Capítulo 41.

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Hardin.

"Carter." Cumprimentei-o, acenando com a cabeça.

Dentre os milhares de motivos que eu estaria cogitando a vinda de Phill Carter até minha casa, nenhum era bom o suficiente para que eu pudesse relevar ser alguma coisa que nos beneficie. Eu conhecia aquele tipo de gente, formal e educada. Mas quando se tratava de assuntos que envolvessem sua reputação, tudo ficava obscuro demais.

"Apenas Phill, Hardin. Já passamos da fase das apresentações." Ele sorriu, arqueando as sobrancelhas e estendendo a mão e sinal de trégua.

Eu não me esqueci que o que aconteceu fora na residência dele. Por mais que sua empresa tenha custeado todos os gastos que tivemos para comprovar minha inocência e colocar os estupradores na prisão, eu não confiava nesse tipo de gente. Ainda mais porque até hoje ele nunca apareceu por aqui, depois do caso de Emery. Fico parcialmente grato que tenha mantido sigilo e na verdade fico me perguntando como ele aguentou por tanto tempo sem se vangloriar por ajudar a família Scott. Duvido que seja uma pessoa empática... Na verdade, minha dúvida maior é sobre o que ele está fazendo aqui.

"Vamos entrar. Fiquei à vontade." Abri a porta o suficiente para que ele pudesse entrar, seus sapatos de couro batendo no piso frio de porcelana. Sua expressão corporal mudou e seus olhos vagaram pelas paredes e quadros de Tessa.

"Você tem uma ótima coleção por aqui." Ele parou analisando o vaso quebrado que estava pintado na tela maior.

"A coleção não é minha, é de Tessa. Ela tem um ótimo gosto para arte." Sorri, lembrando as discussões que rendem horas sobre o dinheiro que gastamos em obras que só servem para que ela fique admirando-as.

"Entendo." Ele parou, desfocando sua atenção dos quadros e fitando meu rosto com uma expressão que já não era a mesma que entrara.

"Bem, eu vim aqui porque tenho algumas coisas para esclarecer com você." Ele pausou, olhando para Auden que estava encostado no batente da porta, analisando nossa conversa como um gavião.

"Certo. Vamos para meu escritório, por aqui." Apontei para a porta dupla que ficava próxima a biblioteca improvisada de Tessa. Sorri para Auden, tentando tranquiliza-lo e acenei para que ele subisse e desse uma olhada em Mason.

Phill sentou-se na poltrona marrom que ficava de frente da mesa entulhada de papéis. Eu precisava mesmo dar um jeito nessa zona, alguns papéis tinham a coloração amarelada de tanto tempo que estavam fazendo hora nessa mesa. Juntei todos em um grande abraço e coloquei-os no armário de pastas, torcendo para que ficassem presos sem que eu precisasse trancafiar a porta – porque perdi a chave.

Sentei-me do outro lado da mesa, me perguntando o que Tessa faria agora. Ela serviria uma água? Perguntaria se ele está confortável? Ou se precisa de algo...

"Eu não vou tomar muito do seu tempo. Só tem uma história que preciso te contar, já que nossas famílias estão interligadas agora..." Fiquei tenso com essa declaração e em poucos segundos tentei me relembrar quais foram os momentos que perdi essa comunhão que os Scott tinham com os Carter, e para ser sincero, não achei nenhum.

Antes que eu pudesse responde-lo e bombardeá-lo com mil perguntas, minha expressão deixou claro que eu precisaria de uma história muito bem contada para que ele viesse até minha casa me amolar com pouca coisa. Já não basta seus funcionários de merda nos amolarem toda sexta pedindo contribuições para deixar o bairro mais "limpo e conservado." A porra do asfalta chega estar gasto de tanto que lavam e perfumam.

"Bem, depois do... hãn..."

"Do estupro, Phill. Estupro." Frisei a palavra para que isso o atormentasse tanto quanto me atormenta. Ele pigarreou e assentiu, seus olhos verdes mirando meu rosto como se estivesse buscando reações negativas.

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora