Lar doce lar

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A casa de dois andares e um amplo sótão foi o presente de casamento de Tony e Pepper. Um exagero, mas também uma demonstração de grande amizade e votos de felicidade que nem eu nem Amelia tivemos coragem de recusar.

Ao invés disso, ficamos muito agradecidos aos dois e já trouxemos a maioria das nossas coisas para cá. Boa parte delas ainda dentro de caixas amontoadas pela aconchegante sala de estar e no quarto de casal lá em cima.

O imóvel possui ainda uma versão mais modesta do meu laboratório no subsolo, permitindo assim que eu continue minhas pesquisas e trabalhos em parceria com as Indústrias Stark e com a S.H.I.E.L.D. no conforto do meu lar. Mas não a independência total, a ponto de não ser mais necessário passar algumas horas semanais na Torre dos Vingadores, enfurnado no meu laboratório original com Tony dando seus pitacos.

Claramente, uma tática para me manter por perto e não sentir grande impacto na nossa amizade por causa da minha mudança de endereço. Algo que entendo perfeitamente e aprovo porque Tony é o meu melhor amigo e sem dúvida sentiria a falta dele também. Além disso, depois que ele voltou da Sibéria, sinto que precisa mais de mim, mesmo que não seja do tipo que se abre muito, tampouco admita que levou um grande baque.

Localizada numa rua bem tranquila e arborizada do Queens, num quarteirão onde temos poucos vizinhos, a propriedade tem ainda um quintal espaçoso com grama aparada, cercas brancas e uma casinha para o nosso cachorro, Hulk.

O único problema é que ele parece ter gostado mais da sala de estar do que lá de fora. Especialmente, de um dos sofás que fica recostado à janela coberta por cortinas cor de creme.

Josh deixou o Hulk na Torre essa manhã, porque ia acompanhar a irmã na prova do vestido. E eu o trouxe comigo depois que falei com ela pelo celular, pois achei que seria uma boa ideia o cachorro enfim conhecer onde vai morar depois do casamento. Não esperava, no entanto, que ele fosse se sentir tão à vontade e tão rápido.

Deitado no sofá ainda coberto por um plástico para protegê-lo do pó, o enorme são bernardo me encara com seus olhos castanhos amendoados e doces, a cabeça baixa entre as patas. Aposto que ele sabe que está abusando da hospitalidade, mas espera me vencer com a expressão inocente de coitadinho.

Bom, funciona. É um golpe baixo, afinal.

— Tudo bem, você venceu. Pode ficar dentro de casa, morar com a gente, tanto faz.

Como se tivesse compreendido minhas palavras, ele ergue o pescoço com uma expressão animada. O rabo peludo balançando de um jeito frenético. Os olhos dardejando com um brilho de vitória.

Sorrio para ele e afago seu dorso antes de checar a hora no celular. Amelia não é a pessoa mais pontual do mundo, porém os trinta minutos que levaria para me encontrar aqui já viraram quase uma hora e meia.

A mensagem que enviei a caminho daqui, para avisar que eu já tinha comprado nosso almoço e ela não precisava se preocupar com essa parte, ainda não foi marcada como lida. Estranho, mas talvez ela não tenha achado o celular ainda, certo?

Ergo o olhar para o Hulk versão canina e uno as sobrancelhas ao perguntar a ele:

— Ela vai me achar paranoico se eu ligar de novo? Ou apenas rir de mim daquele jeito que faz eu me sentir um idiota?

O Hulk abaixa as orelhas e volta a encaixar a cabeça entre as patas, eximindo-se de esboçar qualquer opinião.

— Ajudou bastante — ironizo, olhando para a foto do contato na tela, que mostra Amelia sorrindo de um jeito tranquilo, enquanto tento me decidir sobre ligar de uma vez ou esperar mais um pouco.

Eu nunca fui do tipo sensitivo ou que sequer acreditava nessas coisas, mas a sensação estranha que tive mais cedo me pareceu tão fundamentada, tão real, como algo esticando meus nervos ao limite, que simplesmente precisava ouvir a voz de Amelia para sossegar.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora