Poeira e estilhaços

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É como se eu tivesse voltado no tempo. Cinco anos atrás, ataque alienígena em Nova York, caos por toda a parte. Entretanto, diferente daquele dia, não há um exército de Chitauris atacando a cidade sob o comando de um deus nórdico trapaceiro. Tampouco meia dúzia de espécimes dos seus soldados imundos me cercando enquanto eu, desnorteada pelo pânico e querendo acreditar que fui parar num mero pesadelo envolvendo ficção científica de gosto duvidoso, fujo na direção contrária da que deveria, como os outros cidadãos nova-iorquinos sabiamente não fizeram porque seguiram a orientação de um enérgico e esforçado Capitão América.

Diferente daquele dia, não vejo esse herói ao longe, muito menos os outros Vingadores em parte alguma da névoa de poeira e estilhaços que tomou conta do mundo à minha volta. Ao fazer um esforço para enxergar melhor e me situar no momento presente, percebo que um elemento é bem parecido com aquele dia: Bruce também está aqui.

Não do jeito como eu o conheci naquela época. Não com a forma verde e esmagadora que cruzou o meu caminho pela primeira vez. Ainda assim, sua presença ao meu lado me dá a mesma sensação de segurança daquele dia. Não há soldados Chitauris para ele lançar para longe de mim agora, mas me sinto a salvo do mesmo jeito. Sei que, independentemente do que esteja acontecendo hoje, tudo vai ficar bem porque Bruce Banner está comigo.

Bom, pelo menos era o que eu acreditava há até meio minuto. Agora que finalmente consegui me recompor um pouco, ignorando uma dor latejante no ombro direito, e me pus de pé, essa certeza é enfraquecida pela imagem caótica que tomou conta de Nova York.

Pessoas feridas correm por toda a parte. Algumas choram e percorrem com um olhar perdido a nuvem de incertezas e confusão que se formou em volta delas. Há muita fumaça e estilhaços pairando no ar. O barulho frenético de buzinas e sirenes se mistura a gritos que parecem vir de todos os lados possíveis. Nova York está mergulhada em pânico.

Sentindo essa atmosfera me envolver cada vez mais, luto para retomar o foco e procuro o olhar de Bruce atrás de mim. Fico surpresa ao constatar que ele ainda se encontra no chão e que não parece disposto a levantar tão cedo.

Curvado sobre o próprio corpo e com os punhos fechados com força contra a calçada da cafeteria, essa imagem me transmite a clara mensagem de que ele não está bem.

Sempre achei que o Hulk mantinha Bruce protegido fisicamente, então a possibilidade de que ele tenha se ferido durante o imprevisível ataque acende uma dolorosa preocupação dentro de mim.

E se ele estiver machucado de alguma forma? E se ele for vulnerável no final das contas?

Antes que eu enlouqueça de preocupação, engulo em seco e tento me fazer audível ao sondar o terreno:

— Bruce?

O alívio que sinto quando ele ergue a cabeça em minha direção se esvai no mesmo instante em que percebo algo diferente em suas retinas em pânico. Há um tom esverdeado nelas. A mesma cor que noto ficar mais intensa nas veias das mãos e do seu pescoço. Essas veias ficam mais saltadas a cada instante e o verde se espalha sobre sua pele até onde a camisa me permite enxergar.

— Corre... — Sua voz soa baixa e meio engasgada, como se ele tivesse feito um enorme esforço para falar algo tão simples. — Amelia, corre! Corre... agora...

Acho que os clientes da cafeteria notam algo diferente nele também, já que, à medida em que se erguem do chão, se mantêm por perto, encarando Bruce e a mim, ao invés de irem para o mais longe possível daqui e se protegerem de seja lá o que for que houve na cidade e ainda pode acontecer.

Percebo que era o que eu deveria fazer também, se ouvisse o lado racional e se tivesse vindo sozinha para cá. Nesse caso, eu deveria me afastar desse local exposto demais, procurar um lugar seguro, ir em busca de ajuda e respostas quando a situação se acalmasse.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora