Capítulo 3.

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Tessa.

O rosto divertido de Hardin se dissolve em poucos segundos, os olhos arregalados e a boca boquiaberta são um demonstrativo de que as coisas não vão ficar bem. Não dessa vez. Eu não queria ter de fazer isso, não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Nós duas sempre conseguíamos resolver as coisas, mesmo que brigando, esperneando, nós sempre nos resolvíamos. Hardin raramente se intrometia, porque eu queria mostrar que conseguia lidar com Emery tanto quanto ele. Mas esse assunto é sério, sério demais. Eu sei exatamente o que estou fazendo, salvando o futuro da minha filha.

Pode parecer exagero, mas quando Emery coloca uma coisa na cabeça, não há quem tire e toda essa preocupação é necessária. Ainda mais se tratando de alguém que foi insuportavelmente amada e cuidada. Hardin fez tudo o que estava em seu alcance por Emery, pagou os melhores cursos, usou dos seus recursos para indicá-la para as melhores faculdades, a levou para entrevistas, a inseriu no universo dele, a ajudou se apaixonar por literatura, cuidou dela a amou. Um "não" não define a vida de alguém por completo e eu sei disso mais do que ninguém.

"Ela não sabe o que está dizendo. Não é louca." Hardin está em negação, balançando a cabeça de um lado para o outro. O cenho franzido, as duas mãos não estão mais em minhas coxas, estão sendo passadas freneticamente pelos cabelos. Eu suspiro alto, já imaginando e me preparando para o pior.
"Eu não sei, Hardin. Juro que eu não sei. Eu tentei conversar com ela várias vezes essa semana. Ela ficou me enrolando, mas hoje disse o que estava pensando de verdade. Eu sei que é duro, ainda mais pra faculdade que ela queria muito ir..., mas não faz sentido! Nós a inscrevemos para várias, ela ainda tem chances."

Emery sempre sonhou em estudar na Universidade de Columbia. Quando soubemos, trabalhamos e nos esforçamos para que isso acontecesse, porque sabíamos que era um sonho dela. Não meu e nem de seu pai, mas dela. Penso nisso, porque olho para Emery e me vejo em sua idade. Tendo minhas decisões arrancadas de mim, sem minhas próprias opiniões, sem minhas vontades em primeiro lugar. Minha mãe sempre lutou por ela, nunca por mim.

Balanço a cabeça, espantando esses pensamentos ruins. Tem alguma coisa errada, alguma coisa que eu sei que ela está escondendo. Alguma coisa por trás dessa decisão repentina, sem pé e nem cabeça. Eu sei.
O pior é que... Hardin também sabe.

Ele se põe de pé, depois que me coloca no chão. Ainda me assusto com sua força, percorro os olhos por seus braços grudados nas mangas da camiseta branca. As tatuagens escuras e retocadas recentemente estão mais evidentes. As veias de seu pescoço estão saltadas e seus olhos verdes me procuram, buscando, sempre buscando algo.
"Não acho que deva falar com ela desse jeito." Respondo, sincera.
"Eu acho que devo falar com ela de qualquer jeito. Ela está passando dos limites." sua voz sai dura e grave. Suas mãos estão fechadas ao lado do corpo. Ainda acho que ele está reagindo bem, devido a toda situação.

Me viro para dentro e ouço passos rápidos pela escada, descendo e se dirigindo a porta. Emery passa com uma mochila pequena, calça justa, tênis e uma blusinha... decotada demais. O perfume invade a sala, os cabelos estão presos em um rabo de cavalo alto e cacheados até a cintura. Está usando a mesma pulseira que a minha, Hardin a presenteou em seu aniversário de 18 anos. Temos poucos segundos antes que ela ache a chave do carro que eu escondi.
"Emery!" Hardin esbraveja, dando passos largos para dentro de casa. "Onde você pensa que vai?" Ela revira as cômodas, com mãos desajeitadas.
"Vou sair, preciso resolver umas coisas." Sua voz sai trêmula e desconfiada. Ela não olha para os nossos rostos porque está mentindo. Emery nunca soube mentir, posso dizer e até arriscar que isso seja uma qualidade que herdou de mim.
"Menina, você não minta pra mim..." Hardin chega perto o suficiente e faz Emery se afastar alguns passos, ainda não encarando o pai. Ele prende os cabelos irritadiços em um rabo de cavalo, colocando as mechas dos olhos para trás da orelha.
"Não estou, é... não estou mentindo." Ela começa descontrolada, mas força a manter a postura perto de Hardin.
"Abre a mochila." Os olhos de Hardin brilham ferozmente, prestes a perder o controle. Me aproximo temendo o pior.
"Não vo..."
"Abre a porra da mochila, Emery, caralho!" Hardin grita mais alto, dessa vez, puxando a mochila de Em das costas. Parecia que ele sabia exatamente o que estava fazendo, parece que sabia desde o começo. Eu não tinha forças para impedi-lo, não era certo invadir a privacidade de Em assim, mesmo que ela estivesse errada. Mas Hardin sabia de alguma coisa que eu não estava a par... Minha visão está turva, sinto meu coração acelerar e minha boca e garganta clamam por água. Quero gritar Auden, mas meus ouvidos estão zunindo. Ele abre a mochila e começa a jogar as coisas em cima da mesa, descontroladamente. Emery está gritando e chorando, mas não consigo ouvi-la. O que vejo é um envelope branco, violado, com as iniciais da Universidade de Columbia, completamente diferente do que havíamos aberto semana passada. Junto com ele, um saquinho menor que a palma da minha mão, cheio de alguma coisa verde, triturada... Cheio de... maconha.

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora