Capítulo 11.

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Tessa.

Me segurei em Auden por um minuto, quando senti que minhas pernas iriam me trair. Não ousei olhá-lo e demonstrar o pânico instalado em meus olhos. Seus braços me envolveram mais forte por um instante e os segundos em que eu demorei para me recompor, Auden já conversava com a policial.
"Sem problemas. Entendo seu trabalho, é que dentro dessa residência estão minha irmã e meu pai, e essa daqui é minha mãe." Ele me coloca mais para frente, me sacudindo pelos ombros. Me forço a olhar para a policial, que ainda mantém uma postura agressiva. Seus olhos percorrem meu rosto procurando algum sinal de histeria e as sobrancelhas se unem quando eu falo.
"Olha, senhora...?" pauso por um segundo.
"Houston. Sarah Houston." Ela troca o peso dos pés, ainda com as mãos apoiadas no coldre. Como se estar parada ali, dando satisfações sobre quem era e qual seu trabalho a cansasse mais do que prender ladrões.
"Senhora Houston, meu marido está lá dentro e eu preciso..." pigarreio, limpando a garganta. "É necessário que a senhora me deixe passar. Meu nome é Theresa Scott." Pouso a palma da mão em meu peito e logo afago o braço de Auden. "Esse é meu filho, Auden Scott."
"Família Scott?" ela vira o corpo para trás, olhando a movimentação das macas. Policiais correndo de um lado para o outro, meninas saindo bêbadas acompanhada pelos pais, algumas pessoas desacordadas, outras vomitando nas valetas das calçadas. Mas o que diabos aconteceu aqui?
"Exato. Somos da família Scott. Se a senhora puder facilitar o trabalho e nos deix..." sou interrompida, quando suas mãos pousam sob meus ombros. Seus olhos já não são mais tão duros e agora o que vejo é um misto de compreensão e pena. Suas mãos estão frias e meu corpo estremece com o toque, mas não recuo. Ela retira a faixa que nos impede de passar e parece que os sons ficam mais evidentes. Passos rápidos de um lado para o outro, rádios policiais dentro das viaturas, paramédicos aquecendo pessoas. Se olhassem de fora, provavelmente pensariam ter sido um atentado que acontecera por aqui.
"Me acompanhe até a ambulância, Sr. Scott. Temo que seu marido esteja lá com sua filha." Ela apertou os dedos ainda meus ombros e minha visão ficou turva por uns segundos. Ambulância? Meu marido? Minha filha? Me apoiei em Auden, que mantinha uma postura impecável. Mas não ousava me olhar, ambos sabíamos o que aconteceria.
"O que aconteceu aqui? Era pra Hardin estar em casa a essa altura... Pensei que fossem alguns baderneiros que tivesse se ferido, mas não isso daqui." Aponto para a casa e para um casal que segura os cabelos da filha enquanto vomita.
Ela suspirou, um suspiro prolongado, como se estivesse buscando as palavras certas.
"O Sr. Scott, bem, ele estava desacordado quando... Hãn..." Uma mulher alta, de cabelos pretos e olhos castanhos nos abordou. Seu jaleco estava sujo de sangue e seus sapatos estavam enlameados, eu a observei por um instante e busquei alguma emoção em seu olhar.
"Sra. Scott? Preciso que venha comigo." Ela me tomou nos braços, segurando um dos meus cotovelos até uma ambulância mais próxima. O jeito como me apertava me irritou e inconscientemente tirei meu corpo de sua frente.
"Alguém vai me dizer o que está acontecendo. Agora!" berrei. Minhas cordas vocais vacilaram um pouco por causa do nervoso, mas Auden estava atrás de mim, esperando respostas tanto quanto eu. Os olhos da paramédica me avaliaram pacientemente.
"Seu marido ainda não está aqui. Ele está dentro da casa, com sua filha." Sua voz saiu baixa, mas dura, como se esperasse da minha parte algum tipo de compreensão que eu não queria dar. Como um ímpeto, meus pés se moveram rápidos, desviando de macas, carros e arbustos até que consegui alcançar os portões dos Carter. Eu não tinha muito tempo até todos caírem em cima de mim, então precisava encontrá-los. O jardim era enorme e haviam muitas pessoas parecidas umas com as outras. Andei poucos metros para frente e alguns passos perto da porta eu a vi.

Enrolada em um cobertor sujo, cheio de sangue e terra, Emery estava sendo reanimada por dois homens em cima de uma maca. Seus cabelos estavam desgrenhados em nós e o louro de suas mechas já não eram mais claras como o Sol. Ela estava cheia de hematomas e seus lábios cortados em diversas partes. Não conseguia ver seu corpo, porque aquele trapo a escondia. Mas seus ombros estavam nus e deduzi que estivesse nua também.

Busquei nas proximidades e em cima de outra maca, Hardin estava inconsciente, com uma máscara de oxigênio em seu rosto coberto de sangue. Sua roupa estava encharcada e inteiramente manchada, suas mãos pendiam caídas e diversos cortes e feridas se espalhavam pelas costas e palmas.

Eu não sei exatamente que tipo de visão era essa que eu estava tendo, não sei o que aconteceu em minha vida de tão ruim para que eu chegasse a esse ponto. Encontrar minha família destruída, sem vida, sem forças e sem perspectiva de reanimo. Eu batalhei incansavelmente por isso, batalhei até que não restasse mais nada de mim por causa de Hardin. Me despedacei em milhares de pedaços para que pudéssemos ter uma vida feliz juntos. Eu escolhi cultivar uma família com ele e independente do seu passado ou da vida maldita que ele levou, eu sabia o que ele seria para os meus filhos e no fundo, eu sabia exatamente o que tinha acontecido aqui.


Hardin nunca deixaria ninguém encostar na Emery e esquecer o assunto.


***

NOTAS DA AUTORA 

Tessa está sentindo exatamente o pavor que sentiu há uns anos atrás, no episódio com Steph. Quero muito que ela lide bem com isso. 

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Espero muito que tenham gostado. Obrigada! 

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora