Capítulo 20.

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Auden.

Na maioria do tempo, não prestei muita atenção em como ele dizia que conhecera minha irmã ou em como eles foram parar na casa dos Carter. O que eu temia é que ele fosse exatamente o cara que estava sendo comigo, com Emery. Posso dizer que já conheci todo tipo de gente na vida, mesmo tendo 17 anos. Mas esse cara superou todas as minhas expectativas... para pior. O jeito como ele se comportava, os trejeitos, o desdém, tudo nele era arrogância pura. O que Emery viu nesse sujeito?

"Certo, agora que você já sabe. O que aconteceu com Emery?" Ele suspirou, encostando-se no banco de espera e tirando um cigarro do maço, dentro da jaqueta. Encarei-o por meio segundo, até que ele jogasse as mãos para o ar em questionamento. "O quê? Não pode fumar aqui também?" Sua arrogância não transparecia só nas palavras, mas o corpo dele combinava com tudo o que ele dizia ou fazia.
"Você tá de brincadeira, só pode." Balancei a cabeça, rindo ironicamente para o nada. Ele suspirou e guardou a máquina de matar de volta na jaqueta. "Você está namorado a Emery?" Era uma pergunta que eu deveria fazer mais cedo ou mais tarde e tenho certeza que não teríamos outro momento como esse por muito tempo. Preciso de muita sorte para arrancar dele esses tipos de informação. Ele engoliu em seco, desviando o olhar e pude perceber que esse assunto era muito delicado.
"Não." Ele soltou seco, mas pude notar um acento de dúvida em sua voz. Ele esfregou as mãos uma na outra novamente e quando pude perceber, sua feição havia se tornado sombria novamente. "Eu não namoro."

Se eu não prestasse atenção nas coisas que acontecem a minha volta, poderia dizer que esse cara não se parecia com ninguém e que nunca nessa Terra, Deus permitiria que outro imbecil como esse nascesse para atormentar a vida das pessoas. Contudo, alguma coisa me relembra o que ele acabara de dizer... E se minha memória não me engana, quem disse isso... Puta merda! Meu pai!

Ele notara o tormento no meu rosto e vi um sorriso divertido nascer em seus lábios, como se soubesse exatamente o que estava se passando na minha cabeça.
"Nem ouse fazer isso. Não sou teu pai, temos grandes diferenças..." ele parou, olhando para o nada, como se recordasse de alguma lembrança aturdida. "A diferença é que ele foi um babaca pior do que eu."

Caralho! Esse imbecil leu os livros, ele sabe da vida da minha família e pelo jeito que como se referiu ao meu pai, não me impressiono se soubesse até mais do que eu. Balancei a cabeça, conseguindo assemelhar tudo. Se não estivesse mesmo acontecendo comigo, poderia dizer que essa história parece mais um conto de terror, algo sobrenatural e que o que aconteceu com meus pais está acontecendo com a minha irmã. O que eu temo é que esse merda seja o tipo de cara que não mude por amor.


"Mason, Emery foi estuprada por dois caras na festa. Foi drogada e violentada." Estremeci, como se cada palavra demorasse um pouco a ser processada. "A drogaram tanto que teve um início de overdose. Sofreu uma parada cardiorrespiratória e se não fosse o babaca do Hardin, ela estaria morta." Cuspi as palavras, não escondendo nenhum detalhe para que ele pudesse sentir o que todos nós estávamos sentindo. Bem, se é que ele sentia alguma coisa que não fosse o que parecia ser uma possessão estúpida por Emery.

Ele ficou pálido e suas mãos caíram sem vida ao lado do corpo, escorregou na cadeira e seus joelhos bateram no chão. Seus olhos que já eram mortos, se apagaram por muito tempo enquanto fitavam o chão. Eu não o ajudei, não movi uma palha se quer. Eu sei exatamente o que ele está sentindo agora, - se é que ele é capaz de sentir alguma coisa - é exatamente o que todos nós sentimos quando vimos Emery no estado em que estava. A sorte dele foi de não a ter encontrado como meu pai a encontrou. O tipo de cara como ele nunca teria sido tão sangue frio como Hardin foi quando quase tirou a vida dos dois caras e ainda conseguiu sair da casa com Emery no colo, pingando sangue por todo o lugar.

Ele permaneceu assim por algum tempo, com as mãos no rosto, sem mexer um dedo. Pensei em ligar para os meus pais e dizer que um estranho estava causando alvoroço no hospital, mas preferi que ele terminasse de sentir todos os nervos dele serem estilhaçados como vidro e todas as boas lembranças com Emery jogadas no fogo. Porque, por mais que lutássemos, ela nunca mais seria a mesma.

A mesma moça que me informou da chegada de Mason, adentrou a sala de espera, nem um pouco assustada com a forma que encontrara ele sem movimento no chão. Seus olhos pararam em mim e ela sorriu, como quem traz uma grande notícia.
"Temo informar que a Srta. Emery acordou, senhor Scott." Minhas pernas bambearam e agradeci por estar sentado. Meu coração acelerou e pelo jeito como estava batendo, pude jurar que todos naquela sala conseguissem ouvir.

Mason tirou as mãos do rosto lentamente e pude ver a dor, a confusão, o medo e alguma coisa que eu não conseguia identificar... Algo sombrio, muito sombrio. 

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora