Válvula de escape

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As palavras de Bruce ecoam nos meus ouvidos e causam uma reação imediata e esquisita dentro de mim. É como receber uma descarga elétrica enquanto o tempo congela a minha volta. Fico estagnada, presa ao meu infinito particular. Meu coração — idiota — acelera com teimosia. Minhas pernas fraquejam, como se eu estivesse com uma baita fome ou passando mal.

Eu senti sua falta. Foi tudo o que o herói na minha frente disse. Por essa, eu não esperava.

Essas quatro e simples palavras têm um peso muito importante para mim, confesso. Me tiram da defensiva por um segundo. Apenas por um segundo de fraqueza.

Logo recobro a razão e me convenço que não posso esquecer que Bruce foi embora, ficou distante por um ano inteiro, voltou há duas semanas e não me contou nada ou me procurou. Nem sequer pretendia, o que é ainda pior e faz a raiva e a mágoa que sinto se misturarem perigosamente. Sou uma bomba relógio prestes a explodir.

Antes que eu tenha a chance de fuzilá-lo com o olhar, Bruce afasta as mãos das portas e recua um passo, permitindo que o elevador comece a se fechar. Salvo pelo gongo.

Nesse breve momento, penso no que lhe responder. Afiada e no último instante, despejo o que acredito que ele mereça ouvir:

— Vai pro inferno, Bruce.

Só queria ter dito isso mais alto e de uma maneira mais incisiva. Tenho a impressão de que minhas palavras soaram como um sussurro. Talvez ele nem tenha compreendido direito.

É tarde demais para reforçar o recado, já que a estreita abertura, que ainda permitia nosso contato visual, se extingue de vez. De repente, o elevador está descendo.

Apoio as costas na parede de aço e solto a respiração presa em minha garganta. Meu coração, antes estupidamente animado com a confissão murmurada por Bruce para me amolecer, passa a bater de um jeito incômodo e pesado.

Quando as portas do elevador se abrem no andar onde fica o departamento de criação e marketing, hesito e não consigo me mexer. Percebo que não vou ter cabeça para trabalhar hoje e que, por ter acobertado a mentira do amigo, Tony me deve um dia de folga.

É isso, eu preciso urgentemente de um tempo para assimilar o que aconteceu. Convencida disso, aperto o botão que me levará ao estacionamento.

Algum tempo depois, entro no meu carro. Antes de dar partida, envio uma mensagem para o meu chefinho, afinal, apesar de tudo, devo-lhe certa satisfação.

Sem esperar por resposta, desligo o celular para não ser incomodada. Também me certifico de que estou calma o suficiente para não causar um acidente na primeira esquina. Deixo a sede das Indústrias Stark assim que consigo colocar meus pensamentos minimamente em ordem e apaziguar os nervos.

***

Depois de zanzar por Nova York sem rumo certo, finalmente paro num shopping local. Passo boa parte do dia batendo perna e vendo vitrines sem enxergá-las de fato. Só me interessei de verdade quando meus olhos encontraram uma bomboniere.

Chocolate é sempre uma ótima pedida para aliviar o estresse e melhorar o humor, então não hesito em entrar no estabelecimento e deixar uma boa quantia de dinheiro para trás. Isso sem o menor peso na consciência porque, para mim, gastar com chocolate é um investimento pessoal. Por isso mesmo, comprei logo quatro caixas do meu bombom favorito. Um estoque para a semana.

No começo da tarde, depois de ter ficado um bom tempo sentada num banco do shopping, observando as pessoas e pensando na vida enquanto saboreava a oitava maravilha do mundo, decido checar os filmes em cartaz. Um pouco de entretenimento também é ótimo para nos distrair, certo?

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora