After 6: Depois da calma

Capítulo 39.

Tessa.

Os dias se passaram lentos demais. A tarde não corria como quando estavam todos aqui sorrindo e gargalhando de besteiras idiotas. Essa casa está até mais vazia do que quando éramos somente Hardin e eu. Parece que voltamos a estaca zero das nossas evoluções e eu não sei se estou pronta para um recomeço novamente.

Eu repassei na minha cabeça mil vezes a conversa que tivemos naquele hospital, tentei encontrar falhas na promessa que eu havia pedido que ele fizesse caso quisesse continuar conosco, mas eu não encontrei nada. Realmente, eu não encontrei nada. Não encontrei nenhuma falha, como também não encontrei a verdade por trás daquelas palavras. Ele mentiu o tempo inteiro e eu, sempre fraca, não pude distinguir a realidade da fantasia.

Fico me perguntando qual é o meu problema e se eu sempre vou ser enganada por esses tipos de pessoas. Será que não amadureci o suficiente para enxergar malícia nos olhares? Será que meu mundo é tão cor-de-rosa que não consigo enxergar as pessoas cinzas que acabam entrando nele?

Eu estou despedaçada por acreditar piamente que todo ser humano tem conserto. É mais fácil aceitar que tem gente que não quer e não merece ser consertada. Personalidades e caráteres que foram tão destruídos com o tempo, que não encontram luz em ninguém... E mesmo que a achem, sugam tudo de bom para irem embora com a parte que presta de quem doou.

Eu agradeço a Deus pelas cargas que ele me dava, toda vez que Hardin arruinava os muros que eu construía. Agradeço por ter me ajudado a fazê-lo enxergar que o mundo não é dado por trevas e que de alguma maneira o bem sempre vence o mal.

Mas dessa vez foi diferente.

Dessa vez estou aqui, me sentindo inundada pela culpa, sofrendo porque não consegui alcançar alguém que eu estava amando. Alguém que poderia mudar a vida da minha filha, mesmo com todas as suas imperfeições e que com certeza nos ensinaria com suas percas.

Mas dessa vez foi diferente.

Dessa vez, larguei meu trabalho para tentar consolar Emery de que fora melhor para nossa família, - mesmo não tendo certeza – e que precisaríamos passar por isso juntas. Que os sonhos dela eram maiores do que isso e que eu a ajudaria esquecer e enterrar toda essa merda, mesmo sabendo que seria quase impossível.

Dessa vez, eu quase perdi meu marido por concordar com essa loucura. Trazer alguém que mal conhecemos para casa, deixa-lo entrar nas nossas intimidades e corroer todos os nossos laços mais profundos. Quase perdi meu marido que estava apegando-se a um ser humano tão conturbado e doente, quanto ele fora.

Mas dessa vez foi diferente.

Tão diferente que dessa vez, não teríamos uma próxima.

(...)

"Estamos atrasados! Fica para o jantar." Hardin gritou do hall, pegando o casaco e agitando Auden para que ele se dirigisse ao carro.

"Tudo bem, amo você." Respondi, arrumando minha bolsa, tão atrasada quanto eles.

"Amo você." A resposta saiu fraca já quase na garagem. Suspirei, sabendo que todos nós estávamos nos esforçando.

Emery apareceu no pé da escada enrolada em um cobertor felpudo. Essa semana após o acontecimento, ela deixou de se alimentar com frequência e somente quando estávamos todos juntos é que ela comia. Sua aparência estava muito abatida e não havia mais brilho em nada do que ela fizesse. Procurei não invadir esse espaço que eu sei que ela precisava, eu também precisei e a nossa diferença é que ninguém soube respeitar.

"Mãe... Não sei se é uma boa hora, mas convidei alguns amigos para virem aqui hoje. Vamos comer algo e assistir um filme." Ela me encarou, esperando alguma reprovação. "Bem, são meus amigos de muito tempo. A senhora conhece a maioria... São do tempo da escola." Ela pareceu vagar para longe, olhando a parede e quem sabe através dela.