Parece um sonho

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Por mais que eu esteja olhando para as velas queimando ao meu redor e sentindo o calor aconchegante das chamas espalhado no ar, a minha mente está vagando, absorta, meio em suspenso em um lugar desconhecido.

Por mais que meu corpo nu esteja entrelaçado a outro corpo nu em meio a uma confusão de lençóis, travesseiros e pétalas de rosa, ainda não acredito no que acabou de acontecer entre mim e Bruce. Aquela frase batida e clichê — Parece um sonho! — não para de se repetir em algum lugar da minha cabeça. No entanto, o toque contínuo e carinhoso no meu ombro, além de me deixar arrepiada, me dá a certeza de que tudo isso foi e é mesmo real.

— No que você está pensando?

A voz de Bruce em minha nuca me causa mais um arrepio incrivelmente bom e me faz sorrir de forma quase involuntária.

— Em muitas coisas e em nada ao mesmo tempo. — Coloco o seu braço em volta da minha cintura e entrelaço sua mão quente. — Nós podemos ficar aqui? Tipo, pra sempre? — sugiro.

— Tipo... ignorar o mundo lá fora e simplesmente passar o resto da vida fugindo? Eu pensei que você não aprovasse esse tipo de comportamento.

Apesar de captar o tom divertido da resposta, sinto a alfinetada também. Há pouco tempo, eu critiquei muito Bruce por ter ido embora para viver às margens da sociedade. Mesmo que eu tenha apenas exposto uma fantasia com meu comentário, ele não deixou essa contradição passar despercebida.

— Estraga prazer — resmungo, dando-lhe uma precisa cotovelada.

Quando ele se encolhe e geme, no entanto, eu fico com dó. Viro em sua direção e faço um carinho em seu rosto. Depois de alguns instantes o observando e pensando no que fizemos, um riso escapa da minha garganta. E diante do semblante confuso que recebo de volta, explano:

— Quem diria que, com essa cara de bobo e jeito quietinho, você fosse se revelar um amante tão intenso e desconcertante, Dr. Banner. Se fosse um aplicativo, eu te avaliava com cinco estrelas bem merecidas agora mesmo.

Um sorriso tímido dissipa a expressão anterior. Sua mão alcança uma mecha do meu cabelo e a coloca atrás da minha orelha. Novo arrepio. Olhos quentes cravados em mim. Nova onda de calor. Então, uma resposta:

— Quando você diz esse tipo de coisa, com esse seu jeito, quem fica desconcertado sou eu.

O beijo que acontece em seguida é uma reação natural diante do clima irresistível que se intensifica entre nós. A atmosfera de sonho está de volta ou nunca se dissipou. O sabor doce dos seus lábios é mais uma prova de que tudo é real.

Entretanto, não consigo embarcar nesse clima propício de novo. Isso porque, de repente, me lembro da criatura por trás do homem e uma pergunta cheia de curiosidade surge na minha cabeça. Afasto-me de sua boca, ignoro a frustração em seus olhos e anuncio:

— Eu preciso perguntar uma coisa!

— Agora? Certo, ok.

A atenção que Bruce concentra em mim me deixa profundamente sem graça. Porque eu percebo que é um questionamento meio idiota e que eu poderia adiar. Para piorar, não tenho ideia de como perguntar de uma forma que não soe estranha.

Ao invés de pensar nas melhores palavras e perguntar de uma vez, começo a me enrolar:

— O Hulk está com você o tempo todo, não é? Digo, mesmo que fique controlado na maior parte do tempo, continua dentro da sua cabeça. Como alguém louco pela senha do WiFi, só esperando uma brecha para usar e abusar da sua internet?

— É uma analogia interessante. — Bruce une as sobrancelhas, provando que, na verdade, a comparação só causou confusão nele. — Aonde você quer chegar com ela?

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora