Capítulo 12.

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Tessa.

Ainda estou impactada e sinto como se o mundo tivesse sido arrancado sob meus pés, como uma peça que o destinou estava preparando para me pregar em todo esse tempo em que eu achava que estava feliz. Eu não conseguia me mover, não conseguia sair da posição em que me encontrava e estava me preparando para apagar e ser a próxima a ocupar mais uma maca.
"Tirem a porra da mão dela. Estou mandando tirarem a mão dela." A voz de Auden era a única que eu reconhecia, ao longe, enquanto tentava perpassar todas as outras vozes que gritavam no meu subconsciente. Meus braços eram chacoalhados freneticamente e eu não queria piscar, não queria responder, não queria ver quem estava me tirando desse transe infernal. Era necessário passar por isso, eu não me esconderia novamente. Não usaria dessa dor para me esconder, tudo que já sofri nessa vida miserável me fez entender que usar do que sentimos para fugir da nossa realidade, é sinônimo de fraqueza. Isso afasta as pessoas e as que são atraídas, nos alimentam de pena e de dó.

Me lembro como se fosse ontem quando perdi Richard e ainda com Hardin estilhaçando meu caráter, que Landon cuspiu verdades na minha cara como se fossem ácidos, e mesmo que não fossem, eu senti queimar cada entranha do meu ser. Foi o suficiente para que eu acordasse e redescobrisse a Tessa que eu queria ser. A Tessa que sou hoje, mãe de duas crianças maravilhosas e esposa de um marido que morreria por mim, morreria por nossos filhos.

Mais uma vez, sem que eu me desse conta, estou nesse mesmo tipo de situação. Tendo que escolher o tipo de pessoa que vou ser agora. O que eu devo aos meus filhos? O que eu devo a minha família? 

Meus pés se movem sozinhos, quase como se não tocassem o chão e sinto Auden perto o suficiente para que sentisse seu cheiro. Redobro os poucos sentidos que ainda me restam e vejo Hardin e Emery serem levados em macas para as ambulâncias, enquanto estou sendo arrastada para o oposto lado deles. Eu preciso fazer alguma coisa e preciso fazer agora. Não vão me afastar de Emery, não vão me afastar da minha família. Eles precisam de mim e não vou esperar sentada em uma viatura imunda as notícias do quadro instável dos dois. 

Faço a primeira coisa que vem na mente e começo a gritar descontroladamente, minha voz falha a cada pico e toda vez que meus cabelos caem no rosto, engasgo um pouco, mas não desisto.
"Me larguem! Me soltem agora, porra! Eu quero a minha filha, eu vou com eles! Vou com minha família. Estou mandando me soltarem!" 
Auden está ao meu lado, juntando meus cabelos num elástico grosso e o prendendo num rabo de cavalo frouxo, com fiapos soltos por todos os lados. Seu toque é como camomila e por alguns segundos, me desvencilho das mãos que me apertavam. Alguns policiais me olhavam por alguns metros de distância e os que estavam me segurando, suspiravam aturdidos, pensando no que deveriam fazer ou dizer. Quando recupero todos os meus sentidos, encaro a paramédica que me olhava em uma careta de desaprovação. Como se lidasse com esse tipo de escândalo todos os dias. 
"Deixem-na ir. Se o filho dela for junto, deixem-na ir." sua voz é grave e sem qualquer emoção. 
"É claro que meu filho vai junto." cuspo as palavras na cara dela. Como ela se atreve a me dizer o que fazer e como fazer com a minha família? Eu faço o que bem entendo e como quero. Não estou infringindo qualquer tipo de lei. Minha filha tem 18 anos, precisa de mim. Meu marido está desacordado, como vai dar suporte á ela? Tá tudo errado por aqui, completamente errado.

Sustento seu olhar, até que Auden me puxa pelo braço, nos dirigindo até a ambulância em que Emery estava. Já não usavam mais dos esforços para reanimá-la, mas já a haviam furado. Em seus dois braços estavam acessos que pingavam com rapidez, a máscara de oxigênio era diferente da de Hardin e tenho a impressão de que a entubaram para que ela pudesse respirar. Meus pés enrolaram um no outro e quase caí. Minha respiração tem ficado mais lenta e mais pesada a cada passo que eu dava e se não fosse Auden em todos esses míseros segundos, eu já estaria desfalecida.
"Vamos lá, mãe. Estamos quase lá. Acho que vamos ter de nos separar por uns..." meus braços o agarraram e minhas unhas cravaram em suas camisetas. Seus olhos encontraram os meus e estavam tão verdes que quase me perdi naquele mar. "Ei, calma. Eu não vou te deixar. Mas alguém precisa acompanhar o pai. Emery precisa mais de você, do que de mim, certo?" sua voz não vacilava em nenhum momento, era calma e ele pronunciava cada palavra alta e clara para que eu pudesse ouví-las sem nenhum tipo de dificuldade. Suspirei, prendendo o choro que ameaçava rasgar da minha garganta. 
"Tudo bem. Eu vou com Emery. Você está com seu celular certo? Você pode me ligar, digo, me liga assim que estiver com ele. Não deixe de me informar como estão as coisas, não deixem que o levem para outro hospital. Temos que ficar atentos, porque pode..." sou interrompida com um abraço quente e caloroso. Auden abre o seu melhor sorriso e mesmo que por alguns segundos eu veja o brilho de seus olhos vacilar, eu sabia que ele estava sendo forte por mim. Retribuo batendo em seu ombro, tentando retribuir com alguma coisa que ainda havia restado de mim. Mas pela sua careta, acho que não deu muito certo. 

Auden me deixa na ambulância de Emery e segue para a de Hardin que estava estacionada do lado posto da nossa. Um rapaz alto, com o cabelos perfeitamente arrumados em gel, me ajudou a subir os degraus e me acomodou com uma manta azul, perto do aparelho de respiração que mantinha Emery respirando. Meus olhos não me obedeciam e estavam cravados no monitor que bipava os batimentos dela, ritmando meus pensamentos e me dando brechas para pensar sobre o que estava acontecendo. O rapaz que me acompanhava checava os aparelhos a cada dez minutos, verificando qualquer coisa que não estivesse de acordo com o normal. 

A ambulância saiu, o ronco do motor me despertou e ousei olhar Emery. Me permiti olhá-la, analisar cada traço que saiu de mim. Ainda tão machucada e tão humilhada, essa pessoinha tão frágil e tão amada, continuava linda. 

Emery tinha uma beleza excepcional, seu sorriso era sempre o mais radiante e mesmo com sua personalidade difícil, ela detinha o coração mais lindo. Ri comigo mesma, pensando que era necessário uma tragédia pra que conseguíssemos enxergar as pessoas mais de perto, para analisar seus defeitos e perceber que suas qualidades sempre se sobressaíam. Aproximei-me de seus ferimentos, seus olhos ainda fechados, a maçã de seu rosto não mais rosada. Acariciei sua testa, meus dedos trêmulos com medo de machucá-la. Minha voz saiu fraca, embargada e minhas lágrimas banharam o pano sujo que a cobria. 
"Eu sinto muito. Sinto muito por não ter te visto." 


*** 
NOTAS DA AUTORA

Eu não sei vocês, mas consigo sentir cada dorzinha que a Tessa pode estar sentindo agora. O que vocês acham que pode acontecer? E o Hardin? O que será dele quando acordar com o remorso? 


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After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora