Momento de fraqueza

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Custo a acreditar que Bruce me ligou, e assim, tão de repente. Depois de três meses sem qualquer contato, confesso que sinto um alívio imediato ao ouvir sua voz ao telefone. E também uma alegria boba quando ele diz meu nome com a doçura de praxe, que faz parte de quem ele é.

Sim, o Dr. Banner é teimoso como um jumento, mas também é doce feito caramelo. Admito que é meio impossível não me derreter e esquecer, pelo menos por alguns instantes, que ele foi embora por livre e espontânea estupidez, deixando-me a ver navios num cais solitário.

Essa situação é como uma faca de dois gumes, sabe? Você não percebe que pode se machucar feio até tocar uma das extremidades. Ainda assim, acaba aceitando certo risco porque a doçura do sujeito te atrai mais do que o perigo de sofrer. Sem perceber, você passa a acreditar que tudo vale a pena. Essa sou eu agora.

Fecho os olhos por um momento e faço um esforço para afastar esse pensamento e a sensação de esperança que me traz. E essa sou eu recobrando a lucidez.

Convencida de que não preciso ser mal educada, mas que certamente devo ser mais racional e manter minha atração por Bruce sob controle, indago do jeito mais despretensioso que consigo:

— Como você está, Verdão?

— Bem, bem... eu estou bem — responde de um jeito meio incerto e ansioso. Em outras palavras, é uma mentira deslavada. — E você?

— Ótima! Melhor impossível! — retribuo na mesma moeda, como uma forma de me preservar.

Ao me lembrar da visita de Coulson e de algumas coisas que ele deixou no ar, pego-me realmente preocupada com Bruce e retruco:

— Ei... Tem certeza que você está bem? Quero dizer, está tudo tranquilo e normal por aí?

— Como assim? — Quase vejo a ruga de desconfiança na testa de Bruce quando ele rebate minha pergunta.

Rio um pouco e desconverso:

— Apenas checando. Você sabe, por via das dúvidas.

Bruce não se manifesta de imediato. Acho que não o convenci totalmente de que só estou curiosa. Mesmo assim, ele acaba respondendo devagar:

— Sim, está tudo tranquilo e normal por aqui.

— Mesmo?!

Oops... Tenho certeza que isso soou muito suspeito da minha parte.

— Amelia.

Droga... Seu tom de voz ainda mais intrigado me dá a certeza disso.

Bem, não posso contar que Coulson me visitou há pouco e insinuou que a S.H.I.E.L.D. não é a única interessada no paradeiro do Gigante Esmeralda. Isso iria alarmá-lo, talvez sem necessidade, deixando-o paranoico.

Ao saber que Coulson está em seu encalço de forma constante, Bruce também poderia desaparecer de vez, enfurnando-se em algum buraco mais profundo, dificultando ainda mais a sua localização. O que complicaria uma convocação da Iniciativa Vingadores em caso de uma ameaça verdadeira surgir.

Quanto a mim, não posso confessar que andei a sua procura por conta própria, valendo-me de um talento escuso que eu nem sabia que tinha tão aflorado. Tal confissão seria meio humilhante e abalaria meu orgulho feminino. Algo assim faria Bruce se sentir o último Bis da caixa, e eu não quero isso. Ou então ele iria me recriminar por ter assumido esse risco. Uma bronca é a última coisa que preciso agora.

Mesmo assim, não consigo deixar de me preocupar com ele. Preciso que Bruce se cuide, que esteja em alerta, que tome cuidado sempre. Não me perdoaria se algo lhe acontecesse porque eu não fiz a minha parte.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora