Rendido

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Cada vez mais me sinto preso ao beijo de Amelia. Envolvido por esse momento. Entregue a ela e a mim mesmo. Finalmente.

Em minha defesa, não tive mais forças para resistir. Acho que enfim cansei de aprisionar as sensações que ela despertou em mim desde que cruzou meu caminho. Sensações que criaram raízes teimosas e se expandiram sem controle à medida que fomos nos aproximando e eu tentando me esquivar. Sentimentos que a distância temporal e geográfica não conseguiu abalar ou diminuir. Ao contrário, ter me distanciado por um ano apenas intensificou meu desejo por sua companhia e a paixão que tentei inutilmente ignorar.

Acontece que essa noite me mostrou algo bem óbvio que, durante todo esse tempo, me recusei a enxergar: não dá para lutar contra o que sentimos e contra o que queremos. É inútil e nos deixa infeliz. Fugir do que desejamos não é a resposta.

Ao me dar conta disso, percebo também que cansei de me privar de uma vida normal, de imaginar que é possível sim ter algo especial com Amelia. Alguém que faz o meu pulso acelerar em questão de segundos e deixa meu corpo mais quente — e vivo — quando está por perto ou simplesmente por habitar meus pensamentos sem que eu consiga tirá-la de lá. Alguém que não me dá outra escolha a não ser entregar os pontos de vez e deixar nossa história acontecer.

No fundo, eu sempre soube que resistir era uma batalha perdida. A diferença é que agora consigo admitir. É libertador fazê-lo. Estou muito feliz por ter me rendido e entregado não só os pontos, como meu coração inteiro também. Ele já era dela de qualquer forma. Quem eu estava tentando enganar esse tempo todo?

Mesmo que eu esteja sendo egoísta por me dar ao luxo de esquecer o agravante verde que faz parte de quem eu sou e que pode colocá-la em risco eventualmente, a verdade é que eu quero Amelia na minha vida de qualquer jeito. Exato, nessa vida torta e perigosa da qual tentei afastá-la tantas vezes. Na única vida que eu tenho a oferecer e que ela, claramente, aceita com todos os riscos envolvidos.

Uma maluca... Doida de pedra por me querer assim.

Sei que estou diante de um ponto sem retorno mas, tudo bem, porque eu não pretendo voltar atrás. Não há nada no mundo que me faça desistir dela agora. Nunca mais, como lhe prometi há pouco.

Acho que também fiquei maluco...

Ao aceitar que me apaixonei de novo e por acreditar que dessa vez vai dar tudo certo, varri meus medos e ressalvas para debaixo do tapete. Junto com o resquício de bom senso que abandonei ao fechar os olhos para beijar Amelia como há muito tempo queria fazer.

"Banner não é tão fracote assim."

A voz do Outro Cara aranha meu subconsciente de súbito, feito o ruído incômodo de giz em contato com uma lousa. Sinal de que o nível de adrenalina na minha corrente sanguínea está se elevando. Pouco a pouco. Perigosamente. Uma resposta automática do meu corpo ao beijo que não consigo interromper.

Conviver com o Hulk é como dividir um volante. Uma mão é a minha; normal e pálida. A outra é a dele; gigantesca e verde. Na maior parte do tempo, estou no controle. Porém, em certos momentos, o Hulk é mais forte e me empurra para o banco do passageiro. Ele assume totalmente a direção, o meu corpo, a minha vida; e eu mergulho num pesadelo desconexo e assustador. Até retomar o controle, sob seus protestos.

Para minha sorte, ainda estou no volante, embora já possa sentir uma agitação anormal tentando dominar minha consciência pouco a pouco. É o primeiro sinal de que algo está saindo dos trilhos.

Nem sempre a raiva é o fator que motiva a transformação. Emoções fortes de uma maneira geral tendem a alterar a química do corpo humano, e eu não estou livre disso. Paixão e o desejo carnal que ela carrega são exemplos de sensações que elevam a adrenalina e os batimentos cardíacos a um nível insuportável, tanto quanto a raiva ou uma situação estressante.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora