Um futuro hipotético

139 20 1
                                    


Sinto algo suave percorrendo meu rosto. Dedos que traçam linhas invisíveis e me despertam pouco a pouco. Sorrio, abrindo os olhos devagar para me habituar à claridade da manhã que se espalha pelo quarto. Esperando ver Bruce ao meu lado, sou tomada por um grande assombro ao reconhecer alguém totalmente diferente na cama.

Kurt abre um sorriso cretino e apoia o peso do corpo no cotovelo esquerdo enquanto me encara desafiador.

— Bom dia, raio de sol. Dormiu bem?

Alarmada e com um sentimento revoltante se agitando dentro de mim, sou arrancada desse terrível pesadelo e me sento em meio aos bagunçados lençóis. Puxo o ar com força e hesito por um segundo antes de olhar para o outro lado da cama.

Respiro aliviada ao ver Bruce dormindo. Profundamente a julgar pela respiração cadenciada. Sobre o criado-mudo atrás dele, o relógio marca oito horas e vinte minutos.

Acho ótimo que ele não tenha acordado porque, com certeza, estranharia meu comportamento agora. E seria bem difícil contar que sonhei com Kurt, por mais que tenha sido um pesadelo horroroso e impossível de se concretizar, e não um sonho de verdade.

Confesso que tenho pensado muito no canalha nos últimos dias. Não por saudade de qualquer sentimento doentio que tive por ele um dia. Kurt assombra meus pensamentos porque, graças ao seu envolvimento com o General Ross e sua recente prisão, tornou-se um assunto recorrente.

Contrariando o que eu esperava dele, o infeliz recusou um acordo de colaboração oferecido pela S.H.I.E.L.D. Se ajudasse a conseguir provas concretas contra Ross, ele teria sua pena abrandada no final do julgamento ao qual será submetido em breve. Ao invés disso, Kurt deu as costas a esse benefício — algo que não condiz com o mesmo sujeito que desapareceu do mapa há alguns anos por medo de ser preso.

Bruce acredita que Kurt recusou a oferta por medo do general e de sofrer represálias no futuro. Eu, no entanto, sinto que algo na recusa não se encaixa com seu caráter. Ou com a falta de caráter, melhor dizendo.

Fecho os olhos por um momento e tento afastar esse maldito assunto da minha cabeça. Juro que vou me esforçar para mantê-lo em suspenso pelo menos por hoje, mesmo que eu tenha que fingir que nada disso aconteceu.

Pensando assim, levanto-me com cuidado e sigo rumo ao toalete da suíte. Depois de um banho rápido e de me vestir, sussurro um "Eu te amo" no ouvido de Bruce e abro a porta do quarto com cuidado. Antes que eu dê um passo para fora, Josh entra no meu campo de visão.

— Bom dia, amor! Já que a montanha não vai até Maomé, resolvi te fazer uma visitinha. — Ele me abraça do seu jeito caloroso, porém, de repente, vira uma estátua de gelo. — Ai. Meu. Deus. — murmura, estarrecido, sobre o meu ombro.

— Fala baixo, você vai acordá-lo — alerto baixinho, empurrando-o enquanto saio do quarto e fecho a porta do jeito mais silencioso que consigo.

Frente a frente comigo no corredor, meu irmão gagueja ao perguntar:

— Aquele é... o B-Bruce?

— Não, um androide criado para me satisfazer. É claro que é o Bruce.

Admito que, com a prisão recente de Kurt e a descoberta sobre o General Ross ter orquestrado as explosões à bomba na cidade, posso ter esquecido de mencionar para Josh que meu relacionamento com Bruce evoluiu para a parte divertida. Mesmo assim, não entendo por que tanto choque em seu semblante ao vê-lo na minha cama.

— Vocês... Vocês dormiram juntos?

— É, em algum momento nós dormimos, sim. Por que o espanto?

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora