Gatilho

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Sejamos honestos. Às vezes, tomamos certas atitudes sabendo muito bem que são inadequadas. Mesmo assim, aceitamos o risco e cruzamos a linha que separa o certo do errado sem pestanejar, como se essa barreira ética não importasse de verdade, como se ela sequer existisse.  

Vocês já fizeram isso alguma vez? Porque eu já. Mais de uma, aliás.  

Começou com uma curiosidade inocente sobre o paradeiro de Bruce Banner. Tudo o que eu precisava era de um gatilho para me render. E, de repente, lá estava o gatilho, bem diante dos meus olhos. 

Olivia, minha famosa melhor amiga, ainda estava na Terra nessa época. Havia discutido com Loki por razões que a própria razão desconhece e fugido de Asgard após descobrir que estava grávida dele. Tenho certeza que vocês se lembram dessa história complicada, certo? 

Pois bem. Quando eu soube da sua volta repentina, fui visitá-la na Torre dos Vingadores. Acontece que Olivia estava no banho quando adentrei o quarto sem qualquer anúncio. E, o mais importante, o seu notebook repousava esquecido sobre a cama.  

Uma pessoa educada não iria xeretar, eu sei. Mas... bem, é de mim que estamos falando. Não sou muito adepta das boas normas de conduta, sou muito mais impulso nessas horas. 

Não esperava encontrar grande coisa a princípio. Acho que, no fundo, presumi que a maluca havia deixado um perfil de alguma rede social aberto, como volta e meia fazia. Talvez estivesse checando a repercussão do seu romance com o Deus da Trapaça nos noticiários. Ou, quem sabe, pensando em comprar alguma coisa para o enxoval dos gêmeos. 

No entanto, tudo o que encontrei, ao dar a volta na cama, foi uma tela preta, letras garrafais formando o acrônimo S.H.I.E.L.D. e o emblema inconfundível em forma de escudo da organização girando na interface como um chamariz, uma armadilha, o fatídico gatilho. 

Isso mesmo, Olivia tinha esquecido de deslogar o seu usuário do sistema. Sem perceber, acabou me dando a ferramenta necessária para deixar a curiosidade sobre Bruce falar mais alto e me guiar. Cruzei aquela linha que separa o certo do errado após um instante de hesitação apenas, mais por medo de ser pega em flagrante do que por nobreza ou bom senso mesmo. De repente, lá estava eu, sentada sobre a cama, debruçada em frente ao pequeno computador, ansiosa, tentando entender como o software funcionava.  

Para minha infelicidade, logo descobri que uma agente nível 2, como Liv, tinha muitas restrições e acesso mínimo a informações confidenciais. Por outro lado, eu sabia que se alguém podia saber para onde Bruce havia ido, depois do embate final com Ultron, seria a S.H.I.E.L.D. Sendo assim, eu não podia simplesmente desistir diante da primeira dificuldade. Ao invés disso, deixei um aspecto do meu passado vir à tona.  

Em resumo, digamos que eu tive uma época meio rebelde há alguns anos. Namorei um cara metido a hacker e que me ensinou alguns dos seus truques cibernéticos entre um amasso e outro. Não cometemos nenhum grande crime, mas confesso que usei essa má influência meses depois dele terminar comigo, para acessar a lista de aprovados da Universidade de Nova York, antes da divulgação oficial. Tudo isso porque eu estava em cólicas para saber se eu e Josh tínhamos sido aceitos ou não. 

Embora o sistema da S.H.I.E.L.D. tenha mais travas do que o de uma universidade, nenhum software é 100% seguro ou confiável. Esse era o lema de Kurt Lookwood, esse antigo namorado. E foi relembrando esse lema e alguns comandos gravados em minha memória, que hackeei o usuário da minha própria amiga naquela tarde, criando uma réplica fantasma, como um segundo perfil, dentro do seu original.  

Mais tarde, em meu apartamento, com todo o tempo do mundo e certa calma, pude me dedicar com afinco ao propósito de burlar um firewall atrás do outro até conseguir aumentar o nível de acesso do perfil fake de Olivia Mills. Horas depois, já madrugada adentro, finalmente consegui permissão para abrir documentos que só o topo hierárquico da S.H.I.E.L.D. seria capaz de acessar.  

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora