Zonzo e definitivamente surpreso com a minha reação nem um pouco amigável, Kurt continua com a mão sobre o rosto, pressionando o lado que foi atingido pela força do tapa certeiro que desferi contra ele. Satisfeita por constatar que, pela vermelhidão crescente que se espalha, meus dedos ficarão marcados em sua pele por um tempo, esboço um mínimo sorriso vitorioso. Mas a ira ainda me revira por dentro, tornando esse sorriso um tanto amargo também.
O tapa inesperado não chega nem aos pés do que Kurt merece. Nossa história não terminou com uma conversa civilizada ou com sentimentos chegando ao fim. Não foi um simples rompimento. Tudo terminou com Kurt fugindo da polícia e deixando a prova do crime no meu colo. É impossível que ele tenha esquecido desse detalhe e acreditado que podia se reaproximar de mim dessa maneira sem pagar um bom preço pela ousadia.
— Por acaso... isso foi pela Cassie? — ele indaga de repente, unindo as sobrancelhas, ainda tonto pelo golpe.
— Quem diabos é Cassie?
Meu sangue ferve. Custo a acreditar no absurdo que ouvi. Reluto em aceitar que Kurt possa ser tão burro para se entregar dessa maneira. Para insinuar que me traiu com alguma desclassificada quando ainda estávamos juntos. Para jogar em meu colo mais um motivo para desprezá-lo profundamente.
— Ninguém! — Ele ergue as mãos em rendição, dando-se conta do deslize, visivelmente arrependido por ter falado demais e receoso com a minha reação.
Em outros tempos, descobrir uma traição dele me destruiria, é verdade. Hoje, no entanto, nada mais me surpreende. Porque nada mais importa. Ao me dar conta disso, lanço um olhar de desgosto em sua direção, dou-lhe as costas e encerro a conversa:
— Foi péssimo rever você, Kurt. Até nunca mais.
Para minha surpresa, ele tem a audácia de segurar o meu braço. Com certa delicadeza, mas impedindo que eu me afaste de qualquer forma. E ainda acha que tem o direito de argumentar:
— Espera aí, princesa. Também não precisa ficar brava desse jeito. O que foi que eu fiz?
Desvencilho-me dele de imediato e rebato com descrença:
— O que foi que você fez?! — Ele encolhe os ombros e recua um passo diante do meu tom. — Me deixa relembrar o que você fez! Além de ter me traído com uma tal Cassie, se bem entendi. — Ergo o indicador em riste e disparo as acusações para refrescar sua memória: — Tentou se dar bem e aceitou um servicinho bem desonesto pra isso. Invadiu o sistema financeiro de uma grande empresa a pedido de uns figurões e desviou fundos para eles! Tudo isso usando o meu computador! E quando a polícia descobriu, rastreou o IP e chegou até mim, o que foi que você fez? Fugiu pela porta dos fundos e nunca mais deu as caras! Até agora!
Pela primeira vez desde que brotou ao meu lado, Kurt esboça uma expressão de vergonha pelo passado turbulento e criminoso. Não o suficiente para reconhecer os erros que me afetaram diretamente, mas apenas para se justificar:
— Foi mal, Amy. Eu fiquei com medo de voltar e ser preso.
— Ah, você ficou com medo?! — Finjo choque diante do fraco argumento, enquanto meu estômago se agita em revolta. — É claro que ficou com medo, Kurt. Você é um covarde, nada mais natural do que se sentir assim.
Sua expressão endurece e ele olha para o chão por um momento:
— Também não precisa humilhar. Eu fiz o que qualquer pessoa no meu lugar e em sã consciência faria.
— Errado, você fez o que qualquer mau caráter faria. Mais uma vez, só agiu seguindo aquilo que você realmente é — rebato, controlando, não sei com qual força de vontade, o ímpeto de desferir um segundo tapa em seu rosto. Mais forte do que o primeiro. — O problema é que enquanto você estava por aí, com medo e se escondendo sabe-se lá onde, eu tive que arcar com as consequências dos seus atos. Você tem alguma ideia do que eu passei enquanto você fugia, Kurt? De como tive que me explicar com a polícia por sua causa? Ou do quanto os meus pais trabalharam, dia e noite, para que eu não fosse presa por um crime que não cometi?
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A Bela, o Outro Cara & Eu
FanfictionQuando o mundo viu o Hulk fora de controle durante os eventos de Era de Ultron, Bruce Banner decidiu desaparecer do mapa ao final da batalha. Ir embora sem olhar para trás lhe pareceu a solução ideal e correta, afinal ele não queria arriscar que al...