Final - Sete Minutos

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Faço um esforço para me desligar de tudo que vivenciei nesse maldito covil e me concentrar apenas no agora. Apenas no Gigante Esmeralda que se aproxima de mim e que, assim como há alguns anos, acabou de salvar a minha vida.

É difícil porque, a todo momento, a morte de Nadia Sterns ameaça me assombrar. Ela era uma mulher asquerosa que pretendia me matar e destruir Bruce. Apesar disso, era um ser humano afinal, uma vida que se perdeu. Será que estaria morta se eu não tivesse jogado Philip contra ela? Ele tinha razão quando me acusou de ser a culpada pelo último suspiro da sua mãe?

Balanço a cabeça e fecho os olhos, desnorteada pela crise de consciência. Não quero pensar nisso agora. Não posso. O Hulk, é nele que devo me concentrar. Apenas nele. Não no que aconteceu até aqui, muito menos na dor excruciante no meu ombro direito, que o infeliz do Sterns apertou com tanta força que quase perdi o fôlego tamanha a dor. Com um novo esforço, enterro a lembrança da tortura, o som do disparo que atingiu Nadia e a possível culpa nos recônditos da minha mente.

Volto a abrir os olhos bem no instante em que o Verdão ergue os braços, preparando-se para esmurrar a cadeira reclinável onde ainda me encontro presa.

Alarmada, grito para impedi-lo:

— Espera!

Ele se detém e me encara de volta, visivelmente confuso. Os musculosos braços estagnados no ar.

— Hulk quer esmagar cadeira estúpida! Tirar Bela daí!

Tenho que fazer um esforço para não rir da sua inocência, enquanto meu peito se aquece diante do apelido carinhoso.

— Olha, eu também detesto essa coisa, mas você precisa ser delicado.

O Gigante de Jade franze o cenho, parecendo ofendido.

— Hulk não é fracote delicado!

Que Deus me ajude, não posso rir dele. Respiro fundo, mantenho o sangue frio e o foco na situação. Decido ser direta e cautelosa ao mesmo tempo:

— Bem, você terá que ser porque eu quero sair daqui viva. De preferência, com meus dois braços e minhas duas pernas no lugar. Esmagar a cadeira estúpida vai acabar me machucando. É isso que você quer? Me machucar?

Agora ele não parece mais ofendido e sim perturbado com a possibilidade levantada. Dá um soco no chão, fazendo o mundo estremecer à minha volta, e resmunga com um esgar:

— Não! Hulk ia ficar furioso se machucasse Bela!

— Ótimo, então estamos entendidos. Não tem outro jeito, você será delicado e ponto final. — Sem perder tempo, indico as travas com o olhar e oriento o esquentadinho: — Está vendo essas coisas nos meus tornozelos e nos pulsos? Você vai se concentrar em uma por vez, vai tomar cuidado comigo e esmagar apenas as travas... delicadamente. — Reviro os olhos, criticando a combinação de palavras: — Se isso faz algum sentido, claro.

O Hulk me encara com ar de incerteza, como se perguntasse a si mesmo se entendeu direito ou se será capaz de realizar uma tarefa assim. Espero muito que ele seja.

Enfim disposto a arriscar, ele aproxima a mão verde do meu pé. Os dedos enormes pairam sobre a trava e ele hesita, inclinando a cabeça para o lado. Os grandes e expressivos olhos ainda em dúvida, estreitando-se sob a testa franzida.

— Eu confio em você — digo em incentivo, recebendo um olhar indecifrável de volta. — Mas... ainda assim, acho melhor fechar meus olhos por enquanto. Sou muito ansiosa e isso pode te atrapalhar, espero que entenda.

Cerro as pálpebras com força no exato instante em que a mão gigante pesa sobre a trava no tornozelo esquerdo. Não o suficiente para me incomodar com alguma dor, sinal de que o Hulk está mesmo se esforçando, concentrando-se apenas no que eu pedi que fizesse.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora