Capítulo 6.

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Tessa.

Estou sentada no sofá, Auden está em cima de mim, com um moletom que eu havia pedido para que colocasse para lavar a semana inteira. Ele ressona baixo, uma vez ou outra fungando por causa da rinite. Sua testa brilha por causa do suor e penso em afastá-lo um pouco por causa do calor. Mas por um momento me retraio e todos os meus músculos estão grudados em Auden, como se ele fosse sumir ou me deixar num piscar de olhos. O meu medo está tão transparente que os pelos do meu braço estão eriçados e imaginar Auden batendo a porta para longe de mim, me causa náusea. Estremeço debaixo dele, que resmunga e joga um dos braços para fora do sofá.

Eu não sei o que está se passando comigo agora, não sei o que minha mente seria capaz de criar para me tirar dessa realidade infernal, mas eu não posso fugir disso novamente. Não posso escolher deixar Emery, mesmo com todo seu egoísmo, mesmo nos deixando em pedaços. Ela ainda é minha filha e mesmo que não me reste mais nada, ela irá continuar sendo. Sinto meus olhos turvarem novamente e tento me esconder nos cabelos de Auden, o shampoo parece estar fresco ainda, mas a raiz já está oleosa por causa do suor.

Auden já está um... homem. Acredito que eu ainda vá demorar centenas de alguns anos pra que admita isso pra mim mesma. Seus traços estão mais maduros, seus trejeitos são mais conversados, suas roupas estão mais justas. Me lembro quando ainda escolhia suas camisas, ouvi seus recitais e o perfumava para os bailes. Me admiro com nossas semelhanças, eu estava tão em Auden que me via em seu jeito de andar, de falar e de se portar. Nos conhecíamos como ninguém, nos dávamos bem, sempre confiei meus sentimentos e meus segredos ao meu filho. Porque eu sempre soube que ele estaria ali. Conseguia decifrar suas emoções, antes mesmo que chegasse em casa, descobria os motivos do seu mau humor ou apenas era feliz com as novidades do dia.

Hardin sempre teve muito ciúmes, mas sempre foi injusto. Ele tinha Emery, sempre a teve na palma das mãos. A conexão que eles detêm um com o outro, me assusta a ponto de achar que pode ser até algo sobrenatural. Me espanta saber que ele não tinha ideia do que estava acontecendo, que nem sequer suspeitou... Não me recordo de vê-lo esperar Emery tarde da noite durante a semana. Na realidade, nem mesmo eu o fazia. Sabia que era ela pelos barulhos mal disfarçados, os sapatos no assoalho o contratempo de seus passos. Ela parava alguns segundos na nossa porta, antes de bater a porta do seu quarto. O que será que ela pensava? Será que sentia dó de mim e de Hardin? Ou será que não? Meu coração dispara ao supor esses absurdos e uma lágrima escapa na testa de Auden. Ele se mexe e coça o rosto, abrindo os olhos, me fitando confuso. Logo sua expressão se esvai e ele suplica.

"Ah mãe, por favor..." seu rosto se contorce em preocupação e eu não seguro mais os soluços. Ele me abraça. Auden tem a mesma estatura de Hardin, mas é muito mais desajeitado. Seus braços são longos e seus dedos cumpridos, sua pele está quente por conta do calor e vejo os papéis se inverterem quando ele me nina.
"Você não vai nos deixar assim, não é?" meus soluços estão mais altos agora e limpo meu nariz em sua camiseta. Sua voz sai com um sorriso.
"Acho que às vezes você se esquece de quem me criou, não é?" ele ri, balançando a cabeça, afundando o rosto nos meus cabelos. Eu ficaria assim por horas, não o deixaria sair nem para ir ao banheiro. Eu o amo tanto que dói cada particulazinha do meu ser.
"Justamente por isso, não sei mais se o meu jeito de criar vocês, foi o certo." Afundo no sofá, meu corpo tendo tremedeiras involuntárias.

"Acho que você está errada. Emery foi aprovada em Columbia." Suas palavras terminaram de destruir a parede fortificada que eu construí para me proteger dos meus piores medos e traumas. O gume que me cortou na ida e na volta, parou quando meu coração apertou de uma maneira que eu não conseguia respirar. E as lágrimas jorraram em torrencial. Auden não tinha mais reações então só me abraçou forte. Ficamos assim por alguns muitos minutos, incontáveis e quando meu choro passou, Auden me deixou no sofá. Prendeu os cabelos desgrenhados, já estavam na altura do ombro. Apoiou-se nos braços e resmungou.
"Vou tomar um banho, tudo bem?" eu assenti, não querendo que ele fosse, me sentindo com frio.
"Tudo bem. Volta logo." Pedi gentilmente, tentando sorrir. Mas o rosto de Auden se contorceu em uma careta estranha. Acho que não saiu como esperado.
Então ele saiu e mais uma vez me vi sozinha. 

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora