Capítulo 29.

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2 MESES DEPOIS.

Tessa.

"Pode me passar o sal por favor, Auden?" Pedi educadamente, aguardando que ele terminasse de mastigar a comida, para poder me colocar o saleiro mais perto. Sorri em agradecimento.

Os dias estavam passando mais devagar depois que as coisas começaram a se ajeitar aqui. Foram dois meses tremendamente turbulentos e não me sinto mal em deixa-los na caixinha do esquecimento. Catherine e Mason agora fazem parte da família, um mais indesejado do que o outro, mas ainda sim são bem vindos. Eu ainda acho muito cedo para que Emery se envolvesse em um relacionamento, ela ainda sofre muito com os pesadelos e os antidepressivos a deixam apática a maioria das vezes. É difícil arrancar sorrisos ou risadas quando ela está nos dias difíceis. Ah sim, demos um nome para os surtos e ataques de pânicos. "Os dias difíceis" são difíceis porque todos temos que estar alertas para qualquer tipo de situação que pudesse ocorrer. Foram quatro tentativas de suicídio e três de fuga. Não conseguíamos a controlar na maioria das vezes e quando as coisas fugiam da nossa alçada, quando nem Hardin com as canções de ninar a acalmavam, tínhamos que chamar Mason.

Emery o chamava durante o sono e quando os pesadelos se intensificavam, pedia para que tirassem as mãos dela, se debatendo e muitas vezes se machucando. Tudo isso a fez desenvolver uma síndrome de automutilação que a fazia se beliscar involuntariamente. Quando ficava nervosa e ansiosa, beliscava os braços e as palmas das mãos tão forte que deixavam pequenos círculos roxos. Tentamos de tudo... Os melhores psicólogos da cidade, os melhores psiquiatras e neurologistas. O único que a fazia dormir a noite inteira era Mason.

A vontade de Hardin era morrer quando o via acariciá-la, brigamos diversas vezes e em quase todas, Hardin saía e só voltava no dia seguinte. Eu procurava não me preocupar muito porque ele nunca voltava bêbado, às vezes cheirava a cigarro, mas nada que eu não procurasse entender. Eu também não me sentia bem com essa situação, não conhecia Mason da forma como eu queria, ele não se abria com ninguém, dificilmente falava dentro de casa e sempre que abria a boca era para brigar com Hardin. Nunca disse nada sobre de onde era e onde morava. Por mais que eu quisesse perguntar e saber de sua história, ainda sentia que era muito recente.

Até o último acontecimento do mês.

"Mãe, a Emery se trancou no banheiro!" Auden desceu as escadas, tropeçando nos degraus lisos e quase batendo as costas no chão. Seu rosto estava pálido e sua respiração ofegante. Larguei a revista que estava lendo no sofá e gritei Hardin na cozinha.
"Hardin!" meu grito saiu mais alto do que o esperado e senti minha voz vacilar, subindo as escadas em dois degraus de cada vez, segurando no corrimão de mármore. "Filha, a mamãe já está indo meu amor! Eu já estou indo!" Gritei mais uma vez, sentindo minhas mãos formigarem e um amargo inundar toda minha boca. A sensação daquele medo familiar tomou meu estômago e já não conseguia ficar em pé com firmeza.
"Emery, filha!" A voz de Hardin era distante no corrimão, enquanto eu me aproximava da porta do banheiro e batendo em murros fortes na madeira.
"Meu amor, a mamãe está aqui. Eu vou fazer o bolo de banana que você tanto gosta." Minha voz estava embargada e trêmula e as palavras saíam apressadas, mais como uma súplica. "Abre a porta para mim, meu amor. Vamos lá para sala."
"Emery! Abre essa porta!" Hardin gritou atrás de mim, socando-a várias vezes, sua respiração era rápida no meu pescoço e a boca estava entreaberta como para buscar o ar que lhe faltava. "Emery! Me responde, abre essa porta!" Ele gritou mais alto, sua voz ficando mais grossa e quando o olhei, Hardin não estava mais lá. O que eu via era a fúria e o ódio em seus olhos, a preocupação estampada no rosto e eu sabia que não poderia fazer mais nada.
"Eu vou ligar para o Mason." Me afastei, prevendo o que aconteceria.
"Caralho Theresa!" Ele socou a porta mais vezes. "Você não vai ligar para ninguém, porra! Você está enlouquecendo!" Eu não via mais nada se não dois pares de esmeraldas em chamas me encarando. Eu não me importei, não liguei para o que ele dizia.

After 6: Depois da calmaOnde histórias criam vida. Descubra agora