tiveram casais que se interessaram por mim, mas depois que eles descobriam a minha doença eles desistiam  de me adotar, aos 6 anos fui diagnosticada com Insuficiência Cardíaca terminal, faz com que meu coração não funcione corretamente, por conta disso fui muito limitada, hoje os dois lados do meu coração estão afetados ou seja, o meu caso só piorou, e por favor não pense que estou contando isso para que sinta pena de mim, não mesmo, eu odeio ter que aguentar os olhares de pena quando descobrem que sou de um orfanato ou então quando sabem que estou com os dias contados, eu não quero que sejam legais comigo por pena, eu quero ser como qualquer garota de 17 anos, eu sonho em ter uma família, a minha família, mas nem sei se consigo chegar a isso. da qui a 3 meses estarei fazendo 18 e eu tenho que arrumar a minha vida, acho que sempre fui destinada a não ter uma família com pai, mãe e irmãos. A minha família tem sido o Issac e a minha Madrinha que sempre me tratou como uma filha, eles são tudo o que tenho, são eles que me fazem criar forças para enfrentar todas essas circunstâncias.

Depois que falei tudo isso, o Kian ficou me olhando de um jeito que eu não soube decifrar, aqueles olhos verdes tão lindos, mas ao mesmo tempo tão tristes, talvez ele tenha uma história triste também a contar.

- Eu tinha 11 anos.. - Diz ele um pouco relutante olhando pro chão, logo o olhei esperando que continuasse.

- Eu tinha 11 anos quando entrei no primeiro Orfanato, eu vivia com minha mãe e meu padrasto, ele batia em mim e na minha mãe por sua vida ser uma merda, ele bebia muito, e minha mãe usava drogas, na quela época eu não entendia por que ela estava com aquele lixo de homem, mas hoje vejo que era por que ele nos dava abrigo, e de vez em quando comida, ela suportou a maior parte de seu sofrimento por mim, e por mais que ela errasse eu a amava... eu a amo. Eu sempre saia e ia para praia desenhar, me sentia inspirado lá, tinha uma vizinha que sempre me dava papéis para desenhar, ela também comprava matérias de estudos para que eu pudesse ir para a escola, eu gostava tanto dela, porém teve um dia em que eu estava voltando da praia, e quando eu cheguei em casa ele tava gritando com a minha mãe, dizia que ela era um encosto na vida dele, que não servia para nada, em seguida ele desferiu um tapa na cara da minha mãe, eu não sabia como reagir aquela situação, acabei ficando paralisado, mas a minha mãe revidou o tapa, o lixo do meu padrasto ficou uma fera, e disse que aquele seria o dia em que ela iria morrer, então ele foi na cozinha e pegou uma faca, quando voltou foi pra cima da minha mãe, eu jamais iria deixar que aquilo acontecesse, por mais que ela tenha errado muito na vida, ela era a minha mãe, então eu me pus na frente e levei uma facada no pescoço no lugar dela  - diz ele passando a mão pela cicatriz - com os gritos uns vizinhos foram até lá em casa ver o que estava acontecendo, e eles viram eu caído no chão sangrando e minha mãe em estado de choque, logo o meu padrasto tentou fugir, mas ele não foi muito longe pelo que fiquei sabendo, a polícia o pegou, ligaram para a ambulância e eu fui levado as pressas para a emergência, eu não sei como sobrevivi, o médico disse que sou um milagre, depois que fui pro hospital e fui cuidado, uma assistente social foi lá me ver, ela disse que eu não voltaria para casa, que meus pais tinha perdido a minha guarda e que eu iria para um Orfanato, depois disso nunca mas vi a minha mãe, eu não sei se ela ainda está viva ou se está morta, mas quando eu sai da qui irei procura-lá, não sei quem é meu pai, minha mãe nunca me falou, não sei se tenho outros parentes, e se tenho na época eles não me quiseram , então que se dane eles, já tentaram me adotar, mas eu sempre agia agressivamente para que eu não fosse, eu só queria a minha mãe, odiava viver em Orfanatos, odiava ficar longe da minha mãe, odiava cada vez que eu era transferido, e odiava ser olhado como um cachorro sem dono, tenho tentado fugir de Orfanatos a anos, tenho tentado fugir da minha realidade a anos também, tentei fugir de mim a anos Laiza - diz ele me olhando já com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Quando ele me contou aquilo fiquei totalmente incrédula, como ele conseguiu suporta tudo aquilo? Ele levou isso com ele até aqui, achei que me encontrava em uma situação ruim por nunca ter uma família, mas o kian deve ter sofrido bastante, aqueles olhos triste mostram que ele já suportou coisas demais, uma criança jamais deveria sofrer, e sim ser feliz, e ser criança, mas o kian conheceu a maldade do mundo antes da hora.

Me levantei com os olhos cheios de lágrimas, fui até a sua cama, sentei do seu lado e li dei uma abraço, não sei a quanto tempo o Kian ficou sem receber um Abraço, mas ele ficou sem reagir por uns segundos, e depois me abraçou também. O menino frio e distante que parecia viver em um deserto, na verdade vivia em constante luta por dentro... todos nós vivemos em constantes lutas por dentro.

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