Nervos à flor da pele

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É um pesadelo. Só pode ser um pesadelo. Tony não jogou uma bomba dessas no meu colo. Ele não insinuou que Kurt tem algum envolvimento com toda essa história de inimigo misterioso do Hulk. Eu imaginei.

Kurt não teria por que se envolver em algo assim, em ajudar alguém a prejudicar o Bruce, um homem que ele nem conhece. Tem que haver uma explicação racional para o que penso que ouvi de Tony, mas não ouvi de verdade.

Enquanto caminho ao lado de Bruce — visivelmente tenso e igualmente confuso — rumo ao escritório do seu amigo na Torre dos Vingadores, cogito questioná-lo justamente sobre isso. Preciso que ele me tranquilize, que diga que eu fiquei maluca, que ninguém mencionou o nome do meu ex-namorado, tampouco no contexto que pensei ter entendido.

Aquele maldito carma em forma de canalha não voltou para me assombrar e não vai complicar ainda mais as coisas.

Tão logo adentramos a suntuosa sala de Tony, dou de cara com uma imagem de Kurt Lockwood numa tela holográfica suspensa no ar. A fotografia de rosto está emoldurada por um pano de fundo negro com o emblema da S.H.I.E.L.D. no canto superior. Ao lado, há uma lista de dados pessoais e uma legenda em vermelho na qual se lê: PROCURADO.

— Tudo tem limite, Tony. Pelo amor de Deus, até você precisa ter algum — ralho, sem muita firmeza nas palavras. — Que brincadeira de mau gosto é essa? De péssimo gosto!

Pois é, eu ainda tenho esperança de que tudo não passe de uma piada muito idiota.

O Homem de Ferro, que estava de costas e em pé diante da tela, vira-se para nós e olha para mim com seriedade. Com uma seriedade que não condiz com quem ele é na maior parte do tempo. Com uma seriedade que eu gostaria de não ter visto em seu semblante agora.

— Lamento desapontá-la, mas não estou mentindo. Das poucas coisas com as quais eu não brincaria, essa sem dúvida entrou para a lista delas. Aliás, eu não teria ido até o seu quarto e atrapalhado o casal 20 à toa. Não depois de tanta torcida. Mas agora que os dois pombinhos estão aqui, acordados e devidamente vestidos... Bom, sinto muito, nós precisamos conversar sobre o seu ex, Amy.

Engulo em seco, convencida de que não se trata de uma armação para me tirar do sério. Conheço Tony já algum tempo para saber que ele não brincaria mesmo com um assunto desses.

— E o que esse sujeito tem a ver comigo? — Bruce indaga, ao meu lado. — Como assim ele hackeou o meu celular? Quando? E como? Como a S.H.I.E.L.D. descobriu?

— São muitas perguntas, meu amigo. — Tony indica um moderno sofá claro perto dele. — É melhor você e a sua senhora se sentarem.

Bruce dá um passo na direção do estofado, porém estanca um segundo depois, quando me ouve protestar com uma tensão crescente:

— Eu estou bem de pé. Fala logo o que está acontecendo, odeio tanto suspense. O que aquele infeliz aprontou?

Sinto dedos macios roçarem os meus. Seguro a mão de Bruce como uma resposta natural do meu corpo à sua proximidade. Olhando bem para mim, ele orienta:

— Amelia, você precisa manter a calma.

— Eu estou calma, droga! — esbravejo meio no susto e calor do momento.

Ao perceber a contradição e como o pedido é irônico vindo do alter ego do Incrível Hulk, respiro fundo e me controlo.

— Ok, estou calma agora, desculpe. Vamos sentar, é uma boa ideia.

Permito que Bruce me guie até o sofá e me acomodo ao seu lado. Sento na beirada, incapaz de abandonar a postura ansiosa por completo. Não consigo soltar a sua mão tampouco, porém ele não parece se importar com a força esmagadora comprimido seus dedos.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora