Desperto aos poucos, lutando contra uma força misteriosa que mantém minhas pálpebras muito pesadas. Perco a batalha e torno a fechá-las. Sinto uma dormência esquisita pelo corpo e parece que a cabeça pesa uma tonelada ou um pouco mais que isso. É como se eu estivesse de ressaca, embora não me lembre de ter bebido na noite passada. Aliás, nem me lembro de ter voltado para casa ontem, tampouco enfiado o pé na jaca.
Como será que vim parar aqui então?
Bingo! Eu não voltei para casa e, certamente, essa cama dura sob meu corpo em nada lembra a espaçosa e confortável queen que me aguarda todas as noites.
Mas se não estou no meu quarto e na minha maravilhosa cama, que lugar é esse?
Buscando a resposta, espanto o resquício de sono e faço um esforço para abrir os olhos mais rápido. Assim que as retinas se habituam com a leve iluminação, observo o quarto branco em volta da cama hospitalar em que estou e todas as lembranças vêm à tona de forma abrupta e veloz.
A série de explosões na cidade. O pânico se alastrando por toda a parte e em cada rosto que consegui distinguir em meio à nevoa de fumaça e poeira. Meu cachorro fugindo em disparada. Bruce se transformando no Hulk bem diante dos meus olhos. Tony me afastando dele e me levando até a Torre dos Vingadores contra minha vontade.
Já totalmente acordada, fico em alerta imediato ao recordar tudo o que houve e com muita raiva ao pensar na última parte. Apesar disso, tento relevar, pois imagino que Stark apenas zelava pelo meu bem-estar e segurança ao se intrometer daquela forma.
Queria que ele tivesse me dado alguns minutos ainda assim. Um momento a mais com o Hulk e talvez eu conseguisse trazer seu alter ego de volta para o volante.
O que será que aconteceu depois que eu desmaiei?
— Bruce... — murmuro quando a preocupação desperta dentro de mim de forma dolorosa e urgente.
Se eu pudesse prever a fisgada aguda que surgiu no meu ombro e irradiou até o braço, não teria me mexido tão depressa ao tentar levantar.
— Merda! — xingo, contendo um gemido e desistindo de sair da cama por ora.
Enquanto examino a tipoia num tom escuro de azul que imobiliza o braço direito, ouço um ruído vindo de algum canto do quarto e olho automaticamente para a poltrona bege perto de mim.
Ver Josh levantando e se aproximando com um sorriso consternado me deixa em parte aliviada, porém também com uma sensação de culpa e certa vergonha. A última vez que o vi, tivemos uma discussão fútil e desnecessária.
— Já acordou xingando, irmãzinha? Então está ótima.
Com toda a confusão, esqueci completamente dele. Na verdade, nem tive tempo de pensar onde Josh estava na hora das explosões, já que tudo aconteceu muito rápido. Vivi uma experiência impactante e turbulenta, um pesadelo real e intenso que me desligou do resto do mundo. E agora que despertei, ainda me sinto estranhamente desnorteada. Não tive tempo de pensar nele até abrir os olhos e vê-lo na poltrona, esperando que eu acordasse.
De qualquer forma, é muito reconfortante constatar que Josh não sofreu nenhum arranhão. Ele está aqui, são e salvo bem na minha frente, ao meu alcance.
Estico a mão boa e o puxo para perto de mim. Envolvo meu irmão com um abraço desajeitado e caloroso, ao mesmo tempo em que me sento com certa dificuldade. Parece que eu levei uma surra e, desta vez, um gemido escapa da minha garganta sem que eu consiga conter uma careta também.
— O efeito do analgésico deve ter passado. — Josh se acomoda de frente para mim, enquanto me apoio melhor contra a cabeceira. — Não se preocupe. Fora uma luxação no ombro e uma leve concussão nessa cabecinha desmiolada, você não sofreu nada grave. É como dizem, vaso ruim não quebra.
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A Bela, o Outro Cara & Eu
FanfictionQuando o mundo viu o Hulk fora de controle durante os eventos de Era de Ultron, Bruce Banner decidiu desaparecer do mapa ao final da batalha. Ir embora sem olhar para trás lhe pareceu a solução ideal e correta, afinal ele não queria arriscar que al...