O Outro Cara

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À medida em que me aproximo da cela impenetrável que mantém o Hulk enclausurado, minhas mãos suam e um estranho aperto no estômago me impede de respirar de forma natural.

Não estou com medo do ser verde e imponente dentro do transparente compartimento, estou com medo de não saber o que lhe dizer para mudar esse cenário e trazer Bruce de volta. Estou com medo de falhar e piorar o que já não está nada bom.

Ao mesmo tempo, admito que me sinto meio hipnotizada pela figura colossal do outro lado da parede especial e ultra resistente desenvolvida por Tony. É mais do que gratidão pelo Hulk ter me salvado há alguns anos, é um respeito e uma admiração que ultrapassam a reverência e mal cabem em mim. Acho que só sentiria algo parecido diante do Bono do U2.

Talvez Tony esteja certo. Talvez eu seja mesmo uma fangirl maluca e sem a menor noção do perigo. Porque, apesar do que me trouxe até aqui, é muito bom sim estar mais perto do meu Vingador favorito.

Tenho que fazer um grande esforço para colocar essa euforia de lado — e não sei se consigo totalmente. Então paro a uma curta distância da parede circular e vítrea que nos separa, limpo a garganta e digo a primeira coisa que me vem à cabeça:

— Bela bermuda, Hulk. Mas eu preferia quando era uma calça.

Eu sei, nada bom. Mas como eu disse, foi a primeira coisa que pensei no calor do momento.

Além disso, pelo menos serviu para alguma coisa fora ter arrancado uma risadinha debochada de Tony. Agora o Hulk parou de me ignorar, como claramente fazia enquanto eu me aproximava. Bom, ele me olhou por cima do ombro e resmungou um ruído indecifrável; o que já é um pequeno progresso. Em seguida, volta a zanzar dentro da cela, com passos pesados e visivelmente insatisfeito por estar enclausurado. É compreensível; ninguém gosta de ficar de castigo.

Ciente de que devo dizer algo decente desta vez, engulo a ansiedade e decido ir direto ao ponto:

— Eu quero falar com Bruce Banner.

Tão logo termino de falar, percebo que o pedido não parece ter sido uma boa ideia. O fato do Gigante Esmeralda ter se virado bruscamente, se aproximado com duas passadas rápidas e esmurrado a parede com o punho fechado confirma isso. Recuo por puro instinto enquanto ele berra enraivecido:

— Não tem nenhum Banner aqui! Só o Hulk! Pra sempre Hulk!

Um tremor percorre meu corpo, uma resposta natural ao gesto violento que — confesso — me assustou um pouco e ao peso da sua recusa. Não a ponto de me fazer desistir. Eu sabia que não ia ser fácil e comecei com o pé esquerdo, é verdade. Mas vou encontrar uma maneira de mudar esse cenário. Se o Hulk quer ser teimoso, eu serei muito mais insistente. Até dobrá-lo e conseguir o que quero.

— Sério? Talvez se você tivesse dito as palavras mágicas, Amy. — O tom irônico de Stark ressoa em um sistema de som acoplado numa parede perto de mim. — Pena que eu não trouxe a pipoca. Um momento desses... Algo me diz que será divertido e vergonhoso. Boa sorte, de qualquer forma.

— Cala a boca, Fracote de Ferro! — O Hulk se irrita, e eu tenho vontade de aplaudi-lo e abraçá-lo ao mesmo tempo por ter traduzido o meu desejo nesse momento.

Olho para trás e, infelizmente, vejo que Tony não ficou nem minimamente abalado ou sem graça. Na verdade, ele parece bem à vontade agora. Está sentado numa poltrona reclinável de couro perto da entrada do verdadeiro calabouço que construiu para o amigo. Há um tipo de dispositivo na orelha direita. E um microfone conectado a pequena peça desce em direção à sua boca.

Eu devia ter entendido o que ele quis dizer quando mencionou que iria ouvir toda a conversa. Tony quer mesmo ouvir tudo, à distância para não irritar ainda mais o Hulk, bem confortável e sem perder nenhum detalhe importante.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora