Uma parte de mim ainda quer acreditar em um milagre. Quer acreditar que eu e Bruce vamos sair daqui, juntos e razoavelmente bem. Entretanto, se essa parte de mim está completamente equivocada, quero ao menos juntar todas as peças do terrível quebra-cabeças que estamos vivendo. Quero respostas antes de enfrentar o que vier.
Foi por isso que exigi que Philip Sterns, o falso Kurt Lockwood, contasse toda a verdade sobre ele mesmo e como trilhou o plano de vingança contra Bruce.
Na época em que namoramos, eu jamais desconfiei do lado sombrio de Kurt. Jamais imaginei que ele sequer tivesse um. Muito menos que fosse capaz de se envolver em algo tão monstruoso quanto à HYDRA.
Claro, no meu íntimo, eu sempre soube que ele era um vagabundo e que não valia muita coisa. Mas daí vir a se tornar alguém tão calculista e cruel no futuro? Nunca.
É perturbador imaginar que caminho ele trilhou até chegar aqui. Ao mesmo tempo, desperta uma curiosidade que preciso saciar.
Por isso, quando ele pergunta por onde deve começar, articulo a primeira de muitas perguntas que martelam na minha cabeça:
— Desde quando você está ligado à HYDRA?
Sem demora, demonstrando até certo prazer, ele responde:
— Eu fui recrutado um pouco depois que a nossa história terminou, Amy. Um pouco depois de fugir de Nova York e te deixar para trás. — Philip lança um rápido olhar para Bruce do outro lado do covil. — Aliás, deve ter sido traumático quando ele fez o mesmo com você. Quando foi embora e despedaçou o pobre coraçãozinho de Amelia Prescott. Parece que o seu destino é sempre ser abandonada, deixada para trás, como alguém totalmente dispensável. Já parou para pensar nisso?
Philip finge uma expressão de choro, enquanto noto o semblante de Bruce se verter em arrependimento, em tortura, por ter me ferido naquela época. Por mais que eu não guarde mais mágoa, nesse momento percebo que ainda é um assunto do qual Bruce se envergonha.
Com raiva, encaro Philip e, num tom tão cruel quanto o que ele adotou, esclareço:
— Bruce não fez o mesmo que você. Ele foi embora acreditando que estava me protegendo assim e porque precisava de um tempo para se entender melhor. Ao contrário de você, que só pensou em salvar a própria pele e agiu como o covarde nato que é.
Enquanto ele esboça um sorriso frio e desgostoso, Nadia, até então concentrada num computador no mezanino, protesta com certa ira:
— Lave sua boca antes de falar qualquer coisa do meu filho, sua vadia imunda, ou eu mesmo acabo com você num piscar de olhos.
Duvido. Eles vieram até aqui planejando que o Hulk... desse um jeito em mim, não vão jogar tudo para o alto agora.
— Vadia imunda? — repito, como se tivesse me ofendido. — Poxa. O que aconteceu com querida e meu bem? Eram falsos, mas pelo menos mais gentis. Só porque eu falei umas verdades sobre o filhinho da mamãe mereço ser destratada desse jeito?
Nadia lança um olhar gélido na minha direção e, por um instante, imagino-a pulando do mezanino só para me estrangular com as próprias mãos aqui embaixo.
Bruce, por sua vez, exala preocupação e pede:
— Amelia, não a provoque. Por favor.
Mas Nadia parece comprometida demais com algo no computador e releva o que eu disse. Concentrando-se na tela e fazendo o ruído suave do teclado se espalhar pelo covil, ela se limita a orientar o filho:
— Eu estou quase terminando por aqui. Se faz tanta questão de explicar qualquer coisa para essa infeliz, faça logo. Nós temos que sair daqui juntos.
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A Bela, o Outro Cara & Eu
FanfictionQuando o mundo viu o Hulk fora de controle durante os eventos de Era de Ultron, Bruce Banner decidiu desaparecer do mapa ao final da batalha. Ir embora sem olhar para trás lhe pareceu a solução ideal e correta, afinal ele não queria arriscar que al...