Vestido de noiva

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Com hoje, esta é a terceira vez em três semanas que me vejo em pé diante desse espelho, num ateliê intimista no limite de Manhattan, encarando o reflexo de um lindo vestido branco e longo que marca minha silhueta com elegância.

O tomara que caia em formato de coração tem um bonito efeito drapeado na altura dos seios. E um detalhe bordado em fios prata bem abaixo do busto arremata o modelo acinturado com um ar de sensualidade sem ficar vulgar.

Acho que nunca me senti tão bem em um vestido antes de provar esse. Tão bonita, feliz e completamente boba pelo homem que me fará usá-lo oficialmente na semana que vem e que irá me despir dele horas depois da cerimônia.

Ouço um fungado em algum lugar atrás de mim e desperto dos pensamentos românticos. Então procuro por Josh no reflexo do enorme espelho.

Sentado numa poltrona no canto do ateliê de vestidos de noiva, ele disfarça a emoção muito mal enquanto enxuga os olhos marejados. Funga mais uma vez e sorri sem jeito na minha direção.

Inclino levemente a cabeça, intrigada com a frequência com que isso vem acontecendo. Três vezes em três semanas.

— Sério? De novo? Você é muito manteiga derretida.

— É que você está tão linda, irmãzinha — a voz sai fraca, quase embargada.

O comentário me faz ruborizar um pouco e sorrir lisonjeada. Mas então...

— Quem diria que com esse gênio de cão fosse encontrar um sujeito tão fofo disposto a se casar de bom grado com você? Se você conseguiu, há esperança para todas as outras mulheres na mesma situação.

E meu sorriso se esvai rápido, dando lugar a um olhar atravessado que lanço para ele.

A costureira que me rodeia, fazendo um ajuste aqui, outro ali, fica roxa ao tentar segurar o riso. Quase sinto dó, porém esqueço tal sentimento quando ela franze o cenho de repente, intrigada com alguma coisa enquanto analisa o caimento da peça.

— Algum problema?

Ela volta a si e se mostra solícita ao explicar:

— Nada que mais um ajuste não resolva, não se preocupe.

Não sei por que tenho a impressão que com ajuste, ela quis dizer folga. Andei comendo muita batata frita nos últimos dias. Nunca tive tendência a engordar, mas posso ter abusado do carboidrato — de chocolate também — e quebrado essa magia.

Ando ansiosa ao pensar no casamento e na vinda dos meus pais para conhecer Bruce. Os dois chegam amanhã, sábado, e no próximo já será o casamento.

Sem falar nos últimos eventos envolvendo os Vingadores. Eles também mexeram comigo. E com Bruce.

Resumindo, os Vingadores não existem mais. Ou pelo menos romperam relações por tempo indeterminado, depois da batalha catastrófica num aeroporto na Alemanha. Aqueles que concordavam com o Homem de Ferro de um lado e aqueles que optaram por seguir o Capitão América do outro. Uma batalha muito além do Tratado de Sokovia. Tornou-se pessoal, envolvendo a amizade de Steve com Bucky Barnes, com Tony e as ações de um sokoviano chamado Zemo que, até onde sabemos, armou toda a discórdia desde o começo.

Como fez uma promessa, Bruce se manteve neutro durante a verdadeira guerra civil que se desenrolou. Não foi fácil para ele não tomar um lado. Mas como qualquer aparição do Hulk poderia levá-lo direto para as mãos de Ross, e ele amargaria numa prisão de segurança máxima sob o oceano, ele se viu obrigado a manter distância do olho do furacão até o fim da louca tempestade. Além disso, ter que escolher entre os amigos acabaria com ele.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora