Porquês e mais porquês

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Há uma coisa que vocês precisam saber sobre mim. Quando alguém diz "Fique à vontade, a casa é sua", eu levo ao pé da letra e não me faço de rogada. Afinal, seria até grosseiro dispensar tanta gentileza e hospitalidade, certo?

Por isso, não hesitei nem por um segundo quando Tony soltou essa frase, pouco antes de desaparecer do meu alcance de visão sob o pretexto de que precisava fazer uma ligação particular urgente e que retornava em poucos minutos. Tratei logo de procurar a cozinha da sua fortaleza, planejando tomar uma boa xícara de café e talvez afanar uns biscoitinhos e algumas torradas, já que acordei muito atrasada e não tive tempo de fazer a primeira e sagrada refeição do dia como se deve.

Fico feliz por ainda me lembrar do caminho que logo me traz à cozinha — a Torre dos Vingadores pode ser um verdadeiro labirinto se você não tiver o mínimo de memória espacial. Também me pego meio nostálgica por recordar das inúmeras vezes em que estive aqui ao visitar a Liv, num passado que parece estranhamente distante agora.

Penso na minha melhor amiga e na saudade que sinto da maluca fora da casinha que ela é, enquanto procuro uma caneca em um dos armários. E já estou diante da moderna máquina de café, capaz de preparar uma gama de variedades da bebida, quando ouço passos em algum lugar atrás de mim.

Por instinto e imaginando que é Stark, viro-me na direção da entrada, já com meu mocha devidamente pronto. Para minha surpresa, vejo Bruce entrando na cozinha. Distraído, meio descabelado e de pijama, ele não percebe minha presença logo de cara.

Talvez eu não devesse, mas aproveito a oportunidade para analisá-lo com certa atenção. Na verdade, é impossível não achá-lo gracioso com a simples combinação de cinza e preto da sua roupa de dormir. Tampouco ignorar que a calça do pijama está perigosamente baixa. O suficiente para me causar uma palpitação e um calor imediato.

Isso é uma das coisas que admiro em Bruce: a sua capacidade de ser atraente de uma forma natural, sem chamar muito a atenção de olhos habituados aos estereótipos musculosos, mas chamando a minha atenção mesmo assim pela sua simplicidade e beleza crua. Bruce Banner é um homem com cara de homem. Dono de uma doçura viril.

Tentando brincar com o efeito que ele ainda causa em mim, solto em tom despretensioso:

— Ô lá em casa...

Ergo o olhar aos poucos, de propósito, para que ele me pegue terminando a análise criteriosa e encontre meus olhos ao final dela. Funciona, como o previsto.

Bruce estanca no lugar e sua expressão traduz bem o conceito de branco feito um fantasma. Chega a ser engraçado observar a surpresa e o embaraço em seu rosto. Não sei se por me ver aqui, na sua zona de conforto, ou em virtude do que eu fiz e disse.

Outras coisas que adoro nele: sua timidez e seu jeito meio atrapalhado. É realmente encantador. Me dá vontade de levar para casa e cuidar.

Controlo a vontade de rir do meu último pensamento e me lembro que estou tentando ser sua amiga agora. Apenas isso.

— Amelia, o que... O que você está fazendo aqui? — Bruce gagueja, parecendo meio tenso.

Ele contrai os ombros, encolhendo-se como um bichinho assustado. Disfarçadamente, aproveita para ajeitar a calça do pijama, subindo-a um pouco.

Que pena!

— E eu que sei? Pergunte ao Tony — replico, dando de ombros.

Ainda não entendo o que estou fazendo aqui. Meu chefe apenas requisitou, por meio de uma curta e direta mensagem, que ao invés de ir para as Indústrias Stark, eu devia me dirigir à Torre essa manhã. Então, nesse ponto, estou tão confusa quanto Bruce aparenta estar. Meu palpite é que Tony está a fim de trabalhar via home office hoje. Por que isso me envolve, não sei ao certo.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora