À flor da pele

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Lá no fundo, eu sempre desconfiei que Bruce me escondia alguma coisa sobre as circunstâncias do seu retorno. Não sou idiota e senti que algo devia ter saído dos trilhos. Somente uma ocorrência grave para fazê-lo mudar de ideia a ponto de dar as caras de uma hora para a outra na cidade onde, aparentemente, não colocaria mais os pés.

Lembro que senti um clima de suspense ao reencontrá-lo no escritório de Tony, quando descobri que estava de volta. E, desde então, vinha notando algo suspeito no seu comportamento cada vez que estive com ele. Uma preocupação em seus olhos que Bruce lutava para esconder, mas que estava sempre lá apesar do esforço.

Eu só não imaginava que o motivo oculto tinha algo a ver comigo, como ele acabou de revelar. Agora que tomei conhecimento da verdade, não sei o que fazer.

Eu devia ficar impressionada por um inimigo de Bruce ter tirado fotos minhas para atrair a atenção dele e obrigá-lo a voltar? Devia.

Devia estar preocupada com a minha segurança a partir de agora? Também devia.

Devia imaginar que se esse inimigo promoveu os ataques de ontem, ele pode muito bem vir atrás de mim agora para atingir Bruce de novo? Com certeza.

Contrariando a lógica, não estou preocupada com nada disso no momento. Tampouco com medo do futuro, dos riscos, de coisa nenhuma. Estou apenas inquieta. E decepcionada. O motivo está bem ao meu lado, me encarando de maneira apreensiva enquanto aguarda a minha opinião sobre tudo que ouvi.

Quando, por fim, consigo assimilar suas palavras e organizo um pouco os pensamentos que fervilham na minha cabeça, tudo o que sai é uma acusação num volume baixo:

— Você mentiu pra mim.

De imediato, Bruce se defende:

— Eu escondi a verdade para te poupar. Porque não queria que você ficasse preocupada com um problema que não era seu.

Um riso de deboche quase involuntário me escapa quando retruco ácida:

— A partir do momento que um maluco tira fotos minhas escondido e envia para a S.H.I.E.L.D. como uma ameaça, o problema se torna meu, Bruce. Como você mesmo disse, eu tinha o direito de saber que estava em perigo.

— Sim, é por isso que estou te contando agora — argumenta em sua defesa de novo. — E teria contado tudo ontem, se as explosões não tivessem interrompido a nossa conversa. Eu tentei contar, lembra?

— Agora, ontem... Tanto faz pra você, não é? — Rio sem humor e me levanto da cama. Afasto-me alguns passos porque, de repente, ficar perto de Bruce virou algo muito incômodo. — Por que não desde o começo? Logo que você voltou? — questiono e sinto que elevo um pouco a voz a cada pergunta que vai saindo de mim com fúria: — Por que não quando decidiu me fazer uma visita para se explicar? Por que não explicou tudo de uma vez naquela mesma noite? Ou por que não disse antes de me beijar pela primeira vez? Por que você demorou tanto tempo para confiar em mim, Bruce? Para confiar algo que era sobre mim afinal?

Ele une as sobrancelhas e seu olhar oscila. Parece zonzo. Pego de surpresa, pisca algumas vezes. Quando se recompõe um pouco, simplesmente nega:

— Não se trata disso. De confiar em você ou não. Amelia, eu confio, mas pensei que seria melhor...

Inconformada, não o deixo prosseguir com qualquer desculpa esfarrapada que tenha em mente. Elevo a voz e o interrompo num tom ainda mais acusatório:

— Que seria melhor me deixar no escuro? Que eu não precisava saber que estou sendo seguida por um psicopata? — Antes que Bruce pense no que argumentar, lembro da nossa última conversa em seu laboratório e recrimino: — Você olhou nos meus olhos ontem e afirmou, com todas as letras, que não tinha nada acontecendo. Nada que me envolvesse, nada que eu precisasse me preocupar. Eu te dei uma chance de ser sincero comigo, Bruce, te dei todas as chances desde que voltou, mas você escolheu mentir na minha cara.

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora