Um filme romântico

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Em algum momento, me distanciei. Não sei como, mas sei o porquê. Foi difícil me concentrar na animada conversa enquanto caminhava com Amelia, seu irmão, o Dr. Christian Patel e o cachorro Hulk pelo Central Park.

Difícil porque, a todo instante, eu olhava a cidade ao redor, esperando qualquer movimento suspeito, qualquer olhar atravessado para mim, qualquer pista que indicasse que algo ruim estava sendo orquestrado nas sombras.

É impossível esquecer que, há poucas semanas, esse lugar voou pelos ares enquanto eu vivia um dia relativamente comum. Comum e inocente como este. Com a diferença que, naquele dia, eu me dei ao luxo de me distrair.

— Planeta Terra chamando Bruce Banner. Olá? Bruce?

De repente, sinto uma pressão atípica na mão direita e o estado de alerta é abalado. Olho para baixo, encontrando a origem do apertão — Amelia entrelaçou meus dedos com certa força —, e ergo a cabeça para ela.

Algo transpassa seus olhos expressivos um segundo depois. Um sentimento de compreensão e tristeza, acho. Ela não questiona por que eu fiquei tão distante. Tenho certeza que já adivinhou.

Indicando o namorado de Josh e depois o enorme cachorro ao seu lado, ela me atualiza rapidamente sobre o assunto da conversa:

— O Christian estava perguntando o que você achou do nome que eu dei para essa fofura aqui.

Antes que eu responda, no entanto, seu irmão intromete-se:

Fofura? Esse cachorro é um demônio! Destrói tudo que vê pela frente e é muito espaçoso! Francamente, Amelinha, ele só se comporta com você.

— Viu? Mais uma razão para se chamar Hulk.

O comentário dela me faz relaxar e sorrir, mesmo que o sorriso não chegue aos olhos. Volto-me para o Dr. Patel e dou meu parecer:

— Eu encarei como uma homenagem. Ela disse que foi.

Mas isso é o máximo de descontração que consigo sentir e apenas por um breve momento. Depois que Amelia sela nossos lábios por um instante carinhoso, volto a ficar preocupado com o mundo a minha volta e me perco na conversa de novo.

Quando dou por mim, Josh e seu namorado estão se despedindo de nós e levando Hulk — o cachorro — para longe.

Amelia não faz nenhum comentário, limitando-se a caminhar rumo ao seu carro, estacionado rente ao meio-fio. Apresso-me para abrir a porta para ela.

— Que cavalheiro, assim meu coração não aguenta — brinca, abrindo um sorriso tão encantador antes de entrar que demoro a me mexer simplesmente porque esqueço da vida.

Depois que desperto do transe, dou a volta no veículo e me acomodo no banco do passageiro. Ela gira a chave na ignição, pondo-nos em movimento pelas ruas movimentadas da cidade. O silêncio não dura quase nada porque me vejo muito inclinado a me explicar.

— Desculpe.

— Por quê?

— Por ter estragado o passeio.

Amelia me lança um olhar de soslaio acompanhado de um sorriso enternecedor.

— Não estragou nada, relaxa. — Uma breve pausa depois, continua um tanto sem jeito: — Eu entendo, sabe? Que você tenha ficado meio... hum, traumatizado depois de tudo. Mas aquilo não vai acontecer de novo, Bruce.

Por aquilo, sei muito bem que ela está falando do ataque orquestrado para me atingir e que acabou atingindo civis inocentes, inclusive Amelia. Também sei que ela não pode garantir que algo assim ou pior não vá se repetir. Mas, nesse momento, decido acreditar nela. Vou juntar as peças desse quebra-cabeça e impedir que mais gente se machuque por minha causa. Vou deter Ross antes que ele dê o próximo passo. Tudo vai ficar bem eventualmente.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora