Capítulo 42.

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Emery.

Mason me encarava aturdidamente com aqueles malditos olhos. Seu corpo sofria com todos os hematomas que eu conseguia enxergar, vários roxos e cortes espalhados pelo seu rosto. Ele estava pálido, sua pele não aderia mais a coloração natural e seus olhos estavam fundos me fitando. Ele não tinha movimento algum a não ser sua expectativa que parecia emanar dos poros da sua pele.

Eu não sei quais foram as emoções que me atingira ali naquele momento. Um misto de ódio, indignação, felicidade, saudade. Era tudo tão misturado e tão confuso que várias atitudes se passaram pela minha cabeça. Eu não conseguia sentir dó de Mason, somente... desejo, amor, saudade e muita raiva. Ele merecia toda essa merda que estava passando, mas eu não conseguia simplesmente ignorar e deixa-lo partir com o restante da humanidade que sobrava dele. Isso se sobrasse alguma coisa.

A sala estava em um silêncio ensurdecedor. Minha mãe estava a alguns passos de mim, aparentemente pronta para qualquer tipo de surto que eu pudesse dar. Ela estava apreensiva, esfregando as mãos uma na outra. Fico feliz por saber que estou conseguindo lidar com isso, que hoje quebrei minhas próprias barreiras e estou voltando a ser o que eu era. Depois de tanto tempo sendo a Emery dos outros e dos meus demônios, estou recuperando a Emery que é só minha.

Suspirei jogando a minha bolsa no sofá. Não reparei que Hardin estava na sua conhecida poltrona giratória. Aquele canto estava tão escuro e ele estava tão imóvel, que não notei sua presença pesada na sala. Catherine e Auden estavam na entrada da sala, em silenciosos também.

Bom, eu não sei exatamente o que estavam esperando de mim. Alguma crise de ansiedade, um desmaio, gritos, choros. Eu não daria isso a eles, até porque não era algo que eu sentia nesse momento. Eu só queria paz e estava muito cansada para gastar o resto das minhas energias com isso. Eu estava decidida a enterrar a velha Emery.

Sentei no sofá de couro branco, sentindo o cheiro do bem material novo, imaginando que minha mãe havia trocado para combinar com a mesinha de vidro temperado. Estava a alguns lugares de distância de Mason e seus olhos me acompanharam, até que eu me acomodasse no sofá.

"O que está fazendo aqui?" Minha voz parecia mais cansada do que eu estava e apoiei meu cotovelo, debruçando a cabeça na minha mão, para fita-lo melhor.

Eu não ouvia a respiração de ninguém, estavam sendo tão sutis que por um momento parecíamos ser só nós dois naquela sala.

"Eu sinto muito." Ele balbuciou, com a expressão impassível, ainda me encarando profundamente. Como se quisesse desvendar o meu silêncio, desbravar meus pensamentos. Ele não era o Mason que eu conheci, estava tão destruído que não conseguia reconhece-lo.

"Mason..." o nome dele fez cócegas em minha boca e as lembranças das vezes em que eu gemia chamando-o na cama me invadiram, fechei as pernas com força, reprimindo o efeito que ele tinha sobre mim. "Você não pode fazer as coisas que faz, bater no meu pai, me xingar como se eu fosse qualquer vagabunda, se drogar..." apontei para o braço dele, mostrando o estrago que os furos infeccionados causavam na sua pele. "E depois voltar dizendo que sente alguma coisa."

Eu queria ser mais dura, queria gritar como estavam todos esperando, apontar o dedo na cara dele. Mas eu simplesmente não conseguia, não dava mais. Eu queria só me desvencilhar desse peso que estava me puxando para o fundo do poço e voltar a ser quem eu era sem Mason, sem essa merda toda.

Ele baixou os olhos, agora encarando as mãos que não se mexiam. Isso não era amar alguém. Como fui tola em perceber que nem dizer que me amava ele conseguia direito. Todas as vezes que eu me despi primeiro, abrindo o jogo primeiro, dizendo o que sentia primeiro. Tudo por causa dele, para salvá-lo dessa maldita vida que ele levava.

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora