Auden.
Já era a quarta latinha de refrigerante que eu tomava. Eu não podia ficar muito tempo no quarto com Emery porque as enfermeiras sempre entravam para limpá-la e fazer essas coisas que enfermeiras fazem. Por uns minutos eu havia me arrependido de deixar meus pais irem pra casa, mas só de lembrar das olheiras da minha mãe, um arrepio percorreu minha espinha. Me convenci de que eles precisavam descansar mais do que eu, então, não vejo o porquê não ficar por aqui. Emery sempre foi muito independente, nunca precisou de ninguém, a ver nessa situação me deixa sem ter o que fazer. Mesmo que não quisesse ficar, dona Tessa nunca deixaria ela por aqui. Tem sido difícil esses dias, enquanto meu pai dormia, minha mãe sugou todas as minhas forças. Não que eu esteja reclamando, faria tudo de novo, mas é difícil ser forte cem por cento do tempo.
Andei todos os corredores desse hospital e sei cada buraco em que me enfiei, o melhor lugar é a sala de espera. Por mais que tenha sempre alguém chorando ou algum médico levando uma má notícia, não cheira forte e as pessoas são mais educadas e não falam alto. Isso aquieta meus pensamentos e não preciso me concentrar demais para pensar.
"Senhor Scott?" uma moça de jaleco, não muito mais velha do que eu, - presumi que fosse algum tipo de residente – me encarou, observando-me por tempo demais. Seus olhos castanhos percorreram meu corpo e senti meu rosto esquentar. Pigarreei, esfregando as mãos nas bochechas para fazer a vermelhidão passar logo.
"Sim, sou eu." Respondi e me amaldiçoei por minha voz falhar. Ela sorriu e colocou a franja atrás da orelha.
"Tem um rapaz na recepção nos obrigando a deixar entrar. Diz que quer ver a Srta. Emery de qualquer jeito." Ela pareceu apreensiva, esfregando uma mão na outra. Ué, mas quem seria? Meus pais não voltariam até amanhã e não me recordo de nenhum amigo da Emery estar ciente do que aconteceu com ela. Assenti, meio receoso.
"Tudo bem, deixe-o entrar." Respondi, ainda com dúvidas sobre se deveria ou não. Mas seria bom ter alguém para conversar de qualquer jeito. Ela sorriu, um sorriso tímido. Deu a volta nos pés e saiu apressada, sumindo nos corredores brancos.Sentei, aguardando impaciente quem quer que fosse. Pensando nas desculpas ou se deveria contar a verdade sobre o caso. Não sei o que meus pais diriam, na verdade, não sei como eles contariam para família, para os amigos. Era necessário, porque nem todos nós teríamos tempo para ficar com Emery quando ela acordasse. Supostamente ela não voltaria a estudar tão cedo, talvez, nem de casa ela teria forças para sair.
Passos apressados invadiram o corredor e o que era um silêncio pacífico se tornou em várias emissões de ruídos chatos. Barulhos de chaves, botas batendo no piso perfeitamente encerado, anéis batendo nos corrimãos. Suspirei, imaginando que quer quem fosse não parecia respeitar regras de hospitais. Me levantei, prontificando-me para cumprimentar o meu mais novo acompanhante.
Não demorou muito para que seus olhos encontrassem os meus. Um verde fosco, sem vida e sem brilho. Tive a impressão de que acabara de sair de um velório, porque estava todo de preto e em seu braço direito segurava uma jaqueta de couro. Seus braços eram todos cobertos por tatuagens, até seu pescoço onde nasciam alguns ramos secos. Seus cabelos eram tão pretos quanto sua roupa e estavam penteados para trás, num aspecto molhado. Vestia coturnos e imaginei que estivesse em algum tipo de festa no meio do mato, porque estavam todos cheios de lama. Ele se aproximou rápido e em seu rosto eu não enxergava nenhum tipo de emoção que eu conhecesse. Ele parecia impassível, mas suas mãos coçavam uma a outra sem parar e supus que ele fosse ansioso. Não sorri, porque ele não parecia ser amigável. Mas fui educado ao levantar a mão e me apresentar.
"Oi cara, tudo bem? Sou o Auden. Que bom que veio." Me segurei para não sorrir. Eu e essa minha mania de tentar ser simpático com as pessoas. Tem gente que tá pouco se fodendo pra isso, esse cara é literalmente uma dessas pessoas.Ele não ligou para o que eu disse, nem tampouco se importou em ouvir. Balançou a cabeça e acreditei que esse fora seu cumprimento.
"Onde está a Emery, vim vê-la." Ele falou, olhando o tempo ao seu redor, como se estivesse preocupado com quem estivesse nos observando.
"Está na UTI." Fui seco, esse moleque já estava me irritando. Que autonomia era essa de chegar perguntando da minha irmã, sem nem sequer se apresentar. "E você quem é?" Guardei as mãos no bolso, arrumando minha postura para ficar na mesma altura que ele. Ele suspirou, aparentemente irritado com a minha resposta.
"Cara, eu não tô aqui para dizer quem eu sou ou o que eu vou fazer. Eu tô aqui porque quero saber onde está a Emery." Sua cabeça se movia de um lado para o outro e ele mudava a jaqueta do braço direito para o esquerdo a todo momento. Ele parecia alterado e quando cheguei mais perto, senti o cheiro de cigarro vindo de sua roupa.
Merda! Eu sabia quem ele era. As descrições que Catherine havia me dado, o comportamento estranho, o jeito como estava doido atrás de Emery. Minha feição mudou rapidamente e senti a carranca se formar na minha cara.
"Não quero você perto dela. Já não viu o mal que já causou?" cuspi as palavras nele, pronto para despejar todo ódio e toda raiva que estava acumulada no meu peito. Ele franziu o cenho e arqueou a sobrancelha, confuso.
"Mal? Que mal o quê, maluco?" ele começou a tremer, os olhos buscando respostas no meu rosto. "O que aconteceu com ela?" ele perguntou mais baixo, fechando os olhos por algum segundos.
"Ah, você não sabe? Pensei que soubesse..." sorri com escárnio, quase rindo da raiva que emanava dele. "Você mais do que ninguém deveria saber, quando largou ela lá sozinha." Quase berrei, bem próximo ao seu rosto. Ele foi ficando vermelho, da ponta dos dedos até o pescoço, as veias saltadas e pude perceber que ele estava se segurando para não me bater.A minha vontade era de provocá-lo até que ele o fizesse, para que pudéssemos mandar esse bosta para prisão. Além de arruinar a vida de Emery, queria terminar de fazer o serviço vindo procurá-la no estado em que ela estava. Outra coisa, se passaram 4 dias. Emery está em coma faz 4 dias e esse imbecil não se deu o trabalho de procurá-la antes, por quê? A raiva foi crescendo mais ainda na minha garganta e quando percebi, dois seguranças nos olhavam a postos, prontos para apartar qualquer coisa que venha acontecer. Pensei o que minha mãe diria se eu arrumasse confusão no hospital, com Emery internada e não pudesse mais entrar para vê-la.
Respirei fundo e me afastei, levando a mão aos cabelos. Ele coçou a testa, tentando respirar compassadamente.
"Auden, não é?" ele falou ainda com a respiração entrecortada. "Você vai me contar exatamente o que aconteceu e eu te digo quem sou." Ele olhou para mim, os olhos com um brilho estranho, como se fosse um misto de esperança e raiva. Eu não confiava nesse sujeito, mas uma coisa eu sei, se eu descobrisse quem ele era, seria muito mais fácil de arrancá-lo da vida de Emery. Assenti e esperei ele prosseguir, quando dei sinal com a mão.Ele bufou e se sentou na cadeira, jogando a jaqueta no outro banco de espera. Sacou de um cantil e tomou um gole antes de falar.
"Meu nome é Hall." Entornou o cantil novamente e me fitou com aqueles olhos sombrios. "Mason Hall."
***
NOTA DA AUTORA
Tá aí, suas kengas. Dois capítulos em um dia, pois vou ficar até ano que vem sem postar.
Conheceram o mais novo bad boy da paradinha? Mason, o gato.
Comentem o que acharam. Próximos capítulos só bomba.
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After 6: Depois da calma
RomanceUma silenciosa paz e calma se instaura pela família Scott, perpetuando o final feliz de Hardin e Tessa. Os anos se passaram e as mágoas e más escolhas foram deixadas para trás. Mas parece que o aparecimento de alguém indesejado e os medos passados e...