Capítulo 13.

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Tessa.

O bipe constante dos monitores me fez viajar tão longe, que não escutei o rapaz que nos acompanhava informar que havíamos chegado. Parecia difícil se movimentar depois do que pareceram horas sentada no banco frio da ambulância. Eu ainda não conseguia digerir por completo toda essa história que me golpeou, tudo o que eu havia comido parecia querer voltar a cada instante em que passava perto de Emery. Eu tentava respirar, mas o ar chegava fraco aos meus pulmões. Estava cansada, era madrugada e eu não aguentava mais chás ou cobertas quentes. Parecia que ninguém ali ligava para o que eu queria e já dentro do hospital, ninguém se propunha a me informar o que estava acontecendo. Eu tinha de estar sempre perguntando e as poucas forças que me mantinham acordada eram as que me faziam acreditar que boas notícias nos acompanhariam.

O cheiro do hospital me enojava, era um misto de menta e desinfetante que pairava em cada maldito corredor. Na ala em que eu estava, a maioria das enfermeiras estavam sempre correndo de um lado para o outro e o barulho dos seus sapatos de borracha me deixavam mais ansiosa. Do meu lado direito, um casal chorava compulsivamente. Não parei para contar quantos lenços estavam caídos pela cadeira de espera, mas pude notar que uma faxineira passara por ali algumas vezes.

Minha impaciência já tomava parte do meu corpo e meus pés batiam ritmadamente no piso frio do hospital. Auden me fazia companhia de vez em quando, mas não suportava ficar sentado o tempo todo, por vezes levantava e ia comer alguma coisa. Dá ultima vez que saiu, me trouxera um saco de batatinhas pela metade e um refrigerante sem gelo, o cheiro quase me fez vomitar. Pedi que me trouxesse um copo d'água, porque meu corpo estava abarrotado de chá e quanto mais líquido eu ingerisse, mais vezes ao banheiro eu poderia expelir essa camomila que estava me deixando enjoada.

Os minutos passaram rápidos e quando o relógio atingiu às 3:27 da madrugada, ouvi passos que eram grotescos demais para serem das enfermeiras e descompassados demais para que fossem de Auden com minha água. Suspirei, já prevendo o que me aguardava. Tirei a manta quente que estava me fazendo suar e me coloquei de pé, esperando o interrogatório.

Dois policiais fardados, um de cap com o bordão da polícia de New York e o outro segurando o seu em mãos, apareceram na sala de espera. Eles pareciam ter a mesma idade, mas pelo jeito que se portaram, detinham personalidades bem diferentes. Um era mais alto que o outro, sendo o mais alto com o porte físico grande, mas nada muito musculoso. Gesticulava muito enquanto conversava com o mais baixo, que parecia ser mais sério. Ele era mais corpulento que seu colega, então tudo o que ele fazia necessitava de um pouco mais de esforço, o que até para andar o deixava ofegante. Quando pararam de conversar, pousaram os olhos em mim e deixaram de ser descontraídos por um momento.
"Sra. Scott?" o mais alto levantou uma das mãos, estendendo o braço para me cumprimentar. Assenti, apertando a mão suada que estava no cap antes. "Sou o John e esse é meu parceiro, Kevin." Apontou para o mais baixo, que não desviou os olhos de mim por um minuto.
"Certo. Obrigada por terem chegado, estava impaciente e preciso saber o que aconteceu." Sentei na cadeira de espera e apontei para as duas vazias que estavam na minha frente. "Meu filho está vindo, foi buscar uma água." Eles assentiram e o mais baixo começou a fazer o oposto do que eu gostaria que fizesse.
"Sra. Scott, antes de contarmos o que aconteceu, gostaria que a senhora me respondesse algumas perguntas." Ele limpou a garganta com uma tosse fajuta. "Sabe, mais por questão de protocolo." Seus olhos não desviaram de mim, buscando não sei o quê exatamente. Balancei a cabeça, assentindo fracamente.
"Claro. O que querem saber?" minha voz parecia sumir, estava cansada demais para prestar atenção no que quer que eles queriam saber. Era 3:30 da manhã, merda.
"Só queremos saber se Hardin Scott detém de um passado violento, ou, é uma pessoa violenta. A senhora é casada com ele há anos, ninguém melhor para nos dizer com que tipo de pessoa estamos lidando." Ele é firme e não vacila nos comentários sobre Hardin. Mas o que raios ele está insinuando? Meu estômago borbulhou e uma raiva cresceu pela garganta.
"Olha policial Kevin" tentei evitar ser sarcástica, mas pelo jeito que seus olhos pousaram duros sobre mim, não consegui "eu não sei o que aconteceu. A única coisa que eu sei é que minha filha está na UTI, provavelmente algo de muito ruim aconteceu com ela e ninguém, absolutamente ninguém, se propôs a me explicar nada. O meu marido é sim uma pessoa temperamental, mas eu duvido que ele tenha se sujeitado a passar por uma situação que envolvesse a violência, se não fosse necessário. Para ser sincera..." fiz uma pausa breve, quando meu fôlego já estava se esvaindo. "Eu não sei o que Hardin fez, mas se fosse para proteger Emery, eu teria feito a mesma coisa, talvez até pior." Concluí, cavando as expressões dos policiais que aguardavam cautelosamente que a mulher em sua frente, com uma aparência horrenda, mal dormida e preocupada, demonstrasse sinais de histeria para me levarem daqui a força.

O mais alto começou, paciente, avaliando cada palavra antes de ser dita.
"Nós entendemos perfeitamente. Por ora, acredito que seja somente isso. Vamos explicar, mas a senhora precisa manter a calma e não haja precipitadamente. A polícia está trabalhando persistentemente no caso e precisamos da sua colaboração." Seus olhos desviaram-se dos meus e pousaram atrás de mim, balançando a cabeça em forma de cumprimento. Não me viro para saber que era Auden. Eles não se dão o trabalho de se apresentar, então continuam.
"Bem, pelos fatos apresentados, Emery chegou na festa acompanhada de um rapaz que ainda não temos conhecimento de quem seja, as pessoas que interrogamos deram nomes diferentes diversas vezes." Ele balançou a cabeça frustrado. "Pelo que parece, eles discutiram e ele foi embora deixando-a na festa com os amigos."

Vou digerindo essas informações e agradeço pelas pausas que eles dão em uma frase ou outra. Consigo ligar os fatos e ver que o que Auden havia me falado mais cedo se encaixava perfeitamente com o que poderia estar acontecendo.
"Algum tempo depois, algumas meninas que se lembraram dos fatos, contaram que viram alguns rapazes drogando Emery através dos coquetéis e a conseguiram levar para o quarto." Ele pausou por um momento, correndo o olhar entre nós, seus grandes olhos castanhos nos fitando.

Eu sabia o que tinha acontecido, só estava esperando alguém ter a coragem de esfregar isso na minha cara e me ajudar a esclarecer as dúvidas que eu tinha sobre ser uma mãe miserável. Alguém que teve todos os sinais, mas não fez nada, não conversou porque tinha medo, não perguntou porque não queria ouvir as respostas. Eu não tinha mais lágrimas para chorar, mesmo que o que eu ouvisse depois, me fizesse em milhões de pedaços e me afundasse na dor mais profunda que um ser humano poderia sentir.

Levantei minha postura, pronta para o baque que taparia a boca do meu estômago e me deixaria sem ar. As mãos de Auden sempre tão preparadas, estavam no meu ombro em um aperto consideravelmente forte.
"Sra. Scott, nós sentimos muito. Sua filha foi violentada por dois homens. A fizeram cheirar cocaína e há indícios de heroína em seu exame toxicológico de sangue. Emery teve uma parada cardiorrespiratória, mas graças ao apoio médico, conseguimos trazê-la de volta. Se não fosse seu marido, talvez o pior poderia ter acontecido." Ele não vacilou em nenhuma dessas palavras, como se todas estivessem sido ensaiadas dez vezes antes de saírem pela sua boca. Cada uma cortando cada laço de afeto que eu tinha construído nessa terra, trazendo todos os meus pesadelos á tona.

Eu não desmaiei e não chorei, mas vomitei tudo o que estava me corroendo desde que saí de casa. Não estava colocando para fora tudo o que eu havia comido, mas todo meu medo, toda minha insegurança, todo meu cansaço e minhas frustrações. Eu devo isso a Emery.

Minha filha vai ter uma mãe e vou abandonar tudo isso porque é ela quem vai precisar de mim agora, de alguém que vai carregar todo o trauma que ela vai sentir pelo resto da vida. Emery vai ter o melhor de mim, tudo o que eu nunca consegui dá-la. 

***
NOTAS DA AUTORA


O negócio tá pegando. Eu quero é saber do Hardin. 
O que vocês estão achando do posicionamento de Tessa? E Emery? Quando acordar, como vai reagir? Uuuuh, muitas emoções. 

Não esqueçam de comentar e votar. Preciso muito saber a opinião de vocês, se não, não tem sentido continuar. 

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora