Epílogo

140 18 1
                                    

Desperto com um gemido baixo. Cada parte do meu corpo dói como se eu tivesse levado uma baita surra do Rocky Balboa. Ao abrir os olhos e dar uma boa observada na minha situação, pergunto-me se não foi exatamente isso que aconteceu. Há uma tipoia no meu braço direito, hematomas no outro e dor por toda a parte. Sem falar numa náusea muito forte.

Estou numa cama hospitalar, num quarto claro e sem janelas. Uma sensação estranha me domina enquanto analiso o ambiente e vejo meu irmão cochilando na poltrona perto da cama. Uma sensação de déjà vu que me deixa desnorteada.

— Josh? — chamo, a garganta muito seca.

Ele acorda de repente e num piscar de olhos já está de pé ao meu lado. Sorri, sem dúvida muito aliviado por me ver, e repousa a mão sobre a minha com cautela.

— Ah, meu amor. Como está se sentindo?

Decido ser franca.

— Péssima. Parece que um caminhão me atropelou com tudo.

Rio de leve e me arrependo. A dor me inunda.

— Imagino... — Josh abaixa o olhar, e percebo o sofrimento em seu semblante. — Nem acredito que quase perdi você, irmãzinha. Nunca mais me dê um susto desses, ouviu? Eu não tenho estrutura emocional para lidar com algo assim de novo.

Zonza, seguro sua mão de volta. Ele funga. Sempre uma manteiga derretida...

— Ei, eu estou aqui. — Olho ao redor, confusa. — Por falar nisso, onde estou exatamente?

Meu irmão me encara como se não tivesse entendido a pergunta, o cenho franzido.

— Na ala médica da Torre, é claro. O Sr. Stark te trouxe para cá depois de tudo.

Sr. Stark? Depois de tudo o quê? Tenho vontade de perguntar, porém Josh continua falando e me perco no raciocínio.

— Graças a Cher, ele te encontrou a tempo. Você teve muita sorte. Só queria que tivesse sido resgatada daquele lugar infernal antes.

Abro a boca, mas nenhuma sílaba escapa. Não sei o que dizer.

— A Pepper queria fazer uma surpresa, te entregar o segundo presente de casamento, e estranhou quando não encontrou nem você nem o Bruce. Ah! O cachorro demônio está bem agora! Nós achamos ele preso no laboratório da casa de vocês. Sem qualquer ferimento, não se preocupe. É com Bruce que estamos preocupados agora. O que aconteceu naquela base, Amy? Onde ele está? Quem levou vocês dois para o meio do nada? Tudo bem, nós sabemos que foi a HYDRA, mas por quê?

O mundo gira numa velocidade impressionante e simplesmente não sei o que dizer. Para ser bem sincera, não consegui captar as perguntas direito. Estou confusa. Cada fibra do meu ser está em confito com as palavras de Josh.

Ele me olha de um jeito questionador, aguardando respostas, explicações.

De repente, a porta é aberta e alguém entra no quarto, chamando nossa atenção de imediato.

Intimidada ao reconhecer o rosto do visitante, desvio o olhar para o meu irmão. Para minha surpresa, ele não parece ligar muito para o homem que para diante da minha cama.

O sujeito ainda o cumprimenta com um meneio de cabeça, antes de falar diretamente comigo:

— Sexta-Feira me avisou que você estava acordada. Como está se sentindo?

Sexta-Feira? O quê?

Pisco, mais confusa do que nunca, e respondo meio incerta:

— Já tive dias melhores, mas vou sobreviver, obrigada.

Ele sorri fraco. Reparo em um hematoma em volta do olho direito. Pela coloração parece fruto de alguma briga não tão recente.

De um jeito meio pomposo, ele prossegue:

— Por falar nisso, deixe para me agradecer depois, Amy. Eu sei que salvei a sua vida, mas nós temos coisas mais importantes para discutir agora.

Como ele sabe o meu apelido? Por que está agindo com tanta intimidade? E como eu vim parar aqui?

— Desculpa, mas do que você está falando?

O famoso gênio, bilionário, playboy, filantropo e grande herói une as sobrancelhas e me encara parecendo não entender por que eu disse isso.

— Do Bruce, óbvio. Onde ele está?

Engulo em seco. Sinto-me perdida. Não estou entendendo mais nada.

— Quem? — sussurro.

O Vingador revira os olhos e cruza os braços.

— Muito engraçada. Bruce Banner, a tampa da sua panela, seu noivo, meu amigo, onde ele se meteu?

— Eu... Eu não sei... — gaguejo, sem conseguir completar a frase para dizer que não sei de quem ele está falando.

Com certa impaciência e visivelmente preocupado, o herói insiste nessa insana conversa:

— A Legião de Ferro vasculhou cada centímetro daquela base. Do que sobrou dela, melhor dizendo. Bruce não está em parte alguma. Mas a julgar pelo que encontramos na casa de vocês, é claro que ele foi sequestrado também. Para onde a HYDRA o levou? O que aconteceu naquele lugar, Amy?

Não faz sentido. Nada disso faz. De quem ele está falando? Do que ele está falando? Por que eu estou aqui? Onde estava antes?

Noivo? Casa? HYDRA? Sequestro? Cachorro?

Olho para Josh em busca de apoio, porém ele demonstra tanta urgência e curiosidade quanto o surpreendente visitante.

Um longo momento de silêncio se arrasta. Até que o sujeito endireita a postura, me olha de um jeito estranho e muda de estratégia:

— Amy, você sabe quem eu sou?

Uma leve risada me escapa, por mais que algo me diga que não é o momento mais adequado para isso.

— Claro que sei, não sou nenhuma alienada. Você é o Homem de Ferro, Tony Stark, um Vingador.

Josh me lança um olhar estranho, como se eu tivesse errado uma questão muito fácil. Só que tenho certeza que não é o caso. Eu acertei, não sou idiota a ponto de não reconhecer esse cara.

— Você costuma me chamar de Tony. É assim que meus amigos me chamam.

Rio de novo, não dá para segurar. Até esqueço um pouco a dor pelo corpo, a terrível enxaqueca e o enjoo.

— Ah, tá, e eu sou sua amiga? Que honra, valeu! Só falta você me dizer que eu posso passar uns dias na sua casa.

Tony Stark me encara com um assombro tangível, como se estivesse diante de um fantasma, e murmura:

— Você já fez isso, na verdade... Dory.

Vou desmanchando o sorriso pouco a pouco ao perceber que ele está falando sério. O que é uma maluquice total, só para constar.

Nesse momento, Josh segura minha mão de novo. Olho para ele, sem entender mais nada. Assustada. Muito assustada. Minha respiração ofegante.

— Meu bem, qual a última coisa da qual você se lembra? — meu irmão pergunta.

Engulo em seco e desvio do seu olhar, focando num ponto qualquer do quarto, onde certamente já estive antes. Só não lembro quando ou em quais circunstâncias. Parece que aconteceu com outra pessoa. Em outra vida. Uma vida que não me pertence. Uma pessoa que não sou eu.

A enxaqueca retorna, martelando atrás dos meus olhos. Afasto o déjà vu para longe e reflito apenas sobre o questionamento de Josh. Busco o último evento fresco na minha memória. Concentro-me nisso e apenas nisso.

Continuo sem saber quem é Bruce Banner, nem como me tornei amiga do Homem de Ferro, mas ao menos tenho uma resposta para a pergunta de Josh agora.

Volto a olhar para ele e o Sr. Stark. Meus lábios muito secos. Umedeço-os, passando a língua entre eles. E abro a boca, pronta para responder.

Depois eu descobriria que essa última lembrança aconteceu há dois anos.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora