Experimento Científico

214 24 5
                                    

Não sei o que eu esperava quando decidi convidar Bruce para sair. Claro, cada parte de mim torcia para que ele aceitasse o convite, como de fato fez. Isso demonstra que ele também está interessado em descobrir aonde essa história pode nos levar e prova que eu fiz bem em esquecer o lance de "só amigos" por ora. Apesar disso, não consigo conter certo choque e uma alegria genuína por Bruce ter vindo mesmo.

Isso é um grande progresso, convenhamos. Pensei que a batalha já estava perdida até ele confessar, com todas as letras, que não se acha capaz de ser apenas meu amigo. Bruce, com certeza, deu um passo importante ao me encontrar essa noite. Tenho que reconhecer sua coragem.

Logo esqueço a sensação estranha de ter visto — ou pensado que vi, não sei ao certo — um antigo namorado meu, Kurt, conversando com Bruce. Com certeza, era só alguém meio parecido com o falecido que não vejo há séculos e espero não ver nunca mais.

Como tudo o que realmente importa agora é que Bruce veio e ainda deixou escapar que está feliz pela escolha que fez, alcanço sua mão e o convoco:

— Vem comigo!

Sem esperar por resposta, arrasto-o pela multidão caótica e subo dois lances de escada. Finalmente alcanço o mezanino, área em que algumas mesas estão dispostas e onde os bartenders preparam variados drinks atrás de um moderno balcão.

Procuro um lugar vago, sento-me à mesa e Bruce do outro lado, ficando de frente para mim. Sorrindo ainda meio incrédula, reflito:

— Se chover hoje, eu já sei de quem será a culpa.

Só então me dou conta que ainda estou segurando a mão dele junto a minha. Com mais força e calor do que seria apropriado. Não a larguei nem mesmo quando me acomodei no assento estofado que circunda a pequena mesa. Com certeza, Bruce teve que fazer algum contorcionismo para se sentar a minha frente por causa disso. Deve ter sido uma cena cômica de se assistir, como se estivéssemos grudados feito gêmeos siameses.

Claro que agora, ao me dar conta da trapalhada, solto seus dedos no susto, por não querer que ele pense que eu estou avançando algum tipo de sinal, apressando as coisas ou sendo grudenta demais.

— Desculpe. — Engulo em seco e minhas bochechas ardem. De repente, é como se eu fosse uma adolescente ou nunca tivesse saído com alguém antes dessa noite.

Se fosse qualquer outro cara, tenho certeza que eu estaria tranquila e não veria o menor problema no meu gesto. Mas com Bruce me sinto... diferente. Na maioria das vezes, sua timidez e jeito meio recluso são desafios instigantes que atiçam minha segurança feminina e interesse por ele. Porém, agora, me sinto nervosa e uma tremenda retardada. Acho que não estava mesmo pronta para uma resposta positiva ao convite.

— Tudo bem, eu... gostei — ele confessa, causando-me uma surpresa muito agradável.

Com isso, é automático, volto ao meu estado normal e mais confiante. Logo mais à vontade, repouso minha mão sobre a sua, sem me importar em demonstrar meu interesse dessa vez, e indago:

— Bebe alguma coisa comigo?

— Eu não bebo. Digo, não sou muito de beber. Prefiro ficar sóbrio porque...

Divertindo-me internamente, pois parece que agora quem está tenso é Bruce, sugiro:

— Cuba libre? — Viro-me para o balcão sem esperar por um sim e aceno para um dos rapazes. — Danny! Duas Cubas, por favor! Ah! E coloca na conta!

— Em um minuto, linda! — O rapaz pisca em resposta.

Volto-me para Bruce e sua expressão é um tanto curiosa. Demora alguns instantes até expor de maneira retórica:

A Bela, o Outro Cara & EuOnde histórias criam vida. Descubra agora